segunda-feira, 17 de novembro de 2025

 

CASTANHAS, JEROPIGA E ALEGRIA

Castanhas, jeropiga e alegria: o trio perfeito para uma tertúlia em família ou com amigos, num fim de tarde outonal acalentada pelos raios de sol do verão de São Martinho.
Na minha infância e juventude, a festa litúrgica em honra de Martinho, o padroeiro dos viticultores, era um dos maiores eventos do ano. Sendo a castanha um dos frutos mais abundantes e queridos desta época, o magusto sempre integrou o cartaz.
Nas zonas rurais, antes do entardecer, os aldeãos faziam uma fogueira com grossos troncos para aquecer os foliões durante a noite, que era sempre longa. A população circundava o fogo, deliciando-se com a beleza das chamas e o crepitar da casca dos pinheiros. As castanhas assadas nas brasas degustavam-se com vinho tinto, água-pé ou jeropiga. Confesso-me fã deste último licor, que resulta da adição de aguardente ao mosto, interrompendo o processo de fermentação. O resultado é uma doce bebida alcoólica que adoça os lábios e escorrega pela garganta.
Nestas festanças, é habitual comer caldo verde e outras iguarias confecionadas com produtos regionais. As concertinas, acordeões ou grupos musicais tocam, alentados pela boa disposição dos farristas, que dançam e cantam pela noite dentro.
A tradição diz que, por ocasião do São Martinho, há uma "pausa" no outono, vulgarmente denominada "verão de São Martinho". Estes dias são abrilhantados por quentes raios de sol e noites amenas, o “verão tardio" que nos mima antes da chegada do inverno.
O dia de São Martinho é celebrado por toda a Europa no dia 11 de novembro. Por terras lusitanas, é tão acarinhado que há vários provérbios em sua homenagem. A título de exemplo, cito: “No São Martinho, lume, castanhas e vinho”.
Vivo na cidade Invicta. No mês de novembro, as ruas são abrilhantadas por guarda-sóis coloridos que abrigam do sol, da chuva e da neblina os vendedores, enquanto confecionam as castanhas num fogareiro a carvão. Nunca deixo de admirar a resiliência destes homens de mãos escurecidas e sorriso nos lábios a sacolejar a panela com dedos desprotegidos.
As lendas e a sabedoria popular são riquezas a preservar e legados a transmitir às novas gerações. A história e a identidade dos povos constroem-se, também, pelos costumes e singularidades. Confidencio-me como uma devota costumeira. A maturidade aguça o apetite e a magia dos momentos singelos. Todos os anos perpetuo o ritual: com uma mão cheia de castanha faço um magusto e beberico um cálice de jeropiga.

Alexandra Ferreira é autora de Sombras com Rosto (romance, 2019) e de Um Verão Sem Ti (antologia de contos, 2023). Portuguesa, natural de Viseu, reside no Porto. É engenheira civil, pós-graduada em Direção de Empresas e mestre em Engenharia Rodoviária. Integrante do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL) e do canal Liga dos 7, no facebook. Escreve para revistas literárias e clubes de leitura. Participa, ativamente, de congressos, sendo coautora de diversos artigos científicos.
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Crônica postada, em 11 de novembro de 2025, pela autora, no canal Liga dos 7, no Facebook.
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SANGUE E LITERATURA 

 

Entre as linhas do Cortiço e dos
Becos da memória
desenterro meu Torto arado
e os meus sonhos Supridores
não suprem a angústia
de ver literatura e realidade
imbricadas em uma invisibilidade
gerada por quem domina.
Por quem aos povos originários extermina.
Por quem aos quilombos elimina.
Por quem imputa o ódio a melanina que difere de sua
branquitude.
A arte também faz esse papel
de partilhar dissabores,
todos diante de horrores
que o capitalismo produz.
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Poema SANGUE E LITERATURA do escritor Daniel Machado, Geógrafo da Alma! (Mora em Alvorada, RS).
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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

 

DIANTE DE TI

 

Na sua frente Com um olhar Que faz sucumbir A mente... Percebo que suavemente, Meus olhos dançam Num fogo ardente Superaqueço com a emoção, Enfim... Está chegando o Verão! 

Janaína Rosa é natural de Porto Alegre e reside em Alvorada, RS. Cabeleireira, artesã, cantora e compositora, a escritora é membro do Clube dos Escritores de Alvorada (CEA). Começou escrevendo letras de músicas e poemas para o Instituto Ecovox. Em 2023, teve o poema Sintonia do Mar selecionado para o concurso Poeta Passageiro: poesia na viagem. A autora foi presidente da Associação de Músicos de Alvorada (AMUSA) e é vice-presidente do Instituto Alvorecer. Neste ano, teve o poema Bairro Passo do Feijó selecionado para a coletânea Alvorada por 60.

