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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

 

Sessão de autógrafos neste sábado, 12 de novembro, às 19h.
Praça de Autógrafos - Feira do Livro de Porto Alegre
Escritores Sérgio Vieira Brandão & Helô Bacichette

quinta-feira, 8 de agosto de 2024


LIVRO INFANTIL
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Leitura do livro infantil HISTÓRIA DE NATAL, do escritor Sérgio Vieira Brandão,  realizada pelo canal do Youtube CONTO GENIAL

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

 

DOBRADURAS
As classes estavam dispostas em círculo, na turma B, da Quarta Série. A professora ensinou como fazer um cisne, com dobradura.
— O que era isso antes de fazer as dobras? — A professora perguntou.
 Papel — a maioria respondeu.
— O que ficou?
 Um cisne.
 Como conseguimos isso? 
 Dobrando.
 Primeiro transformamos num quadrado e depois?
 Dobramos e virou um triângulo, e depois um cisne. 
A professora pediu que comparassem a dobradura com a vida.
— Nós também nos transformamos — respondeu um menino.
— Quando a gente nasce não tem cabelo, nem dente, só chora — disse uma menina.
A professora concordou com as afirmações e comparou as transformações que passam os nossos corpos, assim como a folha.
Quase todos acompanhavam a atividade com muito interesse, menos uma menina: o olhar distante, enxergando longe ou olhando para dentro dela mesma.
A professora desmanchou a dobradura.
 O que ficou aqui?
 Voltou a ser papel  — muitos responderam.
A menina continuava do mesmo jeito.
Todos na escola conheciam a sua história. O pai estava envolvido com drogas e fora preso; a mãe, ela não conhecia; a madrasta, quando o pai foi preso, desapareceu também.
A professora chamou-a, abanando a folha que fora dobradura e tornara a ser folha novamente: 
— Marina, o que ficou aqui?
A menina permaneceu calada; o rosto contraiu-se um pouco. A professora insistiu na pergunta e ela respondeu, olhando pro papel:
— As marcas.
Terminou a aula.


Sérgio Vieira Brandão, nascido em Alvorada, RS, é escritor, professor, psicólogo e empresário. Mora em Tramandaí, RS (sergio.escritor@gmail.com).
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Conto publicado, em 2004, no livro ACONTECEU NA ESCOLAcoletânea de contos, Ísis Editora. 

sábado, 21 de setembro de 2024

 

O velho acordou com aquela música de ritmo mais lento do que o seu pulso. A mão estava sobre o peito, o coração batucava: sim-não, sim-não. Não reconheceu quem falou "Vivaldi: L'Estro Armanico, opus dois; concerto número cinco em dó maior" e nem teve certeza de que ouvira isso. Quis pegar os óculos que deixara na cabeceira, mas seus ossinhos de pintassilgo não se mexeram. Não-não, não-não.


Sérgio Vieira Brandão, nascido em Alvorada, RS, é escritor, professor, psicólogo e empresário. Mora em Tramandaí, RS (sergio.escritor@gmail.com).
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Conto publicado, em 1997, no livro A MÚSICA DOS CORPOS, coletânea de contos, Editora Mercado Aberto. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

 

FLAL: Mistura histórias de vida (da sua e de outras) com histórias imaginadas?

ANDERSON VICENTE: O escritor, por mais que escreva ficção (que é o meu caso) acaba trazendo a sua vivência nas obras que escreve. Os personagens são um exemplo disso. Os personagens que criamos não são uma extensão da vida do autor. Têm características próprias. São seres únicos. No entanto, quanto mais verdadeiros pareçam, mais aspectos da vida real eles têm.

FLAL: O que te levou a começar a escrever? Quando foi isso?

ANDERSON VICENTE: Escrevo desde garoto. Gostava de escrever histórias. Na adolescência, passei a escrever poemas. Na época, ainda não pensava em ser escritor. Somente aos 18 anos — a partir de uma oficina literária, ministrada pelo escritor Sérgio Vieira Brandão —, tive mais contato com o conto. Melhor dizendo, com a escrita do conto. Ali, cresceu meu interesse em escrever literatura.

FLAL: A música influencia você?

