sexta-feira, 24 de novembro de 2023

 

PUERIL

E tão pueril fora o poeta,
Que em vão buscou nas canções
palavras que não pavimentaram sua estrada.


Poema PUERIL, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).

sábado, 18 de novembro de 2023

A PROCURA

Não pertenço ao seu mundo

Não trilhamos a mesma estrada

Meu futuro é um torvelinho

Que gira cada vez mais fundo

Em direção ao nada.

Procuro uma ponte

Um ponto, um caminho

Que vislumbre novo horizonte

E me direcione para sua alvorada.


Poema A PROCURA, da escritora Marisa Amorim (Itapeva - SP).   

terça-feira, 14 de novembro de 2023


O SOL DE TODAS AS MANHÃS

Tu és...
O sol de todas as manhãs
O mar reflete a tua imagem
O vento traz teu cheiro de maçã

Teus pés na areia da praia
És uma sereia
O universo se ensaia de versos
Vejo estrelas na teia

Quintais desbandeirados
O amor é o astral
Sorriso de Monalisa
A força do Sisal

Ó deusa! Que transcende o amor
Mistérios das montanhas
O alçar do Condor!


Poema O SOL DE TODAS AS MANHÃS, do escritor Mestre Tinga das Gerais (Corinto - MG). 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

 
COMEÇA NESTA SEMANA!
20ª FEIRA DO LIVRO DE ALVORADA

sábado, 11 de novembro de 2023

RÔ E ALINE

e Aline se conheceram nos bancos escolares da EE Jaca Madura, na pequena cidade de Uru, interior de São Paulo.
Aline, que é paranaense, chegou em Uru com 7 anos e foi matriculada na 1º ano do ensino fundamental. Os pais da menina, trabalhavam num armarinho e com o falecimento do proprietário, adquiriram o imóvel que comportava a loja.
Rô é natural da cidade de Uru. Morava com os pais e irmão, numa casa própria. O pai era gerente do Banco Retangular, na cidade vizinha de Reginópolis e a mãe, fisioterapeuta em Bauru.
Alunas da mesma turma, Rô e Aline competiam pelas melhores notas e a rivalidade era estendida para fora da escola. Uma não procurava a amizade da outra, mas se respeitavam.
Rô, orientada pelos pais, quando terminou o ensino fundamental e antes de começar o médio, obteve colocação numa multinacional, em Bauru, como estagiária. Aline preferiu só estudar.
As duas garotas frequentavam as festas e os bailes, em Uru. Com a transformação do corpo, Aline e Rô tinham preferência por rapazes que estudavam na escola ou moravam na cidade.
Como viviam no mesmo ambiente, Aline evitava a aproximação de Rô, porque percebia na colega de escola que ela, trabalhando e estudando, estava mais desenvolvida e responsável pela própria vida.
Aline e Rô, às vezes, trocavam algumas palavras, mas a paranaense, se sentindo inferior, procurava se afastar, impedindo que as duas se tornassem amigas.
Saulo paquerava Aline e frequentavam as festas da cidade ou ficavam na Praça, ao lado da escola onde estudavam. Rô monitorava os passos de Ivan.
Nos bailes, Aline fazia par com Saulo, enquanto Rô dançava com quem a convidava. Quando Ivan aparecia, ela gostava de dançar com ele.
gostaria de dançar com Saulo, mas Aline não se desgrudava dele. Depois do baile, os jovens se dirigiam a Praça. Em grupos ou duplas, ficavam até tarde, colocando a conversa em dia.
Num final de semana em Uru, o baile foi substituído pela tradicional festa junina. Praticamente, a cidade inteira participava. Como Aline e Ivan ainda não tinham chegado, Rô, quando estava mirando um boneco de pelúcia, no tiro ao alvo, sentiu a presença de Saulo.
Saulo olhando a Rô atirar e vendo que ela não foi bem sucedida, disparou a sua espingarda. O dono da barraca pegou o boneco de pelúcia, caído no pano e entregou ao jovem.
, depois da decepção de não acertar o alvo pretendido, virou-se e foi em direção a barraca de pizza. Antes de fazer o pedido, ouviu a voz do Saulo:
 Duas pizzas de muçarela e dois refrigerantes, na mesa 4. Quando o garçom serviu o casal, na bandeja tinha um pequeno embrulho. Saulo falou para Rô:
 Este presente é para selar a nossa amizade.
desembrulhou o presente. Emocionada, virou-se para Saulo e agradeceu com um leve beijo nos lábios.
Depois da festa junina, Saulo e Rô foram para a Praça e ficaram até tarde da noite, aos beijos e amassos. O boneco de pelúcia foi testemunha de tamanha felicidade do casal.
Na semana seguinte, durante as aulas, Rô percebeu muita tristeza no semblante de Aline. Pensou “será que ela ficou sabendo que eu fiquei com o namorado dela?”
No intervalo das aulas, vendo que Aline estava conversando com alguns alunos, Rô se aproximou e ouviu a colega falar:
 A minha mãe foi diagnosticada como uma doença renal crônica. Como já estava em estado avançado, o médico nefrologista após avaliar os exames de sangue, de urina e de imagem, constatou que ela vai precisar de um transplante de rim.
Dona Catarina, mãe de Aline, submetida ao transplante de rim, com sucesso, agradeceu à Deus e ao doador.
 
