TESOURA (Parte Final)
sexta-feira, 2 de maio de 2025
sexta-feira, 10 de outubro de 2025
— Você já tinha vindo aqui? — Uma criança pergunta. A mãe segura sua mão enquanto sobem um pouco a frente dele.
— Já, mas faz algum tempo que não visito.
— Porque não?
— Porque... não é barato passar muitos dias aqui, menina.
— Ah.
Sorri ao ouvir aquela conversa tão comum, pensando em sua própria mãe. Era uma mulher que se irritava fácil, mas era afetuosa na mesma medida. Sente falta de poder falar com ela. A menina se desvencilha da mãe e corre escada acima. A mulher grita para que pare, mas, como a jovem não a obedece, ambas desaparecem no topo do morro. Sobe as escadas sem pressa, depois caminha pela beirada. Nunca viu a noiva assombrada perambulando por ali. Nem em dias chuvosos e assustadores. De certo, mesmo uma alma lamentosa deve parar com as assombrações em algum momento. A capela, tão gasta, agora provavelmente com bem mais que o dobro de sua idade ainda está lá. Nunca prestou muita atenção, mas lá repousava uma estátua de santa Maria segurando Jesus nos braços.
— Nunca tinha prestado atenção nisso.
— É bonita, não é? — Uma voz feminina comenta às suas costas.
Se vira e vê a mulher segurando com firmeza a mão da menina.
— Hã, é sim.
— Com o clima dessa estação se torna mais bonita. Faz muito tempo que não visito esse lugar.
Ele a observa melhor, mesmo sorrindo tem um certo tom de tristeza na sua voz.
— Não cumpri a promessa. — Ela diz.
— Eu sei.
— Mãe, posso ir no laguinho?
CONTINUA...
Ben Schaeffer é escritor, advogado e contador. Natural de Porto Alegre, reside em Alvorada, RS. Ávido leitor, lê vários gêneros, desde livros de ficção científica, de fantasia e de mistério até histórias em quadrinhos. É autor do livro Dan Plagg: o Porto das Bruxas e da série Histórias do Reino de Puphantia (O Grande Assalto e Os Fantasmas de Puphantus).
sexta-feira, 18 de julho de 2025
VIDA
Parte II - Verão
Ben Schaeffer é escritor, advogado e contador. Natural de Porto Alegre, reside em Alvorada, RS. Ávido leitor, lê vários gêneros, desde livros de ficção científica, de fantasia e de mistério até histórias em quadrinhos. É autor do livro Dan Plagg: o Porto das Bruxas e da série Histórias do Reino de Puphantia (O Grande Assalto e Os Fantasmas de Puphantus).
domingo, 17 de agosto de 2025
VIDA
Parte IV - Outono
Ben Schaeffer é escritor, advogado e contador. Natural de Porto Alegre, reside em Alvorada, RS. Ávido leitor, lê vários gêneros, desde livros de ficção científica, de fantasia e de mistério até histórias em quadrinhos. É autor do livro Dan Plagg: o Porto das Bruxas e da série Histórias do Reino de Puphantia (O Grande Assalto e Os Fantasmas de Puphantus).
sexta-feira, 27 de junho de 2025
VIDA
Parte I - Verão
Ben Schaeffer é escritor, advogado e contador. Natural de Porto Alegre, reside em Alvorada, RS. Ávido leitor, lê vários gêneros, desde livros de ficção científica, de fantasia e de mistério até histórias em quadrinhos. É autor do livro Dan Plagg: o Porto das Bruxas e da série Histórias do Reino de Puphantia (O Grande Assalto e Os Fantasmas de Puphantus).
sexta-feira, 18 de julho de 2025
VIDA
Parte III - Verão
Ben Schaeffer é escritor, advogado e contador. Natural de Porto Alegre, reside em Alvorada, RS. Ávido leitor, lê vários gêneros, desde livros de ficção científica, de fantasia e de mistério até histórias em quadrinhos. É autor do livro Dan Plagg: o Porto das Bruxas e da série Histórias do Reino de Puphantia (O Grande Assalto e Os Fantasmas de Puphantus).
quarta-feira, 10 de setembro de 2025
Veste um casaco com capuz que recobre parte de seu rosto. Veio sozinha, não queria a companhia de ninguém. Já era difícil estar ali e tinha certeza que se estivesse acompanhada não conseguir dar nem um passo naquela escadaria.
— Você jura que vai ficar bem? — Sua mãe perguntou quando ainda estavam no carro.
— Vou. Por favor, me deixa fazer isso.
— Filha...
— Eu preciso.
— Vou estar por perto.
— Tá. — Desceu do carro rápido, sem olhar para a mãe.
Está tão frio, tão diferente de quando eu era mais nova. Mas fui feliz aqui, pelo menos por um tempo. Ele disse que ia me esquecer, queria que soubesse que não. Mas o tempo... tudo vai mudando, eu mudei, não pude vir antes.
Estava no topo, viu ao longe a capelinha, caminhou sem pressa, sentindo o frio a lhe enregelar o rosto. Não havia ninguém por ali, mesmo com aquele clima, o céu estava azul. Fez uma prece na capelinha, pegou a urna e foi até a beirada do morro, no paredão que o mar corroía lentamente.
