sábado, 24 de maio de 2025

 

DESAPEGO

Esta semana, dei por mim a pensar na linearidade da vida que levamos.
Nascemos e somos logo incitados ao apego materno, à aglutinação de brinquedos, jogos e objetos. Crescemos aprendendo a valorizar a posse de pessoas, bens ou estatutos.
Em adultos, damos continuidade a uma caminhada linear de aprendizagem dos ensinamentos duma sociedade que vive a vida como um maratonista em esforço para atingir a meta.
Amadurecemos, continuando a correr até ao escopo. Pretendemos ouvir o apito do triunfo, os aplausos da multidão de desconhecidos que avistamos ao longo do percurso.
Não nos apercebemos da insustentabilidade do processo. Não nos apercebemos que a vida é um ciclo  nascer/crescer/morrer.
Este facto leva-nos a refletir sobre a necessidade de libertar, abrir mão, renunciar. Aceitar a finitude das pessoas, dos objetos, dos estatutos. Aceitar que devemos viver no momento presente.
Esta circularidade conduz-nos ao desapego.
Desapegar é por vezes difícil, doloroso, penoso. É uma arte delicada de aceitação de que tudo é transitório. É a capacidade de apreciar o que temos, sem obstinação de querer controlar ou prender, permitindo que a vida flua de forma mais leve e natural.
O não apego não significa desamor, abandono ou desafeto por algo ou alguém, mas sim que a posse ou a permanência não são, por si só, sinónimos de felicidade.
Não é perder, é compreender que renunciar é escolher, que libertar é respeitar, e que deixar partir também é amar!
Contudo, não somos treinados para esta abordagem disruptiva de maturidade que poderá potenciar a vivência duma vida mais prazerosa.
Vamos arriscar?


Alexandra Ferreira é autora de Sombras com Rosto (romance, 2019) e de Um Verão Sem Ti (antologia de contos, 2023). Portuguesa, natural de Viseu, reside no Porto. É engenheira civil, pós-graduada em Direção de Empresas e mestre em Engenharia Rodoviária. Integrante do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL) e do canal Liga dos 7, no facebook. Escreve para revistas literárias e clubes de leitura. Participa, ativamente, de congressos, sendo coautora de diversos artigos científicos.
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Crônica postada, em 02 de abril de 2025, pela autora, no canal Liga dos 7, no facebook.
*CLIQUE NAS PALAVRAS COLORIDAS (BIOGRAFIA E NOTA DE RODAPÉ).

4 comentários:

  1. Como sempre os textos de Alexandra são de uma sensibilidade incrível. Uma escrita madura e reflexiva. Quanto ao conteúdo, Alexandra, é preciso ter muita coragem para romper com a Matrix.

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  2. Parabéns. Um assunto imprescindível para refletirmos.

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  3. Um texto muito bem escrito , com muita sensibilidade, e maturidade dos valores que não devemos esquecer, parabéns.

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  4. Texto muito bem escrito,gostei muito

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