terça-feira, 8 de abril de 2025


 ALVORADA: NOSSA TRADIÇÃO LITERÁRIA

Olá, amigos!
Alvorada é terra de escritores! Poetas, prosadores, ensaístas, compositores, cartunistas. Alguns ainda anônimos, outros já reconhecidos. Nomeio alguns, muitos ficarão de fora. Que os comentários ajudem a recolocar as coisas em ordem e sejam todos lembrados.
José Portela Delavi e Gildo de Freitas foram grandes compositores e trovadores que chegaram aqui ainda no tempo do Passo do Feijó, no auge de sua produção artística. Artur Madruga, escritor, professor e artista plástico, lançou em 2022 seu último título no Brasil, Portugal, Angola e Cabo Verde. Sérgio Vieira Brandão, com dezenas de obras publicadas, alcança todos os públicos. De sua oficina para escritores surgiu o Clube dos Escritores de Alvorada, há 25 anos em atividade. Do Clube, destaco Ricardo Pôrto e Anderson Vicente, com suas narrativas misteriosas em cenários alvoradenses. A ficção/aventura/terror/fantástico, aliás, move muitos jovens autores independentes, como Sérgio Pires, Davenir Viganon, Eduardo Alós e Diego Borella.
Na literatura em quadrinhos, o Coletivo Alvoradense de Quadrinhos tem publicado obras regularmente. Denilson Reis, do CAQ, mantém ativo o fanzine Tchê há mais de 35 anos. Já o Pablito Aguiar é um sucesso nacional com suas entrevistas transformadas em HQs.
Um grupo de contistas e poetas negros têm organizado coletâneas que trazem com muita contundência os temas da identidade e do cotidiano. Entre eles, a Karin Santiago, Cristina Ribeiro, Daniel Machado e Rodrigo Machado. Ainda com foco na identidade afro-alvoradense, a pesquisadora Tainã Rosa vem produzindo material visual e textual de alto valor cultural e pedagógico.
A educadora Simone Soares, o filósofo e músico Everton Santos, e o militar da reserva Damião Oliveira imprimem em suas obras muito de suas experiências pessoais. A questão da mulher, a filosofia e o humanismo estão ali presentes.
Encerro com o poeta José Cezar Matesich Pinto, que nos deixou importante obra poética, sobretudo na música nativista.
Alguns destes autores, entre outros, estarão na II Feira Literária Independente de Alvorada, nos dias 12 e 13 de abril. Aparece!
Abraços!

O escritor Fabiano Soria Vaz mora em Alvorada, RS, é professor e pesquisador. Escreveu artigos para o livro RAÍZES DE ALVORADA e o site A Trincheira: a História em debate em Alvorada. Autor de O PIONEIRO DO PASSO DO FEIJÓ, conto da coletânea CONTOS DE ALVORADA, do Clube dos Escritores de Alvorada (dizedoria@gmail.com).
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Crônica, do dia 07 de abril, postada pelo autor na página do Portal Alvoradense, no facebook.
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domingo, 6 de abril de 2025

 

A PRISÃO DA MENTE (Capítulo I - Parte II)