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Poema DIANTE DE TI. 
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BAÚ DE HISTÓRIAS MANEIRAS
 (Nathiele Fagundes)

Olá, pessoal! No dia 15 de novembro, às 14h, na Feira do Livro de Porto Alegre, terá a sessão de autógrafos com a escritora Nathiele Fagundes. 

 

MINHAS METADES INTEIRAS 


Um dia acordei, assim, Distribuindo tempestades Cansada de ser o “eu” inteira dividi-me em metades.

Algumas foram sopradas pelo vento Outras a chuva apagou. Algumas semeie no jardim E apenas com essas, hoje estou.

Na tempestade jogaram-me pedras Com elas construí um castelo. Vejam bem como é o destino Hoje aqui vivo, e ele é o mais belo.

Para o eu, preso na torre Joguei tranças tecidas de esperança. Deixei voar para longe O dragão com suas lembranças.

Hoje não creio mais em príncipes Nem mesmo com um rei eu sonho. Acredito apenas nas minhas metades, Onde com, e nelas, me recomponho.

Poema MINHAS METADES INTEIRAS, da escritora Ironi JaegerCoordenadora do Festival de Literatura e Artes LiteráriasFLAL, a autora reside em Alvorada, RS.
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CHUVA TRAZ

 

Vento bate na janela, Chuva chega de mansinho, Vento bate na janela, E eu aqui a perguntar, Onde está o meu amor, Que a tempos se foi, Onde está o meu amor, Que nunca mais voltou, Chuva traz, Traz o meu amor, Chuva traz, Traz o meu amor.
 
Natural de Alvorada, RS, Henrique Domingues é  membro do Clube dos Escritores de Alvorada (CEA).
É compositor, músico e poeta. 
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Poema CHUVA TRAZ.
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O ENIGMA NO MURO

 

O prêmio em ouro aos olhos se revela, cento e setenta e quatro em claridade, no muro antigo a cifra se desvela, código vivo da sorte e da verdade.
De seus reflexos brotam sete flores, um, quatro e sete, em ramos de beleza, quarenta e um e quarenta em cores, tecem o véu da fortuna e da nobreza.
Quem decifrar o traço que cintila, verá no muro o mapa do destino, um sopro oculto que jamais vacila, levando o homem ao caminho divino.
Que reste claro aos olhos e ao sinal, é no segredo que a verdade brilha.
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Poema O ENIGMA NO MURO, do escritor Damião Oliveira
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sexta-feira, 10 de outubro de 2025

 

VELHOS SÃO OS FARRAPOS! 
A insustentabilidade de uma sociedade “linear” numa economia “circular”

Vivemos numa aldeia global, com circulação permanente de materiais, recursos, ideologias, cultura, pessoas, religiões… Esta mobilidade não é um fenómeno contemporâneo, inovador ou atípico. A humanidade, desde os tempos primordiais, vivenciou fenómenos migratórios cíclicos, decorrentes de estilos de vida nómada, motivos religiosos, geopolíticos ou catástrofes naturais.
A história, com todas as guerras e desastres climatológicos, mostra-nos que somos atletas de uma caminhada sinuosa. Estamos, então, perante um cenário de mutação de uma economia linear, que já se revelou insustentável, para uma economia que se pretende circular, remando para a sustentabilidade.
A minha reflexão parte desta tendência da economia, que foi obrigada a seguir um novo rumo para reduzir a pegada de carbono, numa tentativa de “salvar” um planeta ameaçado.
O que é uma economia circular? É um modelo económico que visa reduzir o desperdício e a produção de resíduos. Este modelo inspira-se nos ecossistemas naturais, que reciclam e reabsorvem recursos de forma contínua.
Esta definição conduz-nos às relações humanas. Estabelecendo um paralelismo com a humanidade — nascer/crescer/envelhecer/morrer — é mandatário assumir este ciclo, valorizando a beleza e a riqueza de cada quarto da circunferência.
Temos de aceitar que a factualidade do envelhecimento é muito mais do que rugas no rosto, cabelos brancos numa cabeleira enfraquecida, perda de algumas faculdades, maturidade. Temos de encarar que a finitude de uma vida ativa, e até por vezes de menor “utilidade”, não é sinónimo de “imprestabilidade”. Temos de rejeitar o conceito de inutilidade, imprestabilidade, velho. Temos de prestigiar a dádiva, o contributo, a sapiência.
Uma sociedade sustentável terá de acolher todas as gerações de forma inclusiva, abraçando os mais idosos, mais vulneráveis e frágeis, garantindo-lhes uma continuidade e posicionamento digno. Reintegrando-os, proporcionando-lhes uma “nova vida”.
Desafio à desconstrução do provérbio “Velhos são os farrapos”, porque, efetivamente, a circularidade da vida diz-nos que até os farrapos têm préstimo e uma história de vida para contar.
Assim, numa sociedade que se pretende verdadeiramente circular e sustentável, é fundamental que saibamos valorizar cada etapa da vida, reconhecendo o contributo insubstituível dos mais velhos. Não basta rejeitar o conceito de inutilidade associado à velhice; é premente criar espaços abertos à participação de todos, incentivar o respeito intergeracional e garantir que todos, independentemente da idade, possam tenham oportunidade de partilhar a sua experiência e sabedoria.

