sábado, 21 de setembro de 2024

 

O velho acordou com aquela música de ritmo mais lento do que o seu pulso. A mão estava sobre o peito, o coração batucava: sim-não, sim-não. Não reconheceu quem falou "Vivaldi: L'Estro Armanico, opus dois; concerto número cinco em dó maior" e nem teve certeza de que ouvira isso. Quis pegar os óculos que deixara na cabeceira, mas seus ossinhos de pintassilgo não se mexeram. Não-não, não-não.


Sérgio Vieira Brandão, nascido em Alvorada, RS, é escritor, professor, psicólogo e empresário. Mora em Tramandaí, RS (sergio.escritor@gmail.com).
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Conto publicado, em 1997, no livro A MÚSICA DOS CORPOS, coletânea de contos, Editora Mercado Aberto. 

  

Eu não gosto quando alguém diz isso. Sobre afirmar o que é verdade ou verdadeiro, é fácil de mais dizer. Quem vai assumir que defende a mentira? E quem vai provar o que é verdade? É óbvio que qualquer um sempre vai dizer que fala e defende a verdade.
Os homens de verdade, os de verdade, os verdadeiros. Ainda alguém pode falar: eu sou verdadeiro e isso é o que importa pra mim. Mas quem foi que disse que essa máscara que você usa não dá pra ver de dia ou de noite?
Verdade é uma questão filosófica difícil.
Para Sócrates a busca da verdade era feita por critérios lógicos que buscavam parâmetros universais. Se algo é verdade não deve ser relativo. Assim os seus principais inimigos eram os sofistas, mestres na arte da retórica, os quais não se preocupavam com buscar a verdade. Eles tinham o objetivo de convencer as pessoas com qualquer argumento que demandasse objetivos. Sendo assim, verdade era um ponto de vista.
Entretanto para Nietzsche, que odiava Sócrates e admirava os sofistas, a verdade e o seu conceito eram mais uma das correntes que o Homem moderno carregava. Dizia ele que foram mortas mais pessoas em nome de verdades absolutas do que pelas perguntas e dúvidas.
Eu não acredito em discursos que defendem a verdade. Eu aprecio os desenvolvimentos que demostram o que é real.
Se um dia a verdade absoluta gerou estagnação e fanatismo, e depois o relativismo gerou insegurança, hipocrisia e depressão, hoje talvez seja a hora de uma discussão sobre as dimensões da realidade em evolução dialética com as verdades que nós herdamos.
O homem e a mulher que pensam têm a capacidade de refletir fora de padrões mentais que desenham o mundo antes da nossa ação ou ideia. Observando as contradições em cima dessas verdades, nasce a flor infame e tardia da antítese, a negação do que sempre acreditamos.
Infelizmente essa reflexão tem um caráter filosófico que não é do costume do senso comum se propor a chegar. E ao contrário da auto ajuda, nem sempre gera felicidade: derrubar mitos e crenças pode ser desalentador.
Defender a verdade, então, não é uma questão de honra se nós não provamos que essa verdade é de fato uma realidade, e não uma construção emocional e egocêntrica nossa. Talvez seja difícil, mas quem vai duvidar que é libertador?


Graduado em História, o escritor Everton Santos, autor do livro O SOL DOS MALDITOS, é coordenador dos eventos Feira Alternativa e Ensaio de Rua, músico da banda de punk rock  Atari e apresentador do canal, no youtube, Consciência Histórica. Mora em Alvorada, RS.
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Crônica postada, em 05 de janeiro de 2023, pelo autor, em sua página no facebook. 

 

A razão tinha seu motivo. O motivo a sua razão. Quando o casamento acabou, cada qual se achava no direito de estar certo.
A razão não estava errada e nem correta, visto que tinha apenas razão, mas não tinha motivos. O motivo estava correto porém não tinha razão.
Passaram-se séculos, e hoje pela manhã encontrei os dois na praça discutindo quem tinha motivos e quem tinha razão.
Bom... Eu não tinha motivos para escrever este texto, mas vocês irão dar-me razão que ficou um bom texto.


A escritora Ironi Jaeger é coordenadora do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL). Mora em Alvorada, RS.
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Crônica postada, em 03 de setembro de 2018, pela autora, em sua página no facebook. 

