domingo, 25 de agosto de 2024
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
ANIVERSÁRIO GÓTICO
sábado, 21 de setembro de 2024
Eu não gosto quando alguém diz isso. Sobre afirmar o que é verdade ou verdadeiro, é fácil de mais dizer. Quem vai assumir que defende a mentira? E quem vai provar o que é verdade? É óbvio que qualquer um sempre vai dizer que fala e defende a verdade.
Os homens de verdade, os de verdade, os verdadeiros. Ainda alguém pode falar: eu sou verdadeiro e isso é o que importa pra mim. Mas quem foi que disse que essa máscara que você usa não dá pra ver de dia ou de noite?
Verdade é uma questão filosófica difícil.
Para Sócrates a busca da verdade era feita por critérios lógicos que buscavam parâmetros universais. Se algo é verdade não deve ser relativo. Assim os seus principais inimigos eram os sofistas, mestres na arte da retórica, os quais não se preocupavam com buscar a verdade. Eles tinham o objetivo de convencer as pessoas com qualquer argumento que demandasse objetivos. Sendo assim, verdade era um ponto de vista.
Entretanto para Nietzsche, que odiava Sócrates e admirava os sofistas, a verdade e o seu conceito eram mais uma das correntes que o Homem moderno carregava. Dizia ele que foram mortas mais pessoas em nome de verdades absolutas do que pelas perguntas e dúvidas.
Eu não acredito em discursos que defendem a verdade. Eu aprecio os desenvolvimentos que demostram o que é real.
Se um dia a verdade absoluta gerou estagnação e fanatismo, e depois o relativismo gerou insegurança, hipocrisia e depressão, hoje talvez seja a hora de uma discussão sobre as dimensões da realidade em evolução dialética com as verdades que nós herdamos.
O homem e a mulher que pensam têm a capacidade de refletir fora de padrões mentais que desenham o mundo antes da nossa ação ou ideia. Observando as contradições em cima dessas verdades, nasce a flor infame e tardia da antítese, a negação do que sempre acreditamos.
Infelizmente essa reflexão tem um caráter filosófico que não é do costume do senso comum se propor a chegar. E ao contrário da auto ajuda, nem sempre gera felicidade: derrubar mitos e crenças pode ser desalentador.
Defender a verdade, então, não é uma questão de honra se nós não provamos que essa verdade é de fato uma realidade, e não uma construção emocional e egocêntrica nossa. Talvez seja difícil, mas quem vai duvidar que é libertador?
sábado, 5 de abril de 2025
A FLORESTA DOS MORTOS (Parte I)
Tudo começou com a morte do meu velho pai quando eu ainda era criança. Fiquei muito triste, como não poderia deixar de ser, mas minha querida mãe na época entrou em depressão profunda, apesar de não aceitar. Meu pai era um homem tranquilo e gentil, lembro dele com a sua marreta quebrando algumas pedras que atrapalhavam o seu belo jardim e plantação de alfaces nos fundos da nossa casa. Ele trabalhava na lavoura em terras arrendadas, era forte e eu o admirava, quando ficou doente nada restou do homem que um dia fez um jardim e quebrava pedras. Minha mãe, após o sepultamento, começou a apresentar comportamento errático e falho, taciturno e, por fim, totalmente apático. Sentava-se na sua cadeira na varanda, ao lado da cadeira vazia do meu pai, e ficava horas olhando para uma grande figueira ao lado da casa, e às vezes para a floresta que ficava mais além de um campo no final da nossa rua. Depois de algum tempo ela simplesmente começou a dizer que as coisas iriam melhorar. O local onde morávamos era uma vila agrícola que abastecia as cidades vizinhas, chama-se Vila do Sacramento, mas todos apenas chamavam simplesmente de vila, como se o lugar por não ser grande o suficiente não merecesse um nome. Havia poucas famílias, diziam que eram os descendentes dos moradores que vieram ocupar o lugar no início do século passado. Certamente os meus familiares de gerações passadas estiveram por ali, derrubando árvores, cortando mato e fazendo suas moradias. A nossa casa tinha pertencido ao meu avô, o pai da minha mãe, era de madeira gasta pelo tempo, e a pintura branca estava sempre descascando, ficava no final da rua onde estava a maldita figueira.
(Continua...)
segunda-feira, 28 de outubro de 2024
domingo, 25 de agosto de 2024
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
Anteriormente eu havia explanado em uma introdução das minhas crônicas da juventude sobre a concepção cosmológica aristotélica. Sendo o universo uma máquina que funciona de forma integrada e harmônica todos nós nasceriamos com posições já definidas para ocupar nessa ordem. Quanto mais conseguimos nos ajustar a essa condição, mais manifestamos a “eudaimonia”, termo que Aristóteles cunhou para explicar o que podemos entender por realização pessoal.
