quinta-feira, 21 de dezembro de 2023


PARA SEMPRE

Eu era um adolescente
quando você entrelaçou suas mãos com as minhas
pela primeira vez.
A ti confessei meus sonhos,
em teu seio debrucei minhas angústias
explicitei as desilusões pretéritas.
Na perda dos meus pais, de amigos, familiares
Busquei consolo em ti.
Na realidade acho que não mais nos separaremos,
pois por mais que eu dialogue com outras formas de arte,
foi em ti POESIA que fragmentei minha alma,
meu jeito de ser, pensar
e acima de tudo ESCREVER.


Poema PARA SEMPRE, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

 

HORAS MORTAS

Fim de tarde, o sol querendo descansar, a revoada sagrada da passarada, o ensaio da noite para entrar em cena, as estrelas bailando no firmamento e a prosa solta na Venda do Seu Zezé.
estavam ali há horas e de tudo ou quase tudo já haviam falado. Do plantio que estava uma maravilha e até do caudaloso Córrego da Saracura que estava dando muito peixe e era a caixa d’água da região.
O Zé Teixeira com a viola no peito, ponteando baixinho para escutar e o Buda Borges tirado a raizeiro, falando das plantas do cerrado e também dos peixes que pegava e do tamanho, dá pra entender que ele exagerava, pois, era o vantageiro da região - como falavam na corruptela. O Mandruvachá num cantinho assuntando a prosa, pois, já havia vendido os seus queijos e estava ali para um breve descanso. Sem falar no Silvalino que contava da criação de frangos, gansos e galos índios, que ele cria com muito amor.
De repente o Silvalino:
— Óia gente. Eu vô imbora. Tá iscuriceno e a nôte tá iscura e eu moro longe.
O Buda que ouvira aquilo foi logo retrucando:
— Ta cum medo Silvalino? Dêxa de froxura home! Medo de quê?
O Silvalino já de pé:
— Das zora morta sô! Num abusa não!
E saiu sertão afora num pangaré que havia comprado do Pedrosinha e este estava velho e cansado e que o Pedrosa o vendeu à noite ao Silvalino pra não perceber os dentes do coitado do cavalo; que só tinha um.
Logo o Zé Teixeira silenciou a viola e entrou na conversa e:
— Eu num tenho medo de nada. Sô um cabra do sertão e do pé rachado e ando quarqué hora do dia ô da nôte. Medo pra mim é lixo.
O Vendeiro Seu Zezé debruçado no balcão logo entrou no assunto:
— Ocê, Texêra? Medroso e dos maióre, fala isso pa mode contá vantage.
O Mandruvachá lá no cantinho caladinho, só de ouvidos na prosa, logo diz:
— Eu num abuso. Nas zoras morta tem sombração e coisa dôto mundo em todos os lugá.
O seu Zezé que gosta de uma aposta foi logo desafiando o Zé Teixeira:
— Ô papudo! Já cocê é corajoso, vamo apostá 500 rialo? Aqui tá o meu cascaio. Bota o seu aí e porva que num tem medo.
O Zé Teixeira tirou um pacote de notas do bolso e botou em cima das notas do seu Zezé e:
— Tá aí seu rato do sertão. Vô te mostrá a minha corage. Vô trazer uma cruz do cimetéro e num vô demorá. Vamo vê essa tale de horas morta.
O Mandruvachá ouvindo aquilo despediu do pessoal e falou baixinho:
— Quero vê se esse parrudão num tem medo num tem medo das zora morta. Vô iscondê atrais duma sepurtura.
O Mandruvachá montou em na mula Trifôia, que comia três folhas de capim por dia e saiu em disparada rumo ao cemitério.
E chega o Zé Teixeira ao cemitério. Já tinha tomado umas três lambadas de cachaça e adentra no Campo Santo e vai em direção a uma cruz. Quando ele pega numa, uma voz:
— Esta é minha!
Apavorado ele vai até a outra e novamente a voz:
— Essa é minha, moço!
No desespero ele pegou uma das cruzes e saiu em disparada feito um catingueiro rumo ao boteco.
Ao chegar ao boteco ele suado e cansado de tanto correr, joga a cruz em cima do balcão e :
 Taí a Cruiz e o dono dela vem aí atrais! Tô cascano fora!
Os que estavam no boteco saíram em disparada seguindo o seu Zezé que gritava:
— Me perdoa! Meu Deus! Nunca mais eu brinco com as zoras morta!
O Mandruvachá que vinha atrás e em risadas pegou o dinheiro e sumiu sertão adentro. Dizem que o Seu Zezé voltou e ao sentir a falta do dinheiro:
 É! Dexô a cruis e levô nosso cobre. Deve sê pa mode comprá ôta cruis nova.
Segundo os moradores da corruptela, o Seu Zezé ficou muitos dias sem ver os seus ilustres fregueses.
Coisas do sertão!
Inté!


SOBRE O AUTOR

Antônio de Fátima Silva, o Mestre Tinga das Gerais, natural de Corinto-MG, poeta, ator e cantor e na estrada há 35 anos. Participou de vários festivais, sendo premiado com o conto "O Caboclo e o Barranqueiro", atuou no curta-metragem "Um outro Tiradentes" e no longa "A História das Três Marias", da cineasta Zakia Daura.

sábado, 9 de dezembro de 2023

 

DICA DE LEITURA:

VOZES ALVORADENSES é uma bela antologia, organizada pela escritora Cristina Ribeiro. Com diferentes gêneros textuais, o livro reúne treze escritores do município de Alvorada, RS. Arte, cultura popular e literatura em uma única obra!

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quinta-feira, 7 de dezembro de 2023


 CONTRADIÇÃO 

Desde muito conhecida esta incompatibilidade lógica,
Que atinge duas ou mais de nossas proposições,
Em qualquer área do conhecimento, inclusive a biológica,
Gera, ao mesmo tempo, duas opostas conclusões.

Produz algo que é e que não é, no mesmo sentido,
E ainda que não percebida por um leitor mais distraído
Será através da Lógica Clássica detectada
E pela Tautologia Retórica, a seguir, contraditada.

Mas, afinal, existe ou não essa tão temida contradição?
A verdade e a falsidade podem conviver na lógica de opostos jogos?
Um atributo pode, ao mesmo tempo, pertencer e não ao objeto?

A incoerência no mundo sendo a verdadeira representação
Da expressão de um único e indivisível Logos
Revela, assim, meu caro leitor, o seu enredo mais secreto!


SOBRE O AUTOR 
O escritor Jober Rocha é economista, com mestrado e doutorado pela Universidade de Madrid, Espanha. Foi premiado em vários concursos literários tanto no Brasil quanto na  Espanha e Portugal. Também é autor de diversos livros publicados em WEBTVPLAY.

 


CAPTANDO

Capto das canções de outras histórias,
sentimentos que tive 
ou que gostaria de ter.

O perfume das flores inebria-me,
mas também me detenho diante 
do fétido odor da intolerância,
da concretude da falta de amor.

Ser poeta é ser um nervo exposto,
é ser uma esponja que absorve
os dissabores, mas acima de tudo
os amores que pavimentam o mundo.


Poema CAPTANDO, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).