    

 

Tento segurar por entre as mãos, 
então percebo que já não seguro 
as que outrora me guiaram.
Recorro as fotos espalhadas pela casa, 
as dos álbuns impressos e digitalizados.
Deito com a esperança de revê-los em sonhos, 
quiçá tão doces como os da padaria
repletas de guloseimas da infância 
que o tempo não nos dá mais,
pois vocês se mudaram para o meu peito.
Que eu sinto, mas não consigo tocar.

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Poema SONHOS QUE O TEMPO NÃO NOS DÁ do escritor Daniel Machado, Geógrafo da Alma! (Mora em Alvorada, RS).

   

 

 não te quero, quando eu 
durmo.
Pois nessa hora,
Tu já pertences aos meus 
sonhos.
 
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Poema DESEJOS do escritor Daniel Machado, Geógrafo da Alma! (Mora em Alvorada, RS).

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

DE 09 DE  SETEMBRO A 19 DE OUTUBRO DE 2024
ACESSE O FESTIVAL CLICANDO NO TÍTULO DA POSTAGEM
PARA VER A PROGRAMAÇÃO CLIQUE AQUI 

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

RESENHA LITERÁRIA 
E SARAU ALTERNATIVO
(SÁBADO, 31 AGOSTO 2024)

 das 14 horas às 20 horas

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

FEIRA ALTERNATIVA, SÁBADO, 31 AGOSTO 2024.
 

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

 

QUANDO PERCEBO SOBRE O MUNDO
 

Quando percebo sobre o mundo,
percebo que o vazio é diferente,
um vazio em algo que está cheio, 
cheio de todo o mundo, 
cheio de nada, cheio de tudo,
percebo a visão distorcida,
de um grito calado, 
de um olho atento,
porém vedado. 
O vazio é tudo que está cheio,
de etiquetas de preços 
nas prateleiras de um mercado, 
Valemos por consumo,
valemos pelo que temos, 
enfim, o mundo é um vazio,
que está saturado, 
de pessoas ambiciosas ou não,
todas elas dominadas, 
pelo poder do mercado. 
“... há que se trabalhar onde
houver vontade de trabalhar..." 
 
Tiago Lucascheski, um dos idealizadores do Ensaio de Rua e da Feira Alternativa, é escritor e compositor. Mora em Alvorada, RS. 
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Poema publicado em 2003, no livro SEMEANDO PÉROLAS, coletânea lançada pelo Clube dos Escritores de Alvorada (Ísis editora).

domingo, 25 de agosto de 2024

 


Eu não me arrependo de ter acreditado mais uma vez que era possível amar alguém, uma música, um projeto ou uma filosofia de vida.
Eu acredito que cada pessoa tem uma capacidade para desenvolver, e muitos, assim como eu, têm feridas que precisam ser curadas. Quando as pessoas se encontram, é pra que evoluam e se curem juntas.
Mas nem sempre o que é certo se faz pela consciência, na maioria das vezes, é a nossa dor que ensina.
Havia um deserto na minha vida quando eu era mais jovem, e literalmente eu andava por ele e via minha sombra solitária: será que um dia eu vou pra algum lugar? Será que um dia eu vou ser uma pessoa sábia?
É triste ver que no final cada pessoa volta pra casa sozinha pensando que o mundo todo é uma poça de mágoas e a vida só pode ser boa com um pouco de anestesia.
Andando assim, como eu faço, talvez você não chegue a lugar nenhum, porque eu ando pra perseguir a minha sombra, eu faço meu caminho pra pensar, e pelos ermos onde moram as ideias, é fácil se perder, e não querer voltar nunca mais. Mas essa é uma tentação que não se deve ceder: é lá que moram os loucos e os amargurados.
O que eu faço é andar, e perseguir a minha sombra como se vai atrás da felicidade, e no caminho, quem sabe o que podemos encontrar?

Graduado em História, o escritor Everton Santos, autor do livro O SOL DOS MALDITOS, é coordenador dos eventos Feira Alternativa e Ensaio de Rua, músico da banda de punk rock  Atari e apresentador do canal, no youtube, Consciência Histórica. Mora em Alvorada, RS.
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Crônica postada, em 20 de dezembro de 2023, pelo autor, em sua página no facebook. 

 

JORNADA CULTURAL #04 EVERTON SANTOS
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Neste podcast, do dia 17 de julho, o artista e escritor Everton Santos, autor de O Sol dos Malditos, foi entrevistado pelo músico Maninho Melo (programa JORNADA CULTURAL, portal Alvoradense).

