RÔ E ALINE
Rô
e Aline se conheceram nos bancos escolares da EE Jaca Madura, na pequena cidade
de Uru, interior de São Paulo.
Aline,
que é paranaense, chegou em Uru com 7 anos e foi matriculada na 1º ano do
ensino fundamental. Os pais da menina, trabalhavam num armarinho e com o
falecimento do proprietário, adquiriram o imóvel que comportava a loja.
Rô
é natural da cidade de Uru. Morava com os pais e irmão, numa casa própria. O
pai era gerente do Banco Retangular, na cidade vizinha de Reginópolis e a mãe,
fisioterapeuta em Bauru.
Alunas
da mesma turma, Rô e Aline competiam pelas melhores notas e a rivalidade era
estendida para fora da escola. Uma não procurava a amizade da outra, mas se
respeitavam.
Rô,
orientada pelos pais, quando terminou o ensino fundamental e antes de começar o
médio, obteve colocação numa multinacional, em Bauru, como estagiária. Aline
preferiu só estudar.
As
duas garotas frequentavam as festas e os bailes, em Uru. Com a transformação do
corpo, Aline e Rô tinham preferência por rapazes que estudavam na escola ou
moravam na cidade.
Como
viviam no mesmo ambiente, Aline evitava a aproximação de Rô, porque percebia na
colega de escola que ela, trabalhando e estudando, estava mais desenvolvida e
responsável pela própria vida.
Aline
e Rô, às vezes, trocavam algumas palavras, mas a paranaense, se sentindo
inferior, procurava se afastar, impedindo que as duas se tornassem amigas.
Saulo
paquerava Aline e frequentavam as festas da cidade ou ficavam na Praça, ao lado
da escola onde estudavam. Rô monitorava os passos de Ivan.
Nos
bailes, Aline fazia par com Saulo, enquanto Rô dançava com quem a convidava.
Quando Ivan aparecia, ela gostava de dançar com ele.
Rô
gostaria de dançar com Saulo, mas Aline não se desgrudava dele. Depois do
baile, os jovens se dirigiam a Praça. Em grupos ou duplas, ficavam até tarde,
colocando a conversa em dia.
Num
final de semana em Uru, o baile foi substituído pela tradicional festa junina.
Praticamente, a cidade inteira participava. Como Aline e Ivan ainda não tinham
chegado, Rô, quando estava mirando um boneco de pelúcia, no tiro ao alvo,
sentiu a presença de Saulo.
Saulo
olhando a Rô atirar e vendo que ela não foi bem sucedida, disparou a sua
espingarda. O dono da barraca pegou o boneco de pelúcia, caído no pano e
entregou ao jovem.
Rô,
depois da decepção de não acertar o alvo pretendido, virou-se e foi em direção
a barraca de pizza. Antes de fazer o pedido, ouviu a voz do Saulo:
— Duas pizzas de muçarela e dois
refrigerantes, na mesa 4. Quando o garçom serviu o casal, na bandeja tinha um
pequeno embrulho. Saulo falou para Rô:
— Este presente é para selar a nossa amizade.
Rô
desembrulhou o presente. Emocionada, virou-se para Saulo e agradeceu com um
leve beijo nos lábios.
Depois
da festa junina, Saulo e Rô foram para a Praça e ficaram até tarde da noite,
aos beijos e amassos. O boneco de pelúcia foi testemunha de tamanha felicidade
do casal.
Na
semana seguinte, durante as aulas, Rô percebeu muita tristeza no semblante de
Aline. Pensou “será que ela ficou sabendo que eu fiquei com o namorado dela?”
No
intervalo das aulas, vendo que Aline estava conversando com alguns alunos, Rô
se aproximou e ouviu a colega falar:
— A minha mãe foi diagnosticada como uma
doença renal crônica. Como já estava em estado avançado, o médico nefrologista
após avaliar os exames de sangue, de urina e de imagem, constatou que ela vai
precisar de um transplante de rim.
Dona
Catarina, mãe de Aline, submetida ao transplante de rim, com sucesso, agradeceu
à Deus e ao doador.
Rô e Saulo, fiquei contente quando a minha
filha Aline convidou o casal para ser padrinho do meu neto.
Dona
Catarina, se aproximando de madrinha, rogou:
— Devo
a você, Rô, a minha felicidade. Deus te abençoe!
Saulo
Jr pulou nos braços da Rô e apontando para dona Catarina, balbuciou:
— Mamãe, por que ela está chorando?
SOBRE O AUTOR
O escritor Amauri Martins reside na capital e em Bertioga, ambas em São Paulo (SP). Foi professor no magistério paulista, também diretor de escola e supervisor de ensino. Quando se aposentou, sentia falta de alguma atividade intelectual, por isso começou a rascunhar a sua biografia. Hoje, conta com dois romances publicados no Brasil e, em Portugal, os romances "Encantos & Paixões em Estoril" e "A jovem do olhar triste". Mais contos e crônicas publicados em 39 antologias.