DOBRADURAS
As classes estavam dispostas em círculo, na turma B, da Quarta Série. A professora ensinou como fazer um cisne, com dobradura.
— O que era isso antes de fazer as dobras? — A professora perguntou.
— Papel — a maioria respondeu.
— O que ficou?
— Um cisne.
— Como conseguimos isso?
— Um cisne.
— Como conseguimos isso?
— Dobrando.
— Primeiro transformamos num quadrado e depois?
— Primeiro transformamos num quadrado e depois?
— Dobramos e virou um triângulo, e depois um cisne.
A professora pediu que comparassem a dobradura com a vida.
— Nós também nos transformamos — respondeu um menino.
— Quando a gente nasce não tem cabelo, nem dente, só chora — disse uma menina.
— Nós também nos transformamos — respondeu um menino.
— Quando a gente nasce não tem cabelo, nem dente, só chora — disse uma menina.
A professora concordou com as afirmações e comparou as transformações que passam os nossos corpos, assim como a folha.
Quase todos acompanhavam a atividade com muito interesse, menos uma menina: o olhar distante, enxergando longe ou olhando para dentro dela mesma.
A professora desmanchou a dobradura.
— O que ficou aqui?
— Voltou a ser papel — muitos responderam.
— O que ficou aqui?
— Voltou a ser papel — muitos responderam.
A menina continuava do mesmo jeito.
Todos na escola conheciam a sua história. O pai estava envolvido com drogas e fora preso; a mãe, ela não conhecia; a madrasta, quando o pai foi preso, desapareceu também.
A professora chamou-a, abanando a folha que fora dobradura e tornara a ser folha novamente:
— Marina, o que ficou aqui?
A menina permaneceu calada; o rosto contraiu-se um pouco. A professora insistiu na pergunta e ela respondeu, olhando pro papel:
— As marcas.
Terminou a aula.
Sérgio Vieira Brandão, nascido em Alvorada, RS, é escritor, professor, psicólogo e empresário. Mora em Tramandaí, RS (sergio.escritor@gmail.com).
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Conto publicado, em 2004, no livro ACONTECEU NA ESCOLA, coletânea de contos, Ísis Editora.
Excelente conto do escritor Sérgio Vieira Brandão. Gostei muito.
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