sexta-feira, 24 de maio de 2024

 

A MINHA PASÁRGADA


Vou me embora para Pasárgada,
mas não a Pasárgada do genial escritor
e sim a que habita as cercanias da minha hipocrisia,
da minha desfaçatez e profunda incoerência.
Incoerência essa que permeia minhas relações,
onde a mulher que também quero e a cama que também desejo,
me são direcionadas.
Não porque eu seja amigo da realeza,
Mas sim pelas minhas péssimas atitudes
Tão comuns e marcantes na vida dos “Nobres” ou dos que se julgam ser.


Poema A MINHA PASÁRGADA, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).

 

O SEGUNDO DA FILA
Seu Generoso é um caboclo enraizado, mora lá nas bandas de Alto Belo e batalhador desde criança, na foice e no machado é um desbravador e gosta das coisas certas. E diz sempre:
 Cumigo é anssim: pau é pau e pedra é pedra. Nada de me inrolá.
Com problemas renais, o médico depois de muito labutar com exames e medicação, resolveu fazer a cirurgia e implantar o rim. O falado transplante.
Bom. Dona Elmira, sua esposa já cansada da lida, foi até ao Banco de Órgãos para saber a colocação do Seu Generoso e acelerar o processo da cirurgia.
Chegando ao Banco de Órgãos:
 Talde pessuale! Tudo bão? Eu sô a Elimira muié do Generoso. Cumé que tá a situação da doação do órgo do meu marido? Quale a colocação dele?
A atendente olhou pacientemente o fichário e:
 Boa tarde, Dona Elmira. Tem 235 pessoas na frente dele.
Aquilo deixou Dona Elmira triste e quase em pranto.
E ela:
 Nossa tadim do Generoso! Pode inté morrê. Esse tantão de gente na frente dele! Mais, Deus é generoso!
Ela saiu dali cabisbaixa e foi-se embora. Chegando a casa o Seu Generoso:
 Qualé a boa nutiça?
Ela receosa e triste:
 Óia Generoso. Têm 235 pessoa na sua frente. Agora é isperá e tomá os remédio direitin.
Seu Generoso ficou mais triste e:
 É! Inté chegá a minha vêis, acho que já fui pra cidade de pé junto!
Dona Elmira arrasada foi pra cozinha fazer o pão de queijo e o cafezinho que ele tanto gosta e ele ali na sala ouvindo o radinho de pilha. E no rádio:
Atenção ouvintes de todo o Brasil. Da cidade, da roça, nossa rádio vai longe! E atenção para esta nota: o Milionário e divulgador Valtão acaba de passar por um procedimento cirúrgico e fez o transplante do coração e ele é o segundo da fila. Ele passa bem e está sob cuidados. Mais tarde ele concederá até uma entrevista. Não perca!
Aquilo aguçou o pensamento do Seu Generoso e:
— Uai, muié! Esse tale de Valtão numa tava bão e iguale coco cisdia mermo? Eu inté vi ele na televisão na cidade. Tem um trem errado nisso. Essa fila dele andô dipressa dimais uai!
Ela veio depressa da cozinha com o pão de queijo no prato e o café no bule e:
 Uai, Generoso! É mermo! Aqui no Brasile tem pôca gente cum pobrema de coração. Purisso que a fila andô dipressa. Ô intão temcascaio nisso. Bufunfa, cobre, vô fiscalizá isso.
Dona Elmira resolveu voltar ao Banco de Órgãos pra saber da demora. Só que quando ela havia ido à cidade pra saber da colocação do Seu Generoso ela passou na lotérica e registrou uma cartela da Mega Sena. Quando ela calçou o chinelinho surrado e ajeitou o lenço na cabeça, no rádio:
Atenção senhoras e senhores para o resultado da Mega Sena acumulada. 72 milhões. Que sabe você é um ganhador?
E informou o resultado. Dona Elmira acertou os seis números e ganhou sozinha. Aquilo foi uma alegria e um rebuliço e os filhos alegres, Baltazar o filho mais velho arriou o cavalo e saiu em disparada pra cidade e espalhou o acontecido. Claro que chegou até ao Banco de Órgãos.
Dona Elmira no colo da emoção:
 Generoso! Vamo cumigo pra mode nóis sabê a colocação no Banco de Órgo e tomém cumemorá com o cumpade Onofre e a cumade Zefa!
Ele mais que depressa calçou as botinas, deu uma calibrada no chapéu e foram.
Chegando ao Banco de Órgãos, o médico, enfermeiras, o povo do vilarejo, o Baltazar já havia tomado umas biritas e Dona Elmira:
 Óia pessuale! Eu vim inté aqui pa mode sabê, proquê a fila do órgo coração acelera e a do rim é iguale tartaruga?
A atendente já estava abraçada ao pescoço do Baltazar e:
— Pega um copo com água pra Dona Elmira e um cafezinho para o Seu Generoso. Óia a senhora acredita que o Seu Generoso é o segundo da fila?
Bom. Vou deixar esta pra vocês opinarem.
O que será que aconteceu?
A fila andou depressa!
Eu não disse nada...


