sexta-feira, 27 de junho de 2025

 

LEQUE

 

Poesia é amar o que não se deve;
Sofrer por quem sequer existe;
Pensar que a vida é um leque
De mil versos possíveis.

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Anderson Vicente é escritor, gestor ambiental e formando em História. Reside em Alvorada, RS, onde ajudou a fundar o Clube dos Escritores de Alvorada (CEA). Tem diversas participações em coletâneas de contos, crônicas e poemas. É autor dos livros juvenis Às voltas com a caveira e Na trilha dos zumbis (escritorandersonvc@gmail.com).
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A BRUXA DA BOM JESUS (Parte I)

Tudo começou em uma corrida que teve início no Carrefour da Bento Gonçalves e terminou na última casa de um beco estreito, sinuoso e esburacado, após eu ter que baixar os vidros e a passageira avisar aos empreendedores que vendiam folhas de bananeira e faziam a segurança do recinto, que era só o Uber. Afinal, era dia de feira e os clientes estavam muito entusiasmados.
Naquela chuvosa e movimentada manhã de sábado, jamais imaginei que estava prestes a registrar uma das mais impressionantes histórias que já ouvi em toda minha trajetória como motorista parceiro da Uber e 99.
Enquanto dirigia rumo à comunidade, dona Cláudia me contou que, quando tinha aproximadamente dez anos de idade, presenciou uma cena de terror, que até hoje lhe causa arrepios na espinha e faz eriçar os cabelos do alto da cabeça até as plantas dos pés.
Naquela época, sua prima Joana tinha apenas dois aninhos e era magérrima, raquítica, desmilinguida.
Sua tia Janete, mãe da Joaninha, empanturrava a filha de comida e todo tipo de chá, levava a criança no pediatra, na benzedeira e tentava de tudo para fazer a menininha vingar, mas, nada dava resultado.
A cada dia, o estado de Joana ia piorando. Além disso, em seu couro cabeludo, havia pequenos espaços sem cabelo e marcas de picadas ou mordidas.
Depois de muitas tentativas conjuntas para salvar a criança, Claudionara, mãe de Cláudia disparou: Janete, essa menina tá embruxada! Tem alguma bruxa sugando as energias da Joaninha. Esse é o motivo pelo qual, ela não se desenvolve. Mas, deixa comigo, que eu já tenho um plano infalível para resolver esta situação. É o seguinte! Hoje à noite, vamos armar pra cima da bruxa e pegar a miserável.
Quanto a mim, Crisóstomo, só posso dizer que, enquanto ouvia essa história verídica, fiquei mais empolgado que o Chaves ao ganhar um sanduíche de presunto.
Inclusive, de tão impressionado com o depoimento da passageira, me distrai e quase quebrei a homocinética em uma cratera lunar.
Ao voltar de Nárnia, dona Cláudia tentava se recompor do bangornaço que quase quebrou seu pescoço, graças ao maravilhoso asfalto de nossas avenidas.
Pelas barbas do profeta! Em pleno século 21, com tudo o que é investido em ciência e tecnologia, com todos os especialistas, que dão pitaco e metem o bedelho em tudo, será que não existe vida inteligente que se preste para inventar uma manta asfáltica de verdade e não esse lixo horroroso, que não resiste nem três dias consecutivos de chuva e já vira um verdadeiro queijo suíço?
É sério? Tem certeza de que isso vem mesmo do petróleo? Tá de sacanagem! Para mim, se parece mais com cocô de cabrito, colado com cuspe de moribundo. Em suma, uma verdadeira hosta! Eu tô mentindo? Eu tô mentindo, caramba? Macacos me mordam!
Retomando, onde eu parei? Tá, lembrei. Estava na parte em que, a tia da vítima bolou um plano infalível para pegar a bruxa.
Naquela quinta-feira, noite de lua cheia, mesmo em suas camas, ninguém dormiu. A família inteira estava de orelha em pé, esperando a possível chegada da persona non grata que estava exaurindo a energia vital da pobre criança.