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

 
PODCAST
PODCAST DO JABÁ - M.I.R
Claudiomir Corrêa, M.I.R, mora em Alvorada, RS, é poeta, compositor, cantor e músico. 
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No dia 13 de agosto, o artista foi entrevistado pelo apresentador Jabá (PODCAST DO JABÁ) em São Paulo.

  

 

Sempre gostei de releituras.
Nelas um novo véu se descortina
sobre a essência captada que deságua 
em outro mar.
Quando alguém lembra de vocês
através do meu ser,
também me releio e adapto-me 
em um cotidiano já não tão festivo,
mas imensamente grato pela convivência
que a física ausência nunca apagará do meu coração.
 
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Poema ADAPTAÇÃO & RELEITURAS do escritor Daniel Machado, Geógrafo da Alma! (Mora em Alvorada, RS).

 


A canção ao fundo diz 
que nada sei.
O Filósofo dizia que sabia nada saber.
E eu em um rompante Quixotesco
afirmo que só sei que a minha incompletude,
seguirá findando em poesia.

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Poema DÚVIDAS E CERTEZAS do escritor Daniel Machado, Geógrafo da Alma! (Mora em Alvorada, RS).

quinta-feira, 8 de agosto de 2024


LIVRO INFANTIL
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Leitura do livro infantil HISTÓRIA DE NATAL, do escritor Sérgio Vieira Brandão,  realizada pelo canal do Youtube CONTO GENIAL
Volver a los diecisiete
Después de vivir un siglo
Es como descifrar signos 
Sin ser sabio competente