Clara o imaginou em uma pintura sem camisa, cabelos um pouco mais longos para ressaltar seus traços faciais.  Os olhos castanhos pareciam hipnotizar e capturar a atenção de todos por causa do brilho astuto e penetrante, capazes de demonstrar charme, mas também ocultar intenções, como ela descobriria mais tarde.
Ele notou que ela analisava e observava todos os detalhes do seu corpo, cabelos e rosto. Victor possuía um rosto bem definido, com maxilares marcantes que dão a ele uma aparência atraente como os deuses gregos dos quadros que ela admirava.
Sua pele suave, bem cuidada, levemente bronzeada, sugerindo muitas horas ao ar livre. Apresentou seu melhor sorriso cativante e enigmático, com lábios bem desenhados que se curvam em um sorriso sedutor, ou endurecer em um sorriso irônico, como ela descobriria tarde demais.
Estava vestido impecavelmente com uma camisa de botão bem ajustada, calças elegantes e sapatos de couro preto. No pulso um relógio elegante de alta qualidade, indicando um gosto por coisas que expressam status e ostentação.
Victor se movimentou graciosamente com gestos fluidos e seguros, sorriu de uma maneira sedutora e a tocou e esse toque exalou nela uma sensação de confiança acolhedora.
"E você? Qual sua história? O que a levou a um lugar tão inspirador?" Perguntou Victor, fingindo não a conhecer enquanto seu sorriso se ampliava de forma quase natural, mas friamente calculado, como se estivesse jogando suas cartas em um jogo em que já conhecia as jogadas.
Enquanto Clara tentava formular uma resposta, uma parte dela se sentia atraída pelo homem, enquanto a parte racional perguntava como escapar daquela situação. Naquele instante, em meio a risos e conversas, o que era para ser uma noite de arte e conexões, se tornava a linha tênue entre a atração e a manipulação, e Clara estava prestes a ser puxada para dentro da teia da ilusão.
Clara não notou o exato momento em que a magia se desfez, e quando como ela fala mais tarde, quando seu espírito voltou ao corpo, Victor havia assumido uma postura ereta e profissional com seu bloco e caneta, deu início a série de perguntas. Deixando bem óbvio, para a confusa Clara que era um profissional e estava ali a trabalho. Ela sentiu vergonha dos sentimentos que ele despertou em seu corpo e respirou fundo para disfarçar a atração que sentia por aquele homem sedutor.
Para ela só restava responder as perguntas, sorte que decorou suas falas, caso contrário, não encontraria as palavras. Foi fotografada dezenas de vezes em várias posições que ela considerou desnecessárias, mas não perguntou.
No outro dia a entrevista no jornal era uma sucessão de elogios a ela dirigidas, e foram acrescentadas falas que ela não proferiu, e suprimidas suas falas reais, mais uma vez ela não questionou, afinal, tinha a chance de ser famosa.
As imagens estavam lindas e a retratam como uma profissional. E, ela se viu em um mar de felicidade. Suas pinturas demonstraram, um mundo alegre e colorido, em apenas dois dias pintou quadros suficientes para sua próxima exposição.
Foi quando ela se deu conta que estava interessada por aquele repórter sedutor e charmoso. Com certeza não o veria novamente, mas estava feliz porque ele por alguns dias foi sua inspiração e lhe rendeu alguns quadros vendidos e uma nova exposição, para a qual foi convidada. 

 (Continua...)


A escritora Ironi Jaeger é coordenadora do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL). Mora em Alvorada, RS.
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Trecho do romance A PRISÃO DA MENTE, postado em 07 de março de 2025, pela autora, em sua página no wattpad. 
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sábado, 5 de abril de 2025

  

 

Ah! Que vontade de escrever novamente. 
Hei! Volte aqui! Não me deixe sem inspiração.
Tarde demais, já se foi...
Era apenas o reflexo de um beija-flor imaginário,
que às vezes insiste em pousar no meu peito.
 
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Poema PÁSSARO IMAGINÁRIO do escritor Daniel Machado, Geógrafo da Alma! (Mora em Alvorada, RS).
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 RECADO PARA A SEMANA


Bem-vindo,  
Bem-vivido,  
Bem-aventurado,  
Bem-recheado.  

Que não nos faltem sorrisos,  
Lutas e determinação para alcançar nossos objetivos.  
Que não nos faltem sonhos,  
Amor e fé para compartilhar.  

O percurso ocorre ao longo do tempo,  
A cada segundo, a cada minuto, a cada hora,  
Que nos ensina.  

Viva o hoje, viva o momento,  
E viva a vida.

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Poema RECADO PARA A SEMANA, da escritora Simone Soares. Educadora popular e embaixadora da Editora Plena Voz, a autora reside em Alvorada, RS, e, desde 2024, organiza, junto com artistas, apoiadores e escritores, a Feira Literária Independente em Alvorada.
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12 de abril
das 13h às 18h
Ginásio Municipal Tancredo Neves 

13 de abril
das 08h às 17h 30min 
Salão de eventos do SIMA 
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TESOURA (Parte I)