ANDERSON VICENTE: Depende. A vida influencia o autor. É no cotidiano que surgem ideias. E as ideias podem vir quando eu ouço uma música ou leio uma notícia no jornal. O escritor está sempre à procura de uma boa ideia. Uma boa música, seja erudita ou não, pode ajudar. As canções carregam consigo mensagens, força e sentimento. Embora, na maior parte do tempo, o escritor prefira o silêncio e a solidão para criar.

FLAL: Dizem que o sonho de todo escritor é publicar um livro físico com editora renomada. Você concorda? É seu sonho também? Já realizou? Acha importante para o curriculum de escritor?

ANDERSON VICENTE: Todo escritor almeja a leitura, do que escreveu, por outras pessoas. O livro continua sendo o maior sonho. Ter um livro físico publicado e lido por muitos leitores é uma grande conquista. Existem, no entanto, várias formas de publicações. Mas a tradicional, onde uma editora acredita e aposta em seu trabalho, creio que seja a maior busca. Escrever é uma constante. Tenho mais textos inéditos ou sendo escritos que publicados. Muitos estão na fila de espera de editoras. Ou foram recusados. Acredito, sim, que seja importante para o currículo.

FLAL: Estamos vivendo uma era tecnológica, livros estão sendo descartados, ler está quase supérfluo. Você apontaria algumas estratégias para que a leitura não ficasse tão aquém dessa realidade?

ANDERSON VICENTE: No mundo de hoje, a tecnologia está muito presente. Fica difícil imaginar a vida sem aparelhos celulares, aplicativos e redes sociais. A vida, também, parece estar mais corrida. Existe muito mais a sensação de falta de tempo do que há vinte anos. Estamos sempre correndo, apesar da tecnologia. E, isso, influencia na leitura. Para ler é preciso tempo. Mas o tempo está mesmo escasso? O dia ainda tem as mesmas vinte e quatro horas de décadas atrás. Embora sebos e livrarias tenham perdido espaço para lojas online, as vendas continuam. Leitores adquirem livros. O que, claro, devemos estimular é a leitura desde cedo. Começando em casa. Criar uma cultura de leitura e uma sociedade leitora é importante.

FLAL: O que o faz continuar escrevendo, se no nosso país, literatura estrangeira ocupa cada vez mais espaço, principalmente entre os jovens?

ANDERSON VICENTE: O escritor brasileiro escreve bem. Produz literatura de qualidade. O que nos falta é incentivo. Divulgação. Os livros estrangeiros costumam ter uma distribuição maior. As tiragens de um livro, aqui, não se comparam a determinados países de língua inglesa, como o EUA, por exemplo. Mas essa realidade não é apenas na literatura, ocorre, de forma em geral, com a produção cultural. Cultura, ainda é pouco valorizada no país. O espaço ao sol existe para poucos. Mas escrever faz parte da vida de qualquer escritor.

FLAL: Costuma ler seus livros depois de publicados? Se sim, sente-se feliz ou acha que poderia ter escolhido outras palavras, outros personagens...ter feito melhor?

ANDERSON VICENTE: Leio, sim. Geralmente, embarco na história. Gosto da leitura. Um texto, no entanto, pode ser escrito e reescrito indefinidamente. O escritor revisa e reescreve até o ponto em que a obra pode seguir adiante. Mesmo assim, após um tempo, em uma leitura mais acurada, sempre encontrará algo que poderia ser melhorado. Não na história, mas no texto. Uma vírgula que faltou. Ou, quem sabe, o olhar. Nosso olhar muda. Um texto, de certa forma, é produto de seu tempo. De quando foi escrito. E é preciso respeitá-lo.

FLAL: Qual o sentido de escrever nesses tempos robóticos? Acredito que seja mais desafiador.

ANDERSON VICENTE: Exige autodisciplina. Escrever no computador é um desafio enorme. Basta um clique no mouse para perder o foco. As facilidades que a tecnologia e a Internet nos trazem, também aumentam o desafio na hora de criar. É preciso saber equilibrar. Muitas vezes, escrevo um esboço no papel, antes de digitar no teclado. Evito ligar o celular. Claro, hoje, textos e ilustrações podem ser criados com Inteligência Artificial, mas não creio que o protagonismo do escritor ou do ilustrador possa ser substituído.

FLAL: Quais histórias ainda estão engavetadas? Pretende publicar?

ANDERSON VICENTE: Tenho vários manuscritos. Poemas, contos, crônicas e novelas. Uns terminados, outros por finalizar. Pastas com folhas avulsas, de textos que escrevi. Muita coisa no computador: projetos que pretendo continuar escrevendo. Livros para o público infantil. E alguns, já prontos, em busca de editoras para publicá-los.

