sexta-feira, 10 de outubro de 2025

 

VELHOS SÃO OS FARRAPOS! 
A insustentabilidade de uma sociedade “linear” numa economia “circular”

Vivemos numa aldeia global, com circulação permanente de materiais, recursos, ideologias, cultura, pessoas, religiões… Esta mobilidade não é um fenómeno contemporâneo, inovador ou atípico. A humanidade, desde os tempos primordiais, vivenciou fenómenos migratórios cíclicos, decorrentes de estilos de vida nómada, motivos religiosos, geopolíticos ou catástrofes naturais.
A história, com todas as guerras e desastres climatológicos, mostra-nos que somos atletas de uma caminhada sinuosa. Estamos, então, perante um cenário de mutação de uma economia linear, que já se revelou insustentável, para uma economia que se pretende circular, remando para a sustentabilidade.
A minha reflexão parte desta tendência da economia, que foi obrigada a seguir um novo rumo para reduzir a pegada de carbono, numa tentativa de “salvar” um planeta ameaçado.
O que é uma economia circular? É um modelo económico que visa reduzir o desperdício e a produção de resíduos. Este modelo inspira-se nos ecossistemas naturais, que reciclam e reabsorvem recursos de forma contínua.
Esta definição conduz-nos às relações humanas. Estabelecendo um paralelismo com a humanidade — nascer/crescer/envelhecer/morrer — é mandatário assumir este ciclo, valorizando a beleza e a riqueza de cada quarto da circunferência.
Temos de aceitar que a factualidade do envelhecimento é muito mais do que rugas no rosto, cabelos brancos numa cabeleira enfraquecida, perda de algumas faculdades, maturidade. Temos de encarar que a finitude de uma vida ativa, e até por vezes de menor “utilidade”, não é sinónimo de “imprestabilidade”. Temos de rejeitar o conceito de inutilidade, imprestabilidade, velho. Temos de prestigiar a dádiva, o contributo, a sapiência.
Uma sociedade sustentável terá de acolher todas as gerações de forma inclusiva, abraçando os mais idosos, mais vulneráveis e frágeis, garantindo-lhes uma continuidade e posicionamento digno. Reintegrando-os, proporcionando-lhes uma “nova vida”.
Desafio à desconstrução do provérbio “Velhos são os farrapos”, porque, efetivamente, a circularidade da vida diz-nos que até os farrapos têm préstimo e uma história de vida para contar.
Assim, numa sociedade que se pretende verdadeiramente circular e sustentável, é fundamental que saibamos valorizar cada etapa da vida, reconhecendo o contributo insubstituível dos mais velhos. Não basta rejeitar o conceito de inutilidade associado à velhice; é premente criar espaços abertos à participação de todos, incentivar o respeito intergeracional e garantir que todos, independentemente da idade, possam tenham oportunidade de partilhar a sua experiência e sabedoria.

Alexandra Ferreira é autora de Sombras com Rosto (romance, 2019) e de Um Verão Sem Ti (antologia de contos, 2023). Portuguesa, natural de Viseu, reside no Porto. É engenheira civil, pós-graduada em Direção de Empresas e mestre em Engenharia Rodoviária. Integrante do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL) e do canal Liga dos 7, no facebook. Escreve para revistas literárias e clubes de leitura. Participa, ativamente, de congressos, sendo coautora de diversos artigos científicos.
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Crônica postada, em 27 de maio de 2025, pela autora, no canal Liga dos 7, no Facebook.
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VIDA
Parte V - Primavera 
 
Carros buzinam na entrada do parque e ele se pergunta porque não resolveu ir a pé? Irritado, sai da fila em que os demais carros aguardam e deixa o veículo em uma rua distante. Segue caminhando, agora livre da irritação, caminha pela calçada e depois pela estrada que leva aos quiosques, a praia e a escadaria no morro da Guarita. Está sozinho, ainda não está no verão, mas ainda gosta de visitar o parque. Senta-se em uma das mesas de um quiosque, o clima está agradável e o local tem muitas flores de cores diferentes tornando o local mais bonito. Muitas pessoas estão na praia, outras sobem o morro para observar tudo de cima. Fica por ali algum tempo, depois segue para a escadaria.
Você já tinha vindo aqui? — Uma criança pergunta. A mãe segura sua mão enquanto sobem um pouco a frente dele.
Já, mas faz algum tempo que não visito.
Porque não?
Porque... não é barato passar muitos dias aqui, menina.
Ah.
Sorri ao ouvir aquela conversa tão comum, pensando em sua própria mãe. Era uma mulher que se irritava fácil, mas era afetuosa na mesma medida. Sente falta de poder falar com ela. A menina se desvencilha da mãe e corre escada acima. A mulher grita para que pare, mas, como a jovem não a obedece, ambas desaparecem no topo do morro. Sobe as escadas sem pressa, depois caminha pela beirada. Nunca viu a noiva assombrada perambulando por ali. Nem em dias chuvosos e assustadores. De certo, mesmo uma alma lamentosa deve parar com as assombrações em algum momento. A capela, tão gasta, agora provavelmente com bem mais que o dobro de sua idade ainda está lá. Nunca prestou muita atenção, mas lá repousava uma estátua de santa Maria segurando Jesus nos braços.
Nunca tinha prestado atenção nisso.
É bonita, não é? — Uma voz feminina comenta às suas costas.
Se vira e vê a mulher segurando com firmeza a mão da menina.
Hã, é sim.
Com o clima dessa estação se torna mais bonita. Faz muito tempo que não visito esse lugar.
Ele a observa melhor, mesmo sorrindo tem um certo tom de tristeza na sua voz.
Não cumpri a promessa.  Ela diz.
Eu sei.
Mãe, posso ir no laguinho?

 CONTINUA...