Alexandra Ferreira é autora de Sombras com Rosto (romance, 2019) e de Um Verão Sem Ti (antologia de contos, 2023). Portuguesa, natural de Viseu, reside no Porto. É engenheira civil, pós-graduada em Direção de Empresas e mestre em Engenharia Rodoviária. Integrante do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL) e do canal Liga dos 7, no facebook. Escreve para revistas literárias e clubes de leitura. Participa, ativamente, de congressos, sendo coautora de diversos artigos científicos.
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Crônica postada, em 27 de maio de 2025, pela autora, no canal Liga dos 7, no Facebook.
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VIDA
Parte V - Primavera 
 
Carros buzinam na entrada do parque e ele se pergunta porque não resolveu ir a pé? Irritado, sai da fila em que os demais carros aguardam e deixa o veículo em uma rua distante. Segue caminhando, agora livre da irritação, caminha pela calçada e depois pela estrada que leva aos quiosques, a praia e a escadaria no morro da Guarita. Está sozinho, ainda não está no verão, mas ainda gosta de visitar o parque. Senta-se em uma das mesas de um quiosque, o clima está agradável e o local tem muitas flores de cores diferentes tornando o local mais bonito. Muitas pessoas estão na praia, outras sobem o morro para observar tudo de cima. Fica por ali algum tempo, depois segue para a escadaria.
Você já tinha vindo aqui? — Uma criança pergunta. A mãe segura sua mão enquanto sobem um pouco a frente dele.
Já, mas faz algum tempo que não visito.
Porque não?
Porque... não é barato passar muitos dias aqui, menina.
Ah.
Sorri ao ouvir aquela conversa tão comum, pensando em sua própria mãe. Era uma mulher que se irritava fácil, mas era afetuosa na mesma medida. Sente falta de poder falar com ela. A menina se desvencilha da mãe e corre escada acima. A mulher grita para que pare, mas, como a jovem não a obedece, ambas desaparecem no topo do morro. Sobe as escadas sem pressa, depois caminha pela beirada. Nunca viu a noiva assombrada perambulando por ali. Nem em dias chuvosos e assustadores. De certo, mesmo uma alma lamentosa deve parar com as assombrações em algum momento. A capela, tão gasta, agora provavelmente com bem mais que o dobro de sua idade ainda está lá. Nunca prestou muita atenção, mas lá repousava uma estátua de santa Maria segurando Jesus nos braços.
Nunca tinha prestado atenção nisso.
É bonita, não é? — Uma voz feminina comenta às suas costas.
Se vira e vê a mulher segurando com firmeza a mão da menina.
Hã, é sim.
Com o clima dessa estação se torna mais bonita. Faz muito tempo que não visito esse lugar.
Ele a observa melhor, mesmo sorrindo tem um certo tom de tristeza na sua voz.
Não cumpri a promessa.  Ela diz.
Eu sei.
Mãe, posso ir no laguinho?

 CONTINUA...

Ben Schaeffer é escritor, advogado e contador. Natural de Porto Alegre, reside em Alvorada, RS. Ávido leitor, lê vários gêneros, desde livros de ficção científica, de fantasia e de mistério até histórias em quadrinhos. É autor do livro Dan Plaggo Porto das Bruxas e da série Histórias do Reino de Puphantia (O Grande Assalto e Os Fantasmas de Puphantus).  

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Conto, do autor, VIDA.
Clique aqui e leia as outras partes do conto.
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