
VELHOS SÃO OS FARRAPOS!
A insustentabilidade de uma sociedade “linear” numa economia “circular”
Vivemos numa aldeia global, com circulação permanente de materiais, recursos, ideologias, cultura, pessoas, religiões… Esta mobilidade não é um fenómeno contemporâneo, inovador ou atípico. A humanidade, desde os tempos primordiais, vivenciou fenómenos migratórios cíclicos, decorrentes de estilos de vida nómada, motivos religiosos, geopolíticos ou catástrofes naturais.
A história, com todas as guerras e desastres climatológicos, mostra-nos que somos atletas de uma caminhada sinuosa. Estamos, então, perante um cenário de mutação de uma economia linear, que já se revelou insustentável, para uma economia que se pretende circular, remando para a sustentabilidade.
A minha reflexão parte desta tendência da economia, que foi obrigada a seguir um novo rumo para reduzir a pegada de carbono, numa tentativa de “salvar” um planeta ameaçado.
O que é uma economia circular? É um modelo económico que visa reduzir o desperdício e a produção de resíduos. Este modelo inspira-se nos ecossistemas naturais, que reciclam e reabsorvem recursos de forma contínua.
Esta definição conduz-nos às relações humanas. Estabelecendo um paralelismo com a humanidade — nascer/crescer/envelhecer/morrer — é mandatário assumir este ciclo, valorizando a beleza e a riqueza de cada quarto da circunferência.
Temos de aceitar que a factualidade do envelhecimento é muito mais do que rugas no rosto, cabelos brancos numa cabeleira enfraquecida, perda de algumas faculdades, maturidade. Temos de encarar que a finitude de uma vida ativa, e até por vezes de menor “utilidade”, não é sinónimo de “imprestabilidade”. Temos de rejeitar o conceito de inutilidade, imprestabilidade, velho. Temos de prestigiar a dádiva, o contributo, a sapiência.
Uma sociedade sustentável terá de acolher todas as gerações de forma inclusiva, abraçando os mais idosos, mais vulneráveis e frágeis, garantindo-lhes uma continuidade e posicionamento digno. Reintegrando-os, proporcionando-lhes uma “nova vida”.
Desafio à desconstrução do provérbio “Velhos são os farrapos”, porque, efetivamente, a circularidade da vida diz-nos que até os farrapos têm préstimo e uma história de vida para contar.
Assim, numa sociedade que se pretende verdadeiramente circular e sustentável, é fundamental que saibamos valorizar cada etapa da vida, reconhecendo o contributo insubstituível dos mais velhos. Não basta rejeitar o conceito de inutilidade associado à velhice; é premente criar espaços abertos à participação de todos, incentivar o respeito intergeracional e garantir que todos, independentemente da idade, possam tenham oportunidade de partilhar a sua experiência e sabedoria.
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