Eu poderia começar essa história assim: "A primeira vez que vi Caine West foi em um café. Ela notou que eu estava encarando e deduziu que fosse um flerte. Quando veio falar comigo, coloquei-a na linha, exasperando tudo o que eu pensava sobre ela ser uma mentirosa, traidora e egocêntrica."
Mas essa não é a minha história, e sim a do livro ENGANO IRRESISTÍVEL, da escritora VI KEELAND. Mas então por que eu poderia começar a minha história imitando o romance "Engano irresistível"? Porque são muitas as semelhanças: a começar pelo envolvimento de um professor com uma aluna; as linhas tortas que separam os dois e as coincidências que juntam; a falta de comunicação entre eles  enfim, tudo que se traduz simplesmente pela famosa (e desgastada) "a vida imita a arte".
Eu poderia também começar essa história dizendo que "A última vez que vi Alana foi em um café". Mas é ruim começar uma história pelo final, pela última vez. Vamos começar de novo, então. 
A primeira vez que vi Alana foi em uma sala de aula da Escola Castro Alves, em Alvorada. Ela notou que eu a estava olhando, mas em vez de desviar o olhar (como faria qualquer estudante tímida) ficou me encarando.
Eu era o professor de Matemática, recém chegado naquela escola; Alana, mais uma adolescente a assistir as minhas aulas.
Seria muito demorado explicar a forma como se deu a nossa aproximação. Não tinha a menor chance de acontecer. Mas aconteceu.
Pegando carona nas coincidências, descobrimos que nossos pais eram originários da mesma cidade da fronteira  descoberta que se deu através do meu sotaque.
E foi do jeito mais adolescente que poderia existir que Alana se declarou apaixonada por mim: um bilhete grampeado na prova bimestral de Matemática.
Uma situação típica de escola: a aluna se apaixona pelo professor.
Alana era a menina perfeita para um relacionamento: discreta, bonita, inteligente, afetiva. Perfeita para qualquer adolescente, jamais para um homem de 40 anos, separado do terceiro casamento, com quatro filhos adolescentes para criar.
Mas ela não queria entender a realidade. E assim tivemos longas e cansativas conversas sobre isso, sentados na grama, à beira da Lagoa do Cocão.
Obviamente, que o maior erro tinha sido o meu. Não deveria, em hipótese alguma ter dado abertura. Mas tudo se resolveu quando eu fui chamado para dar aula num cursinho pré-vestibular em Novo Hamburgo. Assim, deixei Alana para trás e fui para uma oportunidade melhor de trabalho.
Acredito que Alana tenha sofrido  amor adolescente é penoso , mas quando a reencontrei, ela estava casada e tinha dois filhos. Tinham se passado dez anos. Eu chegara aos cinquenta e ela recém completara vinte e sete.
O reencontro foi num supermercado. Fui despejando as compras para a moça do caixa passar e só percebi que era Alana quando ela perguntou: "Mais alguma coisa, professor?" Conversamos rapidamente ali e combinamos que eu a esperaria: em meia hora terminaria o expediente dela.
No estacionamento do mercado ela iniciou dizendo que "não era mais a adolescente bobinha" que eu conhecera. Mostrou as fotos dos filhos e do marido. Contou como era feliz.
E eu senti, durante aquela conversa, que agora a situação invertera: eu sentia uma vontade muito forte de abraçá-la; de não me separar; de não passar mais dez anos longe. Ofereci-me para levá-la em casa, mas ela achou que o marido dela não gostaria. Nos despedimos ali, em meio aos carros que buscavam ansiosos uma vaga para estacionar. Daquele dia em diante pensava nela todos os dias. Mas nunca ousei ligar para o número de contato que ela me dera.
O fato de eu ter parentes morando em Alvorada sempre me trazia de volta à cidade. E por fim acabei reencontrando Alana. Mas dessa vez não foi por acaso: ela me procurou pelas redes sociais. Disse que precisava muito falar comigo. Marcamos o encontro como se tivéssemos nos visto há pouco  mas tinham passado mais de dez anos daquela nossa conversa no supermercado. Nos encontramos em um Café perto da Prefeitura.
A cada reencontro, Alana estava mais bonita. Naquele dia ela estava completando quarenta anos, e um fio de cabelo branco brotava bem no meio da cabeça. Mantinha o ar adolescente e o corpo em forma. Parecia um pouco ansiosa. Contou que a filha mais velha fora morar na Irlanda e o filho conseguira trabalho em São Paulo. Ela havia passado no concurso da prefeitura para Secretária de Escola e trabalhava na Escola Antônio de Godoy. Contou que havia se separado. Explicou os motivos da separação. Por fim, disse que nunca deixara de pensar em mim.
Levei aquilo na brincadeira. Disse que os bons professores são inesquecíveis; que ela sempre seria a minha aluna nota dez. Por fim, disse a ela que agora era eu quem estava casado novamente. Que a minha esposa era maravilhosa. Que estávamos pensando em adotar uma criança. E quanto mais eu mentia, mais perfeita ficava aquela história.
Nos despedimos ali mesmo. Ela não quis que eu a levasse em casa e disse: "Acho que a 'maravilhosa' não gostaria".
Ficamos de manter contato. Mas eu sabia que isso não aconteceria. Tenho certeza de que se eu falasse a verdade ela iria querer ficar comigo.
Cuidar de mim até o final. Mas sei que isso não seria o melhor para ela. Eu havia descoberto a minha doença há cerca de um ano, quando fiz os exames demissionais para iniciar a aposentadoria. Estava ciente da longa batalha pela frente: exames, tratamento, mais exames, mais tratamentos. E o prognóstico não era bom.
Não, eu não estava casado. Não tinha ninguém ao meu lado, nem mesmo os meus filhos (cada um seguira a sua vida). A vida seguiu seu curso; foi pisando tão forte que seria impossível voltar atrás.
Acompanhei os passos dela em direção ao ponto de ônibus. Vi quando ela ajeitou o fone de ouvidos. Não sei que tipo de música ela gosta. Qual a comida preferida. Alguma mania. Não sei quase nada dela. Mas agora já não adiantava mesmo. Paguei a conta, mas não saí. Fiquei ali sentado, olhando as pessoas que entravam e saíam do Café. O barulho da avenida atravessava as vidraças junto com uma luz azulada do neon que iluminava o Café. Para tornar o quadro mais deprimente só faltava uma música tocada por um violinista cego.
Forcei a atenção para tentar escutar a música que saía da caixa de som próxima, mas não consegui. O Café ficara cheio, e as vozes e risadas misturadas com os sons da rua não deixavam a música chegar com nitidez aos meus ouvidos. Ou talvez não fosse exatamente por isso, mas porque vinda de algum lugar a voz de Mercedes Sosa martelasse em meus ouvidos: "Voltar aos dezessete depois de viver um século/ É como decifrar sinais sem ser sábio competente/ Voltar a ser de repente tão frágil como um segundo/ Voltar a sentir profundo como um menino diante de Deus/ Isso é o que sinto neste instante fecundo."

Sérgio Vieira Brandão, nascido em Alvorada, RS, é escritor, professor, psicólogo e empresário. Mora em Tramandaí, RS (sergio.escritor@gmail.com).
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Conto publicado em 2021, no livro CONTOS DE ALVORADA, coletânea lançada pelo Clube dos Escritores de Alvorada (editora meia-noite).