 (Continua...)

Natural de Alvorada, RS, Deodato Júnior é motorista de aplicativo e palestrante. Criativo e versátil, o autor costuma criar diferentes pseudônimos para suas obras. São os casos de Salomaucriado para os livros O Lobisomem do LeprosárioProvérbios de Salomau e Teste Vocacional para Motoristas de Aplicativo e; de Crisóstomo, na obra A Bruxa da Bom Jesus: Histórias que até Zeus duvida.
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Conto publicado no livro A Bruxa da Bom Jesus: Histórias que até Zeus duvida (coletânea de contos, Editora Meia-noite, 2025).
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O RAIO DE LUZ


Hoje acordei,
com um raio de luz.
Olhei para a parede,
vi o rosto de Jesus.

Será que estou acordada,
ou foi um sonho meu?
Nem estou acreditando,
no que aconteceu.

Mesmo assim valeu apena,
porque melhorou o meu astral.
Alguns dias atrás,
cheguei a passar mal.

Não posso perder a fé,
no meu grande Criador.
Está sempre me cuidando,
com carinho e amor.

está o resultado,
de sempre acreditar.
As vezes fico perdida,
ele vem me salvar.

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Poema O RAIO DE LUZ, da escritora Maria Rosa. Natural de Santo Antonio da Patrulha, a autora, reside em Alvorada, RS. Participou das coletâneas Livro do Trabalhador; Pérolas Ocultas; Somos Alvorada e; Raízes. Atualmente, está escrevendo um livro de poesia. 
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Escrito, pela autora, em 17 de junho de 2025.
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VIDA 
Parte I - Verão

O vento frio a faz se arrepiar. Logo depois coloca o capuz do moletom que está vestindo e sentada no gramado em frente ao mar abraça seus joelhos. Chama pelo garoto, que a ignora, indo para a beirada onde o mar atinge com força o paredão muitos metros abaixo.
 Sai daí! Vem logo.
 Calma. Já vou.
Ao longe é possível ver luzes de embarcações no oceano, pequenas estrelas quase tocando o mar. A menina vai até onde ele continua observando o abismo.
 Vem. Por favor.   Ela o puxa pela gola da camisa.   O que você quer aí?
 Tem uma história sobre uma noiva que perambula nas pedras da gruta lá embaixo.
Queria ver se ela podia estar andando por lá hoje.
 Não quero saber dessas coisas. Vem.
 Tá, tá. Qual é o seu problema?
Andam em silêncio de volta até o ponto em que a garota julga seguro. Ainda está com frio e abraça o rapaz, que abaixa seu capuz e acaricia seus cabelos curtos.
 Vou embora amanhã.
 Você já disse isso.
 E você não se importou.
O vento aumenta e se torna um lamento. O fim do verão e o fim das férias.
 Você vai voltar daqui algum tempo.
 E se eu não voltar?
 Daí vai lembrar desse verão por um tempo. Depois vai esquecer. E outras lembranças vão tomando o lugar desses dias.
Ela se afasta e encara o rapaz de pele morena e cabelos escuros curtos.
 Só isso?

 CONTINUA...

Ben Schaeffer é escritor, advogado e contador. Natural de Porto Alegre, reside em Alvorada, RS. Ávido leitor, lê vários gêneros, desde livros de ficção científica, de fantasia e de mistério até histórias em quadrinhos. É autor do livro Dan Plaggo Porto das Bruxas e da série Histórias do Reino de Puphantia (O Grande Assalto e Os Fantasmas de Puphantus).  

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Conto, do autor, VIDA.
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Clique aqui e leia as outras partes do conto.

