segunda-feira, 25 de julho de 2022

sábado, 16 de julho de 2022



RAIOS E TROVÕES

 

Ela chegou junto com a tempestade, olhos grandes, curiosos, profundos, assustados. Cabelos revoltos, soprados pelo vento que trazia o frio outonal. Sua boca pequena, perfeita, lábios delineados, por um batom de uma cor um pouco mais escura que o tom da sua pele. Curiosamente seu cabelo castanho avelã, parecia misturar-se ao cinza da tempestade.

Fiquei ali, parado olhando para ela, feito um babaca. Enquanto a nossa volta o mundo parecia desabar. Pela primeira vez na minha vida fiquei sem reação, o que fazer, que decisão tomar, quem era eu? Parte da minha mente dizia: socorre a moça”. Mas minhas pernas não obedeciam, o cérebro estava fixo naqueles olhos castanhos da cor da tempestade. A natureza sublime em sua perfeição, escolheu aquela hora, aquele lugar, para apresentar-me a minha amada.

Ela, a mãe natureza, em meio a sua fúria, dizia:

Pega. Estou te oferecendo a minha obra perfeita, a minha mais nobre criação. Quem seria ela? Suas roupas simples, porém elegantes. Será que já a vi em algum lugar? Ou ela foi literalmente soprada na minha frente?

Fiquei ali parado, segurando a porta da minha choupana. Uma parte de mim sabia que precisava entrar e abrigar-me, mas a outra metade não conseguia mexer sequer um músculo. Eu estava hipnotizado. A mãe natureza já estava impaciente com minha indecisão, pois soprou com mais força ainda o vento. Mas para mim, não existia tempestade na natureza, apenas aquela que se formou dentro de mim. E como se a mãe natureza dissesse:

Se mexe imbecil!

Um trovão se fez ouvir seguido de um raio que riscou as nuvens e veio parar a poucos metros de onde a moça estava. Nada que lhe oferecesse algum perigo real.

— Santa mãe!

Exclamei assustado, enquanto corri para alcançar a moça no exato momento em que ela desequilibrada com o susto, estava prestes a desabar numa poça de água.

Só agora me dei conta que chovia e que ela estava toda molhada. E de seus lábios saiu um som divino, meloso.

— Obrigada por me salvar.

Eeeuu, eeuu.

Para de gaguejar na frente da moça, pensei comigo.

Eu não me lembro quem sou, respondi sem tirar o meu olhar dos olhos cor da tempestade.

No céu um novo clarão, e a luz caiu aos meus pés… Acordei no hospital ouvindo minha mãe dizer:

— Tu é doido é! O que tu queria fazer, abraçando a árvore no meio da tempestade?


****

A autora do conto Raios e Trovões, Ironi Jaeger, é escritora e coordenadora do Festival de Literatura e Artes Literárias — FLAL.

quinta-feira, 7 de julho de 2022

 

    


CRÔNICA POÉTICA

(Homenagem à minha mãe Ilma de Jesus Silveira Nunes)

 

Quando se conhece uma cidade, se conhece seu povo, sua cultura e sua beleza, seus causos e de novo suas lendas com certeza!

Assim foi com minha mãe que foi morar ali em Alvorada, uma pequena cidade, mas grande de riqueza na gauchesca tradição!

Sua casa ficava localizada no meio da natureza, no Jardim Aparecida, era o seu quintal, um paraíso belo com árvores e flores, plantas como essencial, ela que adorava, todas tão multicores!

Adotou esta cidade que fez sua felicidade!


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Roselena de Fátima Nunes Fagundes – Camaçari (BA)

Natural de São Gabriel/RS. Radicada em Camaçari/BA. Professora, pedagoga e psicopedagoga. Escritora e poetisa. Crônica Poética foi publicada no livro CONTOS DE ALVORADA (coletânea de contos e crônicas do Clube dos Escritores de Alvorada,  comemorativa de vinte anos, Editora meia-noite, 2021).

 

 

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Aos amigos do CEA informamos o nosso e-mail. Enviem textos, comentários, fotos, crônicas, contos, poemas para literatosalvorada@hotmail.com


A procura 

(Marisa Amorim)


Não pertenço ao seu mundo

Não trilhamos a mesma estrada

Meu futuro é um torvelinho

Que gira cada vez mais fundo

Em direção ao nada.

Procuro uma ponte

Um ponto, um caminho

Que vislumbre novo horizonte

E me direcione para sua alvorada.

***

Marisa Camargo Amorim Santos

Nascida e residente de Itapeva, São Paulo, é sócia-correspondente do CEA. Participou de várias antologias e empresta seu talento homenageando com sua poesia a cidade gaúcha. Este poema foi publicado no livro Primavera Poética (edição de setembro de 2002, em homenagem à primavera e ao 37º aniversário da Cidade de Alvorada).

 INÚTIL

(Claudete Costa)
Eu queria sair da tua vida,
me arrancar do teu corpo,
escorrer pela noite, e deixar de ser
este líquido pegajoso que te gruda os olhos,
que te cala a boca,
que te cola a sombra, que te torna imóvel
que te atiça os medos...
Eu queria arrancar minhas células
Da tua carne, e liberar teus passos,
Cruzar a porta e dizer:
"tô indo, seja feliz sem mim",
já que comigo, o dia é preocupante
e a vida te grita ao ouvido:
Anda. Corre. Faz. Não para. Não há tempo!
O tempo te falta agora e a
vida te cobra cada respiração...
Eu abri a tua porta para o mundo,
E não tem volta...
Aí se torna tão inútil, essa tentativa
Louca de desgrudar de você...
Te deixar livre do Karma,
Mas, se eu for agora, vou levar
Teus pedaços, teu cheiro na pele,
Tua alma tão misturada na minha...
Vai ser inútil!
***
Claudete Teixeira Costa, jornalista e radialista. Escolheu o município de Alvorada para viver, onde foi Secretária de Cultura e Desporto. Tem dois filhos e um neto.