Não precisava de despertador para acordar. Ainda não amanheceu e ele abre os olhos, como se saísse de um sono sem sonhos. As dores no quadril acordam com ele, que fricciona a lateral do corpo mais dolorida e, lentamente, inicia o processo de levantar da cama de colchão velho e com a espuma enfraquecida. Já faz uns anos que, ao levantar, olhava para o lado da cama vazio. É só por um instante que se permite. Lá fora, ouve a chuva caindo suavemente sobre a plantação de milho. Levanta, pega algumas roupas, vai até o chuveiro, seu corpo magro e ossudo dói em alguns lugares além do quadril. Toma banho, escova os dentes de que tem orgulho. Tem quase todos e já está com quase oitenta anos. Depois, já seco, penteia os cabelos brancos e ralos, faz a barba com cuidado, deixando apenas o bigode amarelado pela nicotina. Veste calças de linho curtas, uma camisa branca cujo tecido gasto é quase transparente. Chove, mas está abafado. É verão, ainda que seja um verão com um clima que parece o outono, a temperatura ainda é alta. Por fim, calça as alpargatas velhas. Só então vai à cozinha onde prepara café preto que bebe acompanhado de pedaços de pão de milho e erva doce.
Vai para a frente da casa, onde sua cadeira está ocupada pelo gato. Ele nunca deu nome ao gato cinzento, às vezes acha que o animal sempre esteve por ali, mas é porque sua memória já não é mais tão boa. Ele ergue o animal até a altura de seus olhos, que o encara preguiçosamente, sem se opor. Depois o coloca no chão com delicadeza. O bichano se deita ao lado da cadeira, onde colocou um tapete. Senta-se na cadeira, observa a chuva caindo no pátio que precisa ser mais bem cuidado. Ao lado, à esquerda, sua plantação de milho. Teve que pedir que o ajudassem. Não tinha forças, a dor no quadril, a coluna reclamando. Era isso ou nada. Optou pelo pedido, pagou o serviço, teria que pagar para que colhessem. Voltou à cozinha, aqueceu a água em uma chaleira velha, fez um chimarrão, voltou à cadeira. Antes disso, pegou um petisco e deu ao gato. Ficou parado na porta enquanto via o bichinho comendo com voracidade. Será que é velho como eu esse gato? Tinha ouvido alguém dizer que esses animais podiam viver anos e anos. Talvez seja então, porque não me lembro de quando ele veio pra cá... Deve ser.
Sentou-se, encheu a cuia com água quente, as bolhas subindo enquanto fazia isso, a erva de desmanchando do monte, mas apenas o necessário, sugou o sabor amargo do mate, o som da chuva continuou. Plic, plic, plic caindo pela calha em um balde com uma arvorezinha. Sozinho ali, observando a chuva, a estrada, o campo a sua frente. De tempos em tempos um carro passava na estrada de terra cheia de buracos. Era uma linha reta ali, mas os buracos faziam os motoristas fazerem curvas, tentando evita-los, sem muito sucesso. Ficou ali, sentado, as canelas brancas e magras a vista, a calça era a curta, não tinha outra. Não se importava muito com isso. Àquela altura da vida não se importava com muita coisa. Talvez com a dor no quadril, mas melhorava, só precisava se mexer. Encheu outra cuia, ficou segurando-a sem beber.
Atravessando a estrada com um casaco sobre a cabeça, vinha uma vizinha. Passou por todas as poças com pequenos pulos, passou pelo portão que era preso por um pedado de corda e depois veio até a entrada da casa. Era jovem, já a vira algumas vezes nos últimos dias, mas nunca tinha falado com ela.
 Oi!
 Oi.  A voz rouca de quem pouco a usa.
 O pai pediu pra perguntar pro senhor se tem uma tesoura de poda.
Levantou-se sem dizer nada. Foi aos fundos da casa, deixando a menina na entrada. Ficou ali por um tempo, procurando, procurando. Encontrou em uma das caixas mais ao fundo, junto com algumas roupas que ele não conseguiu doar ou jogar fora. Tinha um vestido branco, cheio de grinaldas. Olhou, ficou ali parado, tesoura na mão.
 Moço?
Parecia tão longe, já não ouvia bem, mas a voz se aproximou e ele voltou ao presente. Olhou cansado para trás, a menina tinha vindo atrás dele. Devia ter uns quinze anos, tinha os olhos muito escuros que faziam um contraste interessante com os cabelos louros que guarneciam sem rosto redondo.
 Achei a tesoura.  Disse entregando o objeto.

 (Continua...)