 

SÃO JOÃO E O BALÃO
Recebido o verão com a pompa e circunstância que merece, 31 concelhos portugueses comemoram o São João. Uma festa tradicional com origem no século XIX, com singularidades.
Na noite de 23, sardinhas, pimentos, broa, vinho tinto e melão reúnem-se à mesa, satisfazendo os festeiros que calcorreiam as ruas da Baixa e Ribeira até à Foz da Cidade Invicta. Neste passeio, com martelos de plástico coloridos, batem levemente nas cabeças de todos com quem se cruzam num gesto de saudação. Este ritual, remonta aos Celtas que usavam os alhos-porros, acendiam fogueiras e queimavam ervas para proteção do mau olhado e invejas. Os portuenses aliam a estas tradições o lançamento de balões que iluminam o céu, abrilhantando os concertos e arraiais desta longa noite mágica. Um fabuloso espetáculo de fogo de artifício lançado de barcos no rio Douro, pinta o manto azul-celeste com as cores do arco-íris.
No dia 24, a homilia é celebrada em igrejas embelezadas com flores. Borrego assado no forno e doçaria regional prestigiam a mesa da refeição principal. O desfile dos barcos Rabelos que navegam no Rio Douro e a visita às cascatas espalhadas pelos bairros típicos da cidade portuense preenchem a tarde.
Dois dias muito animados - comendo, bebendo, lançando balões, martelando cabeças, dançando e confraternizando com familiares e amigos.
Curiosidades e Lendas:
Significado — oposição ao habitual, a Igreja Católica festeja o aniversário do nascimento do Santo que nasceu seis meses antes de Jesus.
Origem os historiadores relacionam estas festividades com as pagãs realizadas na Europa no solstício de verão. Foram cristianizadas, passando a fazer parte do calendário festivo do catolicismo.
Cascatas similares ao presépio, homenageiam e ilustram a vida de João Batista.
Fogueiras remonta à lenda do nascimento de São João, em que Isabel acendeu uma fogueira para avisar Maria, também grávida, cumprindo o acordo entre ambas.
Balões — também remonta aos tempos pagãos, como forma de celebrar o solstício de verão.
Barcos Rabelos embarcações tradicionais portuguesas usadas para transportar pipas de vinho do Porto, desde as vinhas do Alto Douro até as caves em Vila Nova de Gaia.

Alexandra Ferreira é autora de Sombras com Rosto (romance, 2019) e de Um Verão Sem Ti (antologia de contos, 2023). Portuguesa, natural de Viseu, reside no Porto. É engenheira civil, pós-graduada em Direção de Empresas e mestre em Engenharia Rodoviária. Integrante do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL) e do canal Liga dos 7, no facebook. Escreve para revistas literárias e clubes de leitura. Participa, ativamente, de congressos, sendo coautora de diversos artigos científicos.
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Crônica postada, em 24 de junho de 2025, pela autora, no canal Liga dos 7, no Facebook.
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segunda-feira, 23 de junho de 2025

   

 UMA CONVIVÊNCIA


Nada atípico cada chuva, um caos.
Ruas alagadas, o coração nas mãos.
Recordações se perdem na inundação
Que invade e corrói a emoção.

É a natureza pedindo licença,
Tomando de volta sua essência.
E é sobre isso que eu lhes digo:
Ponham o dedo na consciência.

Cuidem do meio ambiente,
Reflitam, sejam conscientes.
Façam diques, limpem os rios,
Deem destino certo aos resíduos.

Reciclem. Pratiquem o bem.
A terra é nossa  mas não é de ninguém.
Somos apenas hóspedes de passagem,
E a natureza cobra com coragem.

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Poema UMA CONVIVÊNCIA, da escritora Simone Soares. Educadora popular e embaixadora da Editora Plena Voz, a autora reside em Alvorada, RS, e, desde 2024, organiza, junto com artistas, apoiadores e escritores, a Feira Literária Independente em Alvorada.
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sábado, 21 de junho de 2025

 