SOBRE O AUTOR

Antônio de Fátima Silva, o Mestre Tinga das Gerais, natural de Corinto-MG, poeta, ator e cantor e na estrada há 35 anos. Participou de vários festivais, sendo premiado com o conto "O Caboclo e o Barranqueiro", atuou no curta-metragem "Um outro Tiradentes" e no longa "A História das Três Marias", da cineasta Zakia Daura.

POEMA DA MATEMÁTICA

A matemática está em nosso cotidiano
Desde o amanhecer até o pôr do sol.
Entra pela noite, até quando dormimos,
Em cada fio de tecido, urdido no lençol.

Quando respiramos os alvéolos funcionam
Produzindo a hematose lá dentro dos pulmões.
Com precisão está renovando o nosso sangue
Matematicamente bombeado pelos nossos corações.

No corte de nossa roupa, no peso do alimento,
Nas horas que trabalhamos a matemática está.
Quando vamos ao mercado e fazemos nossa feira
Vamos somando tudo, pra ver se o dinheiro dá.

Fazemos aniversário quando subtraímos
O ano que está em curso do ano que nascemos.
E colocamos no bolo a quantidade de velinhas
De acordo com os anos que nós já temos.

No futebol contamos os pontos que o time tem
E a cada rodada quantos se acrescentarão.
Com os números na cabeça aumenta a ansiedade
Para ver se o nosso time será o grande campeão.

Contamos os dias, semanas, meses e anos
E o tempo vai passando pra nossa felicidade.
Calculamos o tempo pra nossa aposentadoria,
Quando então nós curtiremos a nossa melhor idade.

A matemática está sempre presente em tudo
Na música que cantamos, pelas notas musicais.
Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si tem uma bela simetria,
Que ecoa lindamente em nossas cordas vocais.

Quando olhamos para a lua e também para as estrelas
Ficamos encantados com a perfeita interação
Que existe entre elas no Universo infinito,
Desafiando a ciência pra grande investigação.

A Matemática é uma ciência que interage com as outras
Formando a linda teia da multidisciplinaridade.
E esta ciência está sempre buscando conhecimentos
Para alcançar o progresso de toda a humanidade.


SOBRE O AUTOR

Natural de Jaboatão, Pernambuco. Filho de Manoel e Marina Lima, casado com Alcione Lima e pai de Anália Rebeca e Areli Suzana. Formado em Administração, Teologia e História. Professor na Escola Monsenhor Arruda Câmara (EMAC) e pastor da Igreja Batista, em Sítio Novo, Olinda. O escritor Marinaldo Lima conta com diversos prêmios nacionais em concursos literários de contos e poemas.

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Poema publicado na coletânea do concurso literário A Arte da Palavra 2023.