Ben Schaeffer é escritor, advogado e contador. Natural de Porto Alegre, reside em Alvorada, RS. Ávido leitor, lê vários gêneros, desde livros de ficção científica, de fantasia e de mistério até histórias em quadrinhos. É autor do livro Dan Plaggo Porto das Bruxas e da série Histórias do Reino de Puphantia (O Grande Assalto e Os Fantasmas de Puphantus).  
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Conto do autor TESOURA.
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A PRISÃO DA MENTE (Capítulo I - Parte I)

A noite de outono estava perfeita. O brilho suave das luzes que refletiam seu brilho nos lustres de cristal da galeria de arte refletia na superfície das paredes brancas, formando um cenário de conto de fadas. A música suave preenchia o ar dando uma sensação de sofisticação e tranquilidade.
Clara, estava tensa. Encostada na parede, observava as pessoas que circulavam ao seu redor, estava em seu mundo, absorvendo o ambiente efervescente, cercada por cor e inspiração, por trás do seu olhar atento e pelo sorriso nervoso que tentava disfarçar, havia uma crescente inquietação.  Seria sua primeira entrevista oficial para o jornal local. Preocupada com o que falaria na entrevista, relembrou mais uma vez o roteiro ensaiado por incontáveis horas diante do espelho.
Respirou fundo, fechou os olhos e sentiu que estava preparada para a entrevista... Foi então que ele entrou
Victor surgiu na entrada como uma presença magnética, prendendo instantemente a atenção de todos na sala. Usava um terno escuro, bem ajustado que acentuava sua figura esculpida, exalando confiança e charme.
Seu cabelo cuidadosamente desarrumado, moldava seu rosto atraente, enquanto uma expressão de autoafirmação iluminava sua aparência. A música pareceu silenciar apenas para ele, como se o universo estivesse esperando que ele fizesse algum truque de mágica espetacular.
Com um movimento gracioso, Victor caminhou com propósito, seus passos firmes e seguros, garantindo que todos os olhos estivessem voltados para ele. Onde Victor passava, as conversas silenciavam e sussurros de admiração e curiosidade se espalharam pela galeria.
O que aquele renomado repórter fazia naquele local? Na exposição de uma artista emergente, mas ainda não famosa. Era a pergunta que todos faziam aos sussurros.
Ele sabia que causava esse efeito e o usava com maestria principalmente quando tinha segundas intenções ou melhor uma nova conquista. Cada gesto, cada sorriso, era uma peça de um quebra-cabeça que montava para atrair sua vítima perfeita, escolhida a dedo muito antes da conquista.
Para que o seu teatro fosse notado por seu alvo, aproximou-se de um grupo de mulheres, seu sorriso se ampliou e seus olhos brilhavam com uma malícia sedutora. Ele começou a falar, sua voz suave e envolvente moldando as palavras com uma técnica que ele dominava, a sedução.
"Senhoras, vocês precisam conhecer as obras dessa pintora, ela transforma a dor em beleza" dizia gesticulando dramaticamente na direção da pintura onde Clara se encontrava.
Clara, à distância, sentiu uma mistura de curiosidade e apreensão. A forma como ele se movia era hipnótica: Havia um brilho em sua confiança que queria, ansiava pela aproximação com aquele desconhecido.
Victor, lançava olhares afiados, mas através deles, Clara notou algo mais: uma astúcia que parecia perigosa, isso no entanto, não impediu que ela se sentisse irresistivelmente atraída por seu jeito enigmático.
Ele encarou Clara, e em um instante, o mundo ao seu redor se dissolveu. O brilho astuto em seus olhos parecia convidá-la a se juntar à conversa, a deixar sua insegurança. Ela ficou ali parada, feito boba, então ele caminhou em sua direção com passos calculados e se apresentou:
Prazer. Meu nome é Victor. Sou o repórter que vai te entrevistar. Uma confusão de sentimentos se apossou de Clara, quando ele se aproximou invadiu o espaço ao seu redor, fazendo com que ela por um momento esquecesse suas incertezas e inseguranças.
O homem à sua frente era de estatura média a alta, ela o mediu, mentalmente e chegou a conclusão que devia ter uns 10 cm, a mais que ela. Tinha um corpo bem definido que demonstrava uma certa vaidade e cuidado com sua forma física. Sua presença era imponente, mesmo que não queira ser.
Postura ereta e confiante, que transmite segurança para ele mesmo. Ela notou que o cabelo de Victor eram escuros ou pretos, em contraste com sua pele. Estavam ligeiramente desarrumados, mas de maneira que parecia intencional e estilizado, adicionando um certo ar de despreocupação.

(Continua...)

A escritora Ironi Jaeger é coordenadora do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL). Mora em Alvorada, RS.
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Trecho do romance A PRISÃO DA MENTE, postado em 07 de março de 2025, pela autora, em sua página no wattpad. 
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O POETA ADORMECIDO

 

Dorme o poeta, sereno e calmo,  

Sobre as plumas do esquecimento,  

Enquanto o vento sopra em seu salmo  

Versos de um último pensamento.  