Desta maneira, quando um artista é obrigado a em algum tempo de sua vida a dedicar-se a atividades diferentes da sua, acaba manifestando a tristeza, pois esta fora de seu lugar no cosmos. Mas quando exerce sua expressão artística e de sua interação com o público surge a alegria, podemos dizer que este ser humano manifesta um sintoma ainda com mais extensão: a felicidade.
Cada um de nós viria com um dom para o mundo, uma virtude especifica e particular que contribui para o todo universal, e o fogo disto em nossas mãos é uma batalha por glória e afirmação, onde buscamos a todo tempo por sentimentos confusos como prazer e satisfação. O que pensei em trazer em minhas histórias é um pouco do dom de cada um que passou por mim, que com seu brilho contribuiu para o cosmos de maneira particular e única.
A era moderna viria a provar que universo não é cosmológico, mas a relação de bons afetos com o mundo ainda é feita por uma leitura de integração com a natureza, mesmo que seja em seus desdobramentos caóticos. Logo, escrevo com referencias poéticas, sobre as loucuras que fizemos em tempo e lugar desolados, mas nós enxergamos estrelas no chão da cidade.
「●」「●」「●」
No inicio dos anos 2000, época que todas as minhas aventuras começam, havia uma pequena casa de dois andares no alto do morro nos limites da cidade de Alvorada. Era um lugar abandonado de propriedade da família de um amigo. Assim como a praça da 48, a “casinha” é um cenário constante em histórias do passado. Lá nos encontrávamos à luz de velas, bebíamos e cheirávamos solvente, não haviam drogas pesadas. Na verdade eram realizados verdadeiros sabás, pessoas de diferentes pontos da cidade se dirigiam até lá, entre punks de Porto Alegre, hipies e desajustados como eu.
O movimento underground da época existia como uma decadente lembrança dos anos 80 e 90, e nós refletíamos ainda ecos dessa época. Entretanto tudo o que foi feito tinha referencia a depressão da cidade: desemprego, pobreza, exclusão social, etc. Assim em nossos encontros além da loucura frenética havia o pano de fundo de uma sociedade falida onde a realidade teve que ser criada o tempo todo. Uma casa abandonada teve que transforma-se em nosso santuário, e em noites inesquecíveis contamos uns para os outros sobre nossas vidas.
A casinha ficava no alto de um morro, quem olhar de longe em algum ponto de Alvorada para o leste, pode notar até hoje uma gigante caixa de água da empresa estatal CORSAN. Era exatamente nesse ponto. Nos dirigíamos pra lá em caravanas a pé, entre cinco a oito pessoas. Ao chegar no lugar pela primeira vez tive a impressão de que era uma bobagem estar em uma casa abandonada sem luz elétrica. Algumas pessoas estavam sentadas bebendo, havia uma cama velha com um coração desenhado próximo a ela, seria a “cama do amor”. Uma garota me pediu cigarros, eu como sempre não tinha. Um amigo gritou algo do andar de cima, a noite estava começando.
La me contaram coisas intrigantes sobre o antigo dono da casa que seria um pesquisador acusado de loucura, e também sobre magia Wicca, meditação e transferência de pensamento, as histórias sobre as lendas do rock sempre apareciam com uma mística que hoje não temos na época da internet. A quebra do paradigma era uma constante em nosso meio, e a música era uma extensão de um estilo de vida.
A busca do prazer a todo o custo não raras vezes deixa um vazio maior dom que podemos suportar, haviam histórias de depressão, grandes paixões, suicídio, HIV, morte e sumiços.
Para entrar na casinha após uma longa caminhada bastava ultrapassar uma cerca quebrada de madeira.
Certa vez decidimos fazer uma sopa. Arranjamos uma grande panela, legumes, um pouco ou quase nada de carne. Nesta noite olhando o fogo reparei que minha amiga “Maninha” me parecia uma feiticeira. Minha alucinação era uma viagem que eu realmente conseguia refletir dentro. Um outro amigo, chamado “Urso”, em virtude de seu tamanho, se postou a minha frente, reparou que eu estava deslumbrado com tudo e totalmente sugestionável. Ele pegou algo em sua mão e ateou fogo, com uma a pequena chama entre os dedos, engoliu o objeto como se fosse uma pipoca flamejante. Eu olhei assustado, e me mostrou uma tatuagem que tinha em seu braço, era um circulo com algo dentro e algo fora. Finalmente com ar solene de um xamã se pronunciou:
— Isto representa o lugar de onde eu vim, e este risco fora do circulo é minha queda do céu para o mundo.
Naquela noite, entendi que éramos como anjos caídos. Eu não conseguia dizer muita coisa naquele tempo, minha posição era de aprendizado. Em tempos assim aprendemos tudo que se precisa para amar o mundo, o resto a ciência e a técnica ensinam. A casinha esta na minha lembrança como o lugar que a liberdade da juventude só podia levar a espíritos como foram os nossos. E em algum lugar ainda queimamos na fogueira daquelas noites...