Doze anos depois do transplante, dona Catarina foi ao batizado do primeiro neto, filho de Aline. Depois do ritual de batismo, a vovó agradeceu aos padrinhos:
e Saulo, fiquei contente quando a minha filha Aline convidou o casal para ser padrinho do meu neto.
Dona Catarina, se aproximando de madrinha, rogou:
 Devo a você, Rô, a minha felicidade. Deus te abençoe!
Saulo Jr pulou nos braços da Rô e apontando para dona Catarina, balbuciou:
 Mamãe, por que ela está chorando?


SOBRE O AUTOR

O escritor Amauri Martins reside na capital e em Bertioga, ambas em São Paulo (SP). Foi professor no magistério paulista, também diretor de escola e supervisor de ensino. Quando se aposentou, sentia falta de alguma atividade intelectual, por isso começou a rascunhar a sua biografia. Hoje, conta com dois romances publicados no Brasil e, em Portugal, os romances "Encantos & Paixões em Estoril" e "A jovem do olhar triste". Mais contos e crônicas publicados em 39 antologias

e-mail: amaurim4000@gmail.com 
cel. (11) 973135004

domingo, 5 de novembro de 2023

 
COMEÇA NESTA SEMANA!
20ª FEIRA DO LIVRO DE ALVORADA

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

 

INSTINTO


UM AMOR FEBRIL, INESPERADO,
VEIO ALEGRAR, RESPLANDECER
CONSOLIDAR O MEU VIVER ...

MAS, DESDE QUE CORTAMOS NOSSOS LAÇOS,
SOU SOMENTE UMA SOMBRA QUE VAGUEIA
PROCURANDO SEGUIR TEUS PASSOS
NO REFÚGIO DO PENSAMENTO ...
SOU UM VENTO QUE NORTEIA
RUMO AO LIMITE DOS TEUS BRAÇOS,
QUANDO A ÚLTIMA ESPERANÇA INCENDEIA
E RECRUDESCE O SOFRIMENTO !

HOJE, RESSURGE NA MEMÓRIA,
CARREGADAS DE EMOÇÃO E NOSTALGIA,
AS BELAS PÁGINAS DA HISTÓRIA
CONTIDAS EM NOSSO ÍNTIMO ...

QUE OS VERSOS E FANTASIAS
POSSAM ALCANÇAR A MESMA GLÓRIA
DESTA EXALTADA, MARAVILHOSA IDOLATRIA,
QUE SEJA AMOR, NÃO SÓ INSTINTO !


                                Poema INSTINTO, da escritora Rosana Machado.

Por que será
Que em nossos caminhos
Aparecem pessoas
Que jamais gostaríamos de cruzar?

Noutras vezes amamos
Gente que nem sabe
O que significa amor
Outras nem sabem que a amamos...

Sempre restará uma lição
Um aprendizado – amores
São brisas que o tempo sopra
Em nossas vidas –
Querendo amar

Há sempre alguém
Há sempre alguém
Querendo ser amado...

E nós seguimos nosso caminho
Como animais que mudam de lugar
A cada estação – são as estações do amor –
Que nos mostram os caminhos a seguir...


Poema CAMINHOS, do escritor Mário Feijó. 