Ben Schaeffer é escritor, advogado e contador. Natural de Porto Alegre, reside em Alvorada, RS. Ávido leitor, lê vários gêneros, desde livros de ficção científica, de fantasia e de mistério até histórias em quadrinhos. É autor do livro Dan Plaggo Porto das Bruxas e da série Histórias do Reino de Puphantia (O Grande Assalto e Os Fantasmas de Puphantus).  

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Conto, do autor, VIDA.
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— O quê? Desculpe-me senhor Rosenberg, mas o que quer dizer? 
Talvez o velho Rosenberg tenha me visto na minha pequena exploração, talvez soubesse de alguma coisa. Ele continuou:
— A floresta fala com as pessoas, faz promessas, ilude e manipula. Se você dá ouvidos à ela, acaba primeiro enfraquecendo, depois enlouquece e morre, ela tira tudo de você e nunca cumpre o que prometeu. Não volte lá, é um lugar ruim. A floresta chama as pessoas pra se alimentar delas. É assim desde antes da vila existir. 
O absurdo que eu estava ouvindo era a típica coisa que diria alguém que acreditava em mula sem cabeça e boitatá, e eu achei falta de sensibilidade ele não me dar os pêsames pelo falecimento da minha mãe. A vida fechada em uma realidade tão limitada fazia a superstição voar na imaginação, entretanto, eu não queria simplesmente desfazer da conversa, seria desrespeitoso, o senhor Rosenberg devia estar afetado pela idade. Fingi que me interessava, ele continuou:
— Já viu os bonecos? Sim, aqueles malditos bonecos vodus são feitos pra oferecer pra floresta alguém em sacrifício, é como um ritual. A ligação é feita em troca das promessas que a floresta faz. Quer viver pra sempre? Ver alguém que morreu? Quer se curar de uma doença ou curar alguém? Ela sussurra no ouvido, aparece em sonho, e muitas pessoas da vila secretamente já atenderam o seu chamado, foram elas que fizeram os bonecos. 
Por mais fantasioso que fosse aquele relato eu não gostei de o ter ouvido. Porque no fundo do meu coração, desde criança, eu também sentia que a floresta me chamava. Pensei em perguntar se ele conhecia a pedra negra e o altar, se sabia que um meteoro havia caído há muito tempo atrás, mas como ele iria entender isso? Meteoros do espaço e sincretismo religioso seriam de mais para o meu velho e pacato amigo da vila. Calei-me. Assenti com a cabeça com um olhar condescendente e amigável. Fui embora sem me despedir e nem olhar para trás, tinha que sair daquele lugar o mais rápido possível. 

CONTINUA...

Graduado em História, o escritor Everton Santos, autor do livro O SOL DOS MALDITOS, é coordenador dos eventos Feira Alternativa e Ensaio de Rua, músico da banda de punk rock Atari e apresentador do canal, no youtube, Consciência Histórica. Mora em Alvorada, RS.

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Conto postado, em 25 de março de 2025, pelo autor, em seu blogue Contos do Horror Cósmico. 
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domingo, 5 de outubro de 2025

  

ANCESTRALIDADE

 

Somos Quilombolas
Somos Daomé
Somos Palmares
Somos a África
Somos a Natureza (na sua essência)
Somos a Espiritualidade
Somos as  Benzedeiras
Somos as Parteiras
Somos os Griôs
Somos Sankofa
Somos a resistência contra o apagamento
        histórico e cultural
Somos a nossa História com a nossa Identidade
Somos a nossa ANCESTRALIDADE!
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Poema ANCESTRALIDADE da escritora Cristina Ribeiro, Jade Poeta. (Mora em Alvorada, RS).
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TIPO CABRINI
 

Fala, Alvoradense! Então? 
Conhecendo Alvorada,
de fato e de verdade,
14 mil cabinho,
60 corridas por dia,
Do alvorecer à madrugada,
feitos com zelo e carinho,
na capital da solidariedade.
Tipo um Cabrini do povo,
ao volante, atentamente,
de novo, de novo e de novo, 
escuto o cidadão votante,
ouço a voz de nossa gente. 
Chegando na quebrada, 
corrida finalizada!
— Até logo, mermão!

Natural de Alvorada, RS, Deodato Júnior é motorista de aplicativo e palestrante. Criativo e versátil, o autor costuma criar diferentes pseudônimos para suas obras. São os casos de Salomaucriado para os livros O Lobisomem do LeprosárioProvérbios de Salomau e Teste Vocacional para Motoristas de Aplicativo e; de Crisóstomo, nas obras A Bruxa da Bom JesusHistórias que até Zeus duvida e Boca Braba.

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N.E. Poema TIPO CABRINI, do pseudônimo Uber Alvorada
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sábado, 4 de outubro de 2025

 

A PEDIDO 

 

De um lado o mar
do outro o rio.
Gosto da textura das águas,
minha pele e a minha alma
se conectam com cada interação.
A menina e a mulher apreciam esse olhar,
mas meu âmago intenta uma calmaria
que não brota do desamor ou do esquecimento,
mas sim da plenitude do momento
em que apenas desejo a conexão com meu “Eu”.
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Poema A PEDIDO do escritor Daniel Machado, Geógrafo da Alma! (Mora em Alvorada, RS).
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POESIA DO LOUCO 

 

Levantou já tarde, almoçou só biscoitos, foi sestear sem pressa nas horas da tarde. Acordou às dezoito, vestiu-se ligeiro, foi pra boemia beber sem roteiro. Quando a madrugadao deixava tonto, voltou pra sua cama… mas antes, mais um copo. E assim, no sufoco, ninguém o chamava douto — era só, no fim das contas, um poeta louco.
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Poema POESIA DO LOUCO, do escritor Damião Oliveira
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