FLAL: É possível viver da literatura? Dá para pagar as contas?

ANDERSON VICENTE: É possível. Conheço escritores que conseguiram essa façanha. Mas não foi de uma hora para outra. Geralmente, levaram um longo tempo até chegarem nesse patamar.


Anderson Vicente é escritor, gestor ambiental e formando em História. Reside em Alvorada, RS. Foi um dos fundadores do Clube dos Escritores de Alvorada — CEA. Participou de diversas coletâneas, escrevendo contos, crônicas e poemas. É autor dos livros juvenis Às voltas com a caveira e Na trilha dos zumbis.
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Entrevista para o Festival de Literatura e Artes Literárias, FLAL, postada na página do facebook, em 15 de outubro, e perguntas dos internautas ao autor. 

sexta-feira, 5 de agosto de 2022


QUATRO AMIGOS E OS TERRÍVEIS CÃES GIGANTES
- livro dos escritores Sérgio Vieira Brandão e Helô Bacichette.

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Volver a los diecisiete
Después de vivir un siglo
Es como descifrar signos 
Sin ser sabio competente

Eu poderia começar essa história assim: "A primeira vez que vi Caine West foi em um café. Ela notou que eu estava encarando e deduziu que fosse um flerte. Quando veio falar comigo, coloquei-a na linha, exasperando tudo o que eu pensava sobre ela ser uma mentirosa, traidora e egocêntrica."
Mas essa não é a minha história, e sim a do livro ENGANO IRRESISTÍVEL, da escritora VI KEELAND. Mas então por que eu poderia começar a minha história imitando o romance "Engano irresistível"? Porque são muitas as semelhanças: a começar pelo envolvimento de um professor com uma aluna; as linhas tortas que separam os dois e as coincidências que juntam; a falta de comunicação entre eles  enfim, tudo que se traduz simplesmente pela famosa (e desgastada) "a vida imita a arte".
Eu poderia também começar essa história dizendo que "A última vez que vi Alana foi em um café". Mas é ruim começar uma história pelo final, pela última vez. Vamos começar de novo, então. 
A primeira vez que vi Alana foi em uma sala de aula da Escola Castro Alves, em Alvorada. Ela notou que eu a estava olhando, mas em vez de desviar o olhar (como faria qualquer estudante tímida) ficou me encarando.
Eu era o professor de Matemática, recém chegado naquela escola; Alana, mais uma adolescente a assistir as minhas aulas.
Seria muito demorado explicar a forma como se deu a nossa aproximação. Não tinha a menor chance de acontecer. Mas aconteceu.
Pegando carona nas coincidências, descobrimos que nossos pais eram originários da mesma cidade da fronteira  descoberta que se deu através do meu sotaque.
E foi do jeito mais adolescente que poderia existir que Alana se declarou apaixonada por mim: um bilhete grampeado na prova bimestral de Matemática.
Uma situação típica de escola: a aluna se apaixona pelo professor.
Alana era a menina perfeita para um relacionamento: discreta, bonita, inteligente, afetiva. Perfeita para qualquer adolescente, jamais para um homem de 40 anos, separado do terceiro casamento, com quatro filhos adolescentes para criar.
Mas ela não queria entender a realidade. E assim tivemos longas e cansativas conversas sobre isso, sentados na grama, à beira da Lagoa do Cocão.
Obviamente, que o maior erro tinha sido o meu. Não deveria, em hipótese alguma ter dado abertura. Mas tudo se resolveu quando eu fui chamado para dar aula num cursinho pré-vestibular em Novo Hamburgo. Assim, deixei Alana para trás e fui para uma oportunidade melhor de trabalho.
Acredito que Alana tenha sofrido  amor adolescente é penoso , mas quando a reencontrei, ela estava casada e tinha dois filhos. Tinham se passado dez anos. Eu chegara aos cinquenta e ela recém completara vinte e sete.
O reencontro foi num supermercado. Fui despejando as compras para a moça do caixa passar e só percebi que era Alana quando ela perguntou: "Mais alguma coisa, professor?" Conversamos rapidamente ali e combinamos que eu a esperaria: em meia hora terminaria o expediente dela.