No leito de sombras, o sonho vem,  

Lúcido véu entre mundos velados,  

Vê-se além, além de quem,  

Caminha em ecos, passos calados.  


A morte lhe fala, doce, gentil,  

Como quem canta um canto antigo,  

Sem foice ou dor, sem ser hostil,  

Apenas um toque, um afago amigo.  


ele sorri, ao se ver partindo,  

Num barco de névoa, flutuando leve.  

Morre dormindo, mas segue indo,  

Vivo no sonho que nunca se atreve.  


Mas outros dizem: "Ele se foi!"  

Não sabem que agora é luz errante,  

Que em cada estrela, em cada "depois",  

Seu verso vive, eterno e vibrante. 

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Poema O POETA ADORMECIDO, do escritor Damião Oliveira
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A FLORESTA DOS MORTOS (Parte I)

Meu nome é Alan Scherer, mas isso não importa mais. Decidi escrever em um caderno de notas, como se fazia antigamente, os fatos  que me levaram até essa condição degradante em um hospital psiquiátrico, um nome melhor para o que chamávamos antes de hospício. Demorou pra eles me darem caneta e papel, escrever sempre foi um dos meus passa tempos preferidos, um dia cheguei a sonhar em escrever um livro, contudo faltava-me  criatividade e sentimento. Não basta saber as melhores palavras, é necessário inspiração para atingir as emoções mais latentes, e a minha preferida sempre foi o medo. É estranho para mim pensar que, então, este texto chegará perto disso através de experiências que eu jamais desejaria de ter vivido, e até hoje me pergunto se foram reais ou produto da minha mente fantasiosa e fraca. Estarei verdadeiramente louco? Os horrores do desconhecido, incompreensíveis para minha mente simplória, penso eu, só poderiam realmente terem me levado à loucura e à insanidade. Será com o que tenho ainda de lucidez, que escreverei essas próximas linhas que tratam de memórias e sonhos, sim, sonhos. Pois desde cedo eu desenvolvi um dom peculiar, era uma capacidade que na prática não servia para nada, mas para mim trouxe maravilhas que aqui não terei tempo para contar. Eu conseguia muitas vezes estar consciente durante os sonhos. 
Tudo começou com a morte do meu velho pai quando eu ainda era criança. Fiquei muito triste, como não poderia deixar de ser, mas minha querida mãe na época entrou em depressão profunda, apesar de não aceitar. Meu pai era um homem tranquilo e gentil, lembro dele com a sua marreta quebrando algumas pedras que atrapalhavam o seu belo jardim e plantação de alfaces nos fundos da nossa casa. Ele trabalhava na lavoura em terras arrendadas, era forte e eu o admirava, quando ficou doente nada restou do homem que um dia fez um jardim e quebrava pedras. Minha mãe, após o sepultamento, começou a apresentar comportamento errático e falho, taciturno e, por fim, totalmente apático. Sentava-se na sua cadeira na varanda, ao lado da cadeira vazia do meu pai, e ficava horas olhando para uma grande figueira ao lado da casa, e às vezes para a floresta que ficava mais além de um campo no final da nossa rua. Depois de algum tempo ela simplesmente começou a dizer que as coisas iriam melhorar. O local onde morávamos era uma vila agrícola que abastecia as cidades vizinhas, chama-se Vila do Sacramento, mas todos apenas chamavam simplesmente de vila, como se o lugar por não ser grande o suficiente não merecesse um nome. Havia poucas famílias, diziam que eram os descendentes dos moradores que vieram ocupar o lugar no início do século passado. Certamente os meus familiares de gerações passadas estiveram por ali, derrubando árvores, cortando mato e fazendo suas moradias. A nossa casa tinha pertencido ao meu avô, o pai da minha mãe, era de madeira gasta pelo tempo, e a pintura branca estava sempre descascando, ficava no final da rua onde estava a maldita figueira. 

(Continua...)


Graduado em História, o escritor Everton Santos, autor do livro O SOL DOS MALDITOS, é coordenador dos eventos Feira Alternativa e Ensaio de Rua, músico da banda de punk rock Atari e apresentador do canal, no youtube, Consciência Histórica. Mora em Alvorada, RS.
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Conto postado, em 25 de março de 2025, pelo autor, em seu blogue Contos do Horror Cósmico. 
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