O SEGREDO ENTRE PULOS E PASSOS

Certa manhã, enquanto eu varria as folhas do quintal — aquelas mesmas que insistem em cair só pra me lembrar que o tempo passa — ouvi um menino dizer:
Vô, por que os especialistas falam que se a gente se exercitar, vive mais? O coelho vive pulando e dura só 12 anos. Já a tartaruga, que quase não se mexe, vive até duzentos!
Parei a vassoura. Olhei pro céu, depois pra dentro.
De onde vem essa lógica? O coelho é pura pressa, bicho ansioso. Seu coração bate rápido, como um tambor de guerra. Corre, salta, se assusta com o vento. Vive como quem foge de alguma coisa — talvez do próprio tempo.
a tartaruga… ah, essa carrega a casa nas costas e o mundo nos olhos. Anda devagar, mas vê o caminho. Vive cada passo como se fosse o último. Ou o primeiro. Não tem pressa. Não tem plano de saúde, mas tem paz. E paz, meu filho, é um remédio que a ciência ainda estuda com desconfiança.
Mas eis o pulo do gato — ou melhor, o passo da tartaruga:
Não é o exercício que alonga a vida. É a forma como se vive que a preenche.
O exercício que salva não é só o da academia. É o do abraço apertado. O da risada solta. O da caminhada olhando o céu, com o neto perguntando coisas que nem a ciência ousa responder.
Quem vive acelerado, queima combustível demais. Quem vive parado, enferruja por dentro. O segredo talvez seja dançar no meio-termo. Como quem não tem medo de correr, mas também sabe parar.
E se me perguntarem o que recomendo? Respondo assim:
"Corra como o coelho quando for preciso. Mas viva como a tartaruga quando for bonito."
No fim das contas, o que nos faz durar não é o movimento dos músculos. É o movimento da alma.


Crônica O SEGREDO ENTRE PULOS E PASSOS, do escritor Damião OliveiraNatural de São Gabriel, reside em Alvorada, RS. Autor de diversos livros tais como Sonetos para DeusBuquê de Flores e; Pinhal em VersosCriou projeto Semeando Sonhos, Colhendo Realidades que distribui, de forma gratuita, livros e e-books em escolas, grupos de escoteiros,  associações e sociedade em geral.
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Crônica postada, em 16 de junho de 2025, pelo autor, em sua página no facebook. 
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sábado, 14 de junho de 2025

 

POEMA POBRE


Noite de verão,
ela, olha pela janela,
enquanto toma,
suco de limão.

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Poema POEMA POBRE, da escritora Ironi JaegerCoordenadora do Festival de Literatura e Artes LiteráriasFLAL, a autora reside em Alvorada, RS.
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Poema postado, em 06 de dezembro de 2017, pela autora, em sua página no facebook. 
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sexta-feira, 13 de junho de 2025

 

VELHA SENHORA QUE 
ALIMENTA OS ANIMAIS

Estive na praça da 48 pra tomar cerveja com meu amigo Xará essa semana. E logo veio nosso outro amigo, o Pirata. Um cãozinho de rua que é caolho, ele estava bem gordinho e com a pelugem preta brilhando. O motivo: come há anos moela com ração, gentileza de uma velha senhora que vem todos os dias na praça da 48 alimentar os animais de rua.
Contaram-me que ela teria vindo da Alemanha, há muito tempo. Ficamos observando ela servir a ração, pensei até em falar com ela, mas não tive coragem. Por que será que a bondade é tão natural pra algumas pessoas?
O poeta Libanês Kail Gibran disse uma vez que a natureza do ser humano é boa quando ele doa porque é uma condição da natureza, como uma árvore dar frutos. Reter é perecer.
quem seja bom porque quer reconhecimento, e há quem seja bom porque estudou o que é certo. E há quem doa de si sem pensar em nada, porque lhe é natural, esses estão no coração de Deus.


Graduado em História, o escritor Everton Santos, autor do livro O SOL DOS MALDITOS, é coordenador dos eventos Feira Alternativa e Ensaio de Rua, músico da banda de punk rock Atari e apresentador do canal, no youtube, Consciência Histórica. Mora em Alvorada, RS.
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Crônica postada, em 11 de junho de 2025, pelo autor, em sua página no facebook. 
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