No estacionamento do mercado ela iniciou dizendo que "não era mais a adolescente bobinha" que eu conhecera. Mostrou as fotos dos filhos e do marido. Contou como era feliz.
E eu senti, durante aquela conversa, que agora a situação invertera: eu sentia uma vontade muito forte de abraçá-la; de não me separar; de não passar mais dez anos longe. Ofereci-me para levá-la em casa, mas ela achou que o marido dela não gostaria. Nos despedimos ali, em meio aos carros que buscavam ansiosos uma vaga para estacionar. Daquele dia em diante pensava nela todos os dias. Mas nunca ousei ligar para o número de contato que ela me dera.
O fato de eu ter parentes morando em Alvorada sempre me trazia de volta à cidade. E por fim acabei reencontrando Alana. Mas dessa vez não foi por acaso: ela me procurou pelas redes sociais. Disse que precisava muito falar comigo. Marcamos o encontro como se tivéssemos nos visto há pouco  mas tinham passado mais de dez anos daquela nossa conversa no supermercado. Nos encontramos em um Café perto da Prefeitura.
A cada reencontro, Alana estava mais bonita. Naquele dia ela estava completando quarenta anos, e um fio de cabelo branco brotava bem no meio da cabeça. Mantinha o ar adolescente e o corpo em forma. Parecia um pouco ansiosa. Contou que a filha mais velha fora morar na Irlanda e o filho conseguira trabalho em São Paulo. Ela havia passado no concurso da prefeitura para Secretária de Escola e trabalhava na Escola Antônio de Godoy. Contou que havia se separado. Explicou os motivos da separação. Por fim, disse que nunca deixara de pensar em mim.
Levei aquilo na brincadeira. Disse que os bons professores são inesquecíveis; que ela sempre seria a minha aluna nota dez. Por fim, disse a ela que agora era eu quem estava casado novamente. Que a minha esposa era maravilhosa. Que estávamos pensando em adotar uma criança. E quanto mais eu mentia, mais perfeita ficava aquela história.
Nos despedimos ali mesmo. Ela não quis que eu a levasse em casa e disse: "Acho que a 'maravilhosa' não gostaria".
Ficamos de manter contato. Mas eu sabia que isso não aconteceria. Tenho certeza de que se eu falasse a verdade ela iria querer ficar comigo.
Cuidar de mim até o final. Mas sei que isso não seria o melhor para ela. Eu havia descoberto a minha doença há cerca de um ano, quando fiz os exames demissionais para iniciar a aposentadoria. Estava ciente da longa batalha pela frente: exames, tratamento, mais exames, mais tratamentos. E o prognóstico não era bom.
Não, eu não estava casado. Não tinha ninguém ao meu lado, nem mesmo os meus filhos (cada um seguira a sua vida). A vida seguiu seu curso; foi pisando tão forte que seria impossível voltar atrás.
Acompanhei os passos dela em direção ao ponto de ônibus. Vi quando ela ajeitou o fone de ouvidos. Não sei que tipo de música ela gosta. Qual a comida preferida. Alguma mania. Não sei quase nada dela. Mas agora já não adiantava mesmo. Paguei a conta, mas não saí. Fiquei ali sentado, olhando as pessoas que entravam e saíam do Café. O barulho da avenida atravessava as vidraças junto com uma luz azulada do neon que iluminava o Café. Para tornar o quadro mais deprimente só faltava uma música tocada por um violinista cego.
Forcei a atenção para tentar escutar a música que saía da caixa de som próxima, mas não consegui. O Café ficara cheio, e as vozes e risadas misturadas com os sons da rua não deixavam a música chegar com nitidez aos meus ouvidos. Ou talvez não fosse exatamente por isso, mas porque vinda de algum lugar a voz de Mercedes Sosa martelasse em meus ouvidos: "Voltar aos dezessete depois de viver um século/ É como decifrar sinais sem ser sábio competente/ Voltar a ser de repente tão frágil como um segundo/ Voltar a sentir profundo como um menino diante de Deus/ Isso é o que sinto neste instante fecundo."

Sérgio Vieira Brandão, nascido em Alvorada, RS, é escritor, professor, psicólogo e empresário. Mora em Tramandaí, RS (sergio.escritor@gmail.com).
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Conto publicado em 2021, no livro CONTOS DE ALVORADA, coletânea lançada pelo Clube dos Escritores de Alvorada (editora meia-noite).