Era uma peça de metal tão pequena. As lágrimas caíram quentes em suas bochechas. Ele era tão pequeno, tão frágil. Porque tinha que... Segurou o pranto. Depois faria isso, agora tinha que terminar. Precisava. Era tão pequeno, aqueles dedos perfeitos, tão delicados. Abriu a urna e devagar as cinzas se dispersaram. Tinha olhos esverdeados, e todos os dias que teve com ele foram uma benção. Queria ser fria agora, queria que pudesse esquecer disso, de como era seu riso, seus olhos, sua boca pequena. Queria tanto. Se ajoelhou, incapaz de se afastar. Uma mão tocou em seu ombro.
— Filha, vem, eu te ajudo.
— Ele era tão pequeno... — Se abraça à mãe e chora.
— Ele era...
As duas permanecem abraçadas, perdidas em seu luto. A tarde avança lentamente. Depois voltam para o pátio sem dizer nada. Só voltam a conversar em casa, horas depois.
— Está melhor?
— Não.
— Tudo bem. Filha, porque quis ir até lá?
Não responde. O que dizer? Nem ela sabia explicar.
— Não sei.
— Tá... descansa então.
Ficou em silêncio sentada no sofá da sala da casa da mãe. Tinha dado o nome dele ao filho. Outra lembrança subindo acima das demais. E tinha sido tão curto o tempo que estiveram juntos, tão pouco quanto o que teve com o bebê, tão pouco... Não notou o quanto estava cansada até adormecer. Em seu sonho as memórias se misturam dando calor a um inverno doloroso.
CONTINUA...
Ben Schaeffer é escritor, advogado e contador. Natural de Porto Alegre, reside em Alvorada, RS. Ávido leitor, lê vários gêneros, desde livros de ficção científica, de fantasia e de mistério até histórias em quadrinhos. É autor do livro Dan Plagg: o Porto das Bruxas e da série Histórias do Reino de Puphantia (O Grande Assalto e Os Fantasmas de Puphantus).
sábado, 5 de abril de 2025
TESOURA (Parte I)
Vai para a frente da casa, onde sua cadeira está ocupada pelo gato. Ele nunca deu nome ao gato cinzento, às vezes acha que o animal sempre esteve por ali, mas é porque sua memória já não é mais tão boa. Ele ergue o animal até a altura de seus olhos, que o encara preguiçosamente, sem se opor. Depois o coloca no chão com delicadeza. O bichano se deita ao lado da cadeira, onde colocou um tapete. Senta-se na cadeira, observa a chuva caindo no pátio que precisa ser mais bem cuidado. Ao lado, à esquerda, sua plantação de milho. Teve que pedir que o ajudassem. Não tinha forças, a dor no quadril, a coluna reclamando. Era isso ou nada. Optou pelo pedido, pagou o serviço, teria que pagar para que colhessem. Voltou à cozinha, aqueceu a água em uma chaleira velha, fez um chimarrão, voltou à cadeira. Antes disso, pegou um petisco e deu ao gato. Ficou parado na porta enquanto via o bichinho comendo com voracidade. Será que é velho como eu esse gato? Tinha ouvido alguém dizer que esses animais podiam viver anos e anos. Talvez seja então, porque não me lembro de quando ele veio pra cá... Deve ser.
Sentou-se, encheu a cuia com água quente, as bolhas subindo enquanto fazia isso, a erva de desmanchando do monte, mas apenas o necessário, sugou o sabor amargo do mate, o som da chuva continuou. Plic, plic, plic caindo pela calha em um balde com uma arvorezinha. Sozinho ali, observando a chuva, a estrada, o campo a sua frente. De tempos em tempos um carro passava na estrada de terra cheia de buracos. Era uma linha reta ali, mas os buracos faziam os motoristas fazerem curvas, tentando evita-los, sem muito sucesso. Ficou ali, sentado, as canelas brancas e magras a vista, a calça era a curta, não tinha outra. Não se importava muito com isso. Àquela altura da vida não se importava com muita coisa. Talvez com a dor no quadril, mas melhorava, só precisava se mexer. Encheu outra cuia, ficou segurando-a sem beber.
Atravessando a estrada com um casaco sobre a cabeça, vinha uma vizinha. Passou por todas as poças com pequenos pulos, passou pelo portão que era preso por um pedado de corda e depois veio até a entrada da casa. Era jovem, já a vira algumas vezes nos últimos dias, mas nunca tinha falado com ela.
— Oi!
— Oi. — A voz rouca de quem pouco a usa.
— O pai pediu pra perguntar pro senhor se tem uma tesoura de poda.
Levantou-se sem dizer nada. Foi aos fundos da casa, deixando a menina na entrada. Ficou ali por um tempo, procurando, procurando. Encontrou em uma das caixas mais ao fundo, junto com algumas roupas que ele não conseguiu doar ou jogar fora. Tinha um vestido branco, cheio de grinaldas. Olhou, ficou ali parado, tesoura na mão.
— Moço?
Parecia tão longe, já não ouvia bem, mas a voz se aproximou e ele voltou ao presente. Olhou cansado para trás, a menina tinha vindo atrás dele. Devia ter uns quinze anos, tinha os olhos muito escuros que faziam um contraste interessante com os cabelos louros que guarneciam sem rosto redondo.
— Achei a tesoura. — Disse entregando o objeto.