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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

 

Dizem que as crônicas são efêmeras e por isso um estilo de escrita quase inútil. rônicas falam de coisas presentes, do agora, são coisas de momentos e portanto passageiras.
Dizem que quando terminar uma crônica ela já será passado, mas tudo muda em segundos. E até mesmo a crônica da nossa vida precisa mudar para que surjam novas histórias e sempre haverá novos fatos a serem contados.
Crônicas são extremamente conectadas ao contexto em que são escritas por isso, com o passar do tempo perdem seu sentido. Crônicas são textos curtos, de vida curta, mas que são capazes de descrever a essência do momento em que é escrita.
Concordo que crônicas vivem apenas por instantes assim como as flores na primavera, mas nem por isso perdem seus encantos. As crônicas são sementes plantadas para o infinito assim como esta, que escrevo neste momento.
As crônicas podem até serem efêmeras