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

 

LAVADEIRAS NO COLO DAS ÁGUAS

O sol escancarado da manhã revelava a labuta das intrépidas guerreiras dos córregos e rios que cortam das gerais. A bacia no canto da palhoça é o retrato da espera, onde, a trouxa amarrada e em silêncio, contemplava o sabão caseiro que a Dona Benedita ao redor do fogão à lenha, fizera para deixar a roupa do Raimundo do Bento impecável. Pois, este era vaidoso e sua calça de Casimira, branca, contrastava com a camisa azul, cor esta em homenagem a Nossa Senhora dos Navegantes, a Iemanjá, sua protetora.
Dona Benedita esboçou um canto e aquilo até parecia um código, pois, aos poucos as amigas chegavam e cada uma com sua bacia à cabeça, sintonizavam ao canto, formando ali um coral. Nos embornais, a farofa, o café e os biscoitos, sabiam dos seus destinos que era o Rio das Velhas e o bucho não espera, pois, a fome chegaria num piscar de olhos e as roupas quando nas pedras para quarar, a sombra fresca do frondoso Jequitibá, seria a mesa para o sagrado alimento.
Dona Benedita inicia o seu canto, que é seguido pelas amigas, enquanto a passarada em seus ninhos ou mesmos em revoada, se embriagava daquele cenário magistral.
Ao chegarem ao rio a Benedita: 
Óia que maravia! Ás água tá ino numa aligria aos braço de Odoyá.
Em silêncio as amigas concordavam e seus olhos brilhavam feito as estrelas.
A Maria do Teté esfregava e o seu suor misturado ao sabão, servia de alvejante daquelas simples peças de roupas da família. A Dona Carmelita batia a roupa na pedra e o eco adentrava no sertão e as corredeiras cintilantes absorviam a espuma que iam por entre as pedras e folhas secas de um outono, que o serelepe vento despejara nas águas. Ao torcer as suas roupas a Dona Conceição, com um tido sorriso na face, deixa o olhar dizer que o seu filho Joaquim vai ficar todo charmoso, ao lado das belas moças do vilarejo.
Roupa quarando e a matula sobre um pano e o café ostentando seu cheiro, ali a oração para poder degustar aquela merenda feita com amor.
É hora de tirar as roupas do quarador e as pedras aos pouco vão ficando nuas e o enxaguar é preciso, pois, o sol ainda esperava para entrar em cena e protagonizar a secagem.
Enquanto as roupa secavam, a Dona Benedita catava umas raízes de Canela de Perdiz, santo remédio caseiro, a Conceição à sombra...proseava com a  Dona Carmelita sobre a Festa de São José, o Santo fazedor de chuva da qual era festeira. E Dona Benedita:
                                                        “Êh! Tá hora
                                                         Tá na hora de vortá
                                                         Nossa rôpa tá lavada
                                                         E nóis tem que regressá
                                                         Vamo pegá as bacia
                                                         E sertão adentro caminhá”
E aquilo era um hino sertão afora por entre almas e a fé daquelas lavadeiras do colo das águas. Águas da Iara à Iemanjá.
Ao longe as palhoças e suas chaminés e a fumaça celebrando a volta das intrépidas lavadeiras.
Inté!
 
 
     
SOBRE O AUTOR

Antônio de Fátima Silva, o Mestre Tinga das Gerais, natural de Corinto-MG, poeta, ator e cantor e na estrada há 35 anos. Participou de vários festivais, sendo premiado com o conto "O Caboclo e o Barranqueiro", atuou no curta-metragem "Um outro Tiradentes" e no longa "A História das Três Marias", da cineasta Zakia Daura.

 

CATARSE

E na catarse dos meus sonhos,
uma miríade de emoções
desencadeou em mim poesia.

Poema CATARSE, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

 

Poetas...


Todo poeta é um louco
(aos olhos dos outros)
Todo poeta é um artista
Um malabarista...

Que joga o verso p’ra cima
E recolhe os pedaços
Transforma em ouro as palavras
Coração de alquimista.

Todo poeta é um soldado
Sonhando com a liberdade
Na sua guerra solitária
Em busca da verdade...

Que chora as dores do mundo


SOBRE O AUTOR:
Ivonir Gonçalves Leher, nasceu em São Gabriel - Rio Grande do Sul, em 04 de outubro de 1974. Filho de pequenos agricultores, viveu parte da infância na localidade de Costa do Salso, atual município de Santa Margarida do Sul. É casado e pai de dois filhos. É membro do Movimento Poetas Del Mundo.

