Ela chegou junto com a tempestade,
olhos grandes, curiosos, profundos, assustados. Cabelos revoltos, soprados pelo
vento que trazia o frio outonal. Sua boca pequena, perfeita, lábios delineados,
por um batom de uma cor um pouco mais escura que o tom da sua pele. Curiosamente
seu cabelo castanho avelã, parecia misturar-se ao cinza da tempestade.
Fiquei ali, parado olhando para ela,
feito um babaca. Enquanto a nossa volta o mundo parecia desabar. Pela primeira
vez na minha vida fiquei sem reação, o que fazer, que decisão tomar, quem era
eu? Parte da minha mente dizia: “socorre a moça”. Mas minhas pernas não obedeciam, o
cérebro estava fixo naqueles olhos castanhos da cor da tempestade. A natureza
sublime em sua perfeição, escolheu aquela hora, aquele lugar, para
apresentar-me a minha amada.
Ela, a mãe natureza, em meio a sua
fúria, dizia:
“Pega. Estou
te oferecendo a minha obra perfeita, a minha mais nobre criação.” Quem seria ela? Suas roupas simples, porém elegantes. Será que já
a vi em algum lugar? Ou ela foi literalmente soprada na minha frente?
Fiquei ali parado, segurando a porta da minha choupana. Uma parte de mim sabia que precisava entrar e abrigar-me, mas a outra metade não conseguia mexer sequer um músculo. Eu estava hipnotizado. A mãe natureza já estava impaciente com minha indecisão, pois soprou com mais força ainda o vento. Mas para mim, não existia tempestade na natureza, apenas aquela que se formou dentro de mim. E como se a mãe natureza dissesse:
“Se mexe imbecil!”
Um trovão se fez ouvir seguido de um
raio que riscou as nuvens e veio parar a poucos metros de onde a moça estava.
Nada que lhe oferecesse algum perigo real.
— Santa mãe!
Exclamei assustado, enquanto corri
para alcançar a moça no exato momento em que ela desequilibrada com o susto,
estava prestes a desabar numa poça de água.
Só agora me dei conta que chovia e
que ela estava toda molhada. E de seus lábios saiu um som divino, meloso.
— Obrigada por me salvar.
— Eeeuu,
eeuu.
Para de gaguejar na frente da moça, pensei comigo.
— Eu não me lembro quem sou, respondi sem tirar o meu olhar dos olhos cor da
tempestade.
No céu um novo clarão, e a luz caiu
aos meus pés… Acordei no hospital ouvindo minha mãe dizer:
— Tu é doido é! O que tu queria fazer, abraçando a árvore no meio da tempestade?
É um prazer postar o conto da Ironi Jaeger, aqui no blogue do CEA, essa escritora incrível e coordenadora do evento literário FLAL.
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