 

ROSA GRACIOSA

Um botão de Rosa se abriu !
Espichou as raízes abaixo da névoa de poeira;
Ora ela se banha da chuva,
Ora se abona e se privilegia
Dos afrescos do arrebol...
.Entre as Margaridas, Begônias, folhagens trepadeiras
Avista-se uma graciosa flôr
Inspirada por Deus e pelas Ninfas herdeiras,
Preservada com terra, carinho, água
 e sol !.


Poema ROSA GRACIOSA, da escritora Rosana Machado.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

domingo, 22 de outubro de 2023

Pra vc, meu amor.


Não sou um sol completo
Sou raio de luz, fragmento
Ilumino nosso afeto
Aqueço um sentimento
.
Não sou mulher charmosa
Que passe e chame atenção
Entretanto sou fiel e carinhosa
Como uma rosa desabrocho o coração
.
Dizer que te amo já não basta
Carece um ato, um gesto terno
Porque palavras o tempo gasta
Mas o beijo de quem se gosta é eterno
.

Poema PRA VC, MEU AMOR., da escritora Ana Farias. 

 

VIVER É UM ESPETÁCULO DIÁRIO


Quando entraste em minha vida

Eu não te prometi o paraíso

Mas deixei muito claro

Que minha vida era um circo...


Não que eu seja palhaço

Nem tampouco um animal enjaulado

Mas te avisei que todos os dias

Seriam dias de espetáculo...


Vivo de sonhos e fantasias

E penso que a vida só tem graça

Se vivermos todos os dias

Como na estreia de uma nova temporada...


Aos poucos me desnudo

Ando no trapézio

Visto todas as fantasias

Quando não posso as lágrimas caem

Sou novamente o palhaço que negava

Porque o espetáculo tem que continuar...



Poema VIVER É UM ESPETÁCULO DIÁRIO, do escritor Mário Feijó.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

O Mínimo de Nós, Amor Incondicional...


E com sutileza

Você vasculhou a aljava

Com classe

Retirou uma seta

Que como uma aldrava

Tocou em meu coração


Coração porta aberta

E nele deixaste tua essência

O mínimo é o máximo

Nós aldrávia do tempo

Um desejo ímpar

Por entre almas e quereres!


Poema O MÍNIMO DE NÓS, AMOR INCONDICIONAL..., do escritor Mestre Tinga das Gerais (Corinto – MG).

Sobre memórias

E nas memórias não construídas,

verte a lembrança

de quem só ousou a sonhar.

A canção faz questão de lembrar

Utopias, Dragões e Castelos

Que Eu Quixote não posso enfrentar.


Poema SOBRE MEMÓRIAS, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).


quarta-feira, 11 de outubro de 2023

O Sorriso da Flor

         

Quando, o dia amanhecer
E o teu lindo sorriso
Abrir a porta da manhã
Estarei feliz e garboso
Meu corpo cheiroso
Com teu cheiro de avelã 


Dar-te-ei um beijo ardente
E tua saliva quente
Com o sabor do mel
Será lindo e maravilhoso
Nosso jeito fogoso
Neste lindo escarcéu 


Somos o jardim encantado
Você minha gineceu
Nosso perfume é tão raro
Sou o seu pólen
O seu androceu.
 

Poema O Sorriso da Flor, do escritor Mestre Tinga das Gerais (Corinto – MG). 


A Casa da Serra 
No alto da Serra da Onça, nos arredores do Quilombola do Capão, existia uma casa antiga e por ali moraram várias famílias e por ser muito retirada da cidade e bem gasta pelo tempo, a casa ficou abandonada e ali servia mesmo era de abrigo para ratos, morcegos, aranhas, enfim, ficou esquecida e o tempo foi tomando conta daquela casa que passou por muitas histórias.
Cada um tem sua sina e carrega sua saga no alforje da alma, para ficar marcado pelos tempos e as rugas que vão delineando a face e o território embandeirado é a sua raiz a qual seus ancestrais trilharam pelos caminhos da vida.
O morador mais enigmático foi o escravo Belarmino. Já carregava seus 92 anos nas costas e havia passado por três fazendas coloniais e a pele marcada pela ignorância aos moldes das chibatadas e açoites, ele escondia dentro de si um mistério que se via em seus olhos tristes e ao deparar com as lembranças chorava e ficava debaixo do pé de Gameleira, que ficava no fundo do quintal da casa, velha casa.
O Seu Augusto Tapera, senhor dos seus 85 anos, negro caçador e destemido, dá para imaginar onde ele morava. Isso mesmo: numa tapera de pau a pique e na beira do Rio das Velhas.
Certo dia, ao levantar-se cedo como o de costume, ele deparou com gemidos trazidos pela força vento que assoprava as densas matas, as quais os negros embrenhavam quando da fuga das fazendas e dos maus tratos.
Aqueles gemidos o deixaram atordoado e o fazia lembrar-se do tempo do cativeiro e as suas mãos nos ouvidos para embargar aquele barulho que penetrava na alma e na carne.
E de repente vozes e gritos no sussurrar do vento que varria a poeira e as folhas rolavam pelo chão num alvoroço incontido. As águas do Rio das Velhas pararam de correr, a passarada ficou muda e nem o Bem-te-vi cantava, pois, este não queria ver tanto alvoroço.
De repente o Augusto tirou forças ocultas e gritava incessantemente:
Não Tião! Não Tião... não! Comigo não! Pelo amor de Deus!
O desespero e a ânsia faziam daquele homem destemido, um homem fraco e ele no cantinho da tapera feito uma canga num canto jogada.
Da sua humilde Tapera via-se a casa velha na serra e na janela o Belarmino acenava e o Augusto nada entendia, até que o sol se escondeu num passe de mágica veio a intrépida noite e aumentou mais ainda o medo e terror ao redor da tapera do Augusto. As vozes em alto tom e a brisa vieram em forma de chuva e varreu as palhas da tapera, que ficou a mercê do redemoinho.
Nisso em meio ao redemoinho surgiu um velho senhor de barbas e dentes enormes, unhas sujas e roupa preta e numa mão um cajado e na outra um açoite e ao tocar na terra com o cajado, causava o tormento a todos os ribeirinhos.
Nisso surge o Belarmino, com um terço na mão e uma cruz de aroeira lavrada, que ele mesmo havia feito quando do cativeiro e:
Saia já do nosso camin! Nóis é da mata, do fogo e do truvão. Da água dos raio e do sertão. Dadonde ocê saiu nóis num qué ir mais não.
Ao dizer aquelas palavras a criatura explodiu-se no ar e tudo se silenciou.
Naquilo um ser de roupas brancas, algumas estrelas em forma de auréola na cabeça, fala angelical surgiu e:
Belarmino. Você acabou de desfazer uma mandinga que separou você de seu irmão, uma das maiores atrocidades no tempo do cativeiro.
Ele trêmulo e olhos arregalados e a criatura prossegue:
O Augusto é seu irmão e o que você afugentou era a alma do Tião, malvado Capitão do Mato que judiava com açoite e marcava vocês a ferro e fogo. Ele separou vocês de sua mãe. Colocando o Augusto amarrado numa canoa rio abaixo, nas corredeiras do Rio das Velhas e o Belarmino, ele o amarrou, o colocou em um cavalo e o açoitou e este foi parar naquela serra, aonde ele foi criado pela escrava Nestina que ali morava e que faleceu quando ele ainda era rapaz.
Debaixo de um rio de lágrimas os dois se abraçaram e o Augusto carregava no braço direito, uma marca feita de ferro para marcar o gado e no braço esquerdo do Belarmino a mesma marca.
Os dois irmãos foram morar no Quilombola do Capão em terras que foram doadas pelos outros ávidos pela liberdade.
Por lá encontraram outros resistentes da saga, que com as forças de seus braços e o poder da busca, hoje levam marcas pelos corpos, mas, são sabedores de que sabem buscar o direito de serem felizes e têm um lugar ao sol.
   
SOBRE O AUTOR

Antônio de Fátima Silva, o Mestre Tinga das Gerais, natural de Corinto-MG, poeta, ator e cantor e na estrada há 35 anos. Participou de vários festivais, sendo premiado com o conto "O Caboclo e o Barranqueiro", atuou no curta-metragem "Um outro Tiradentes" e no longa "A História das Três Marias", da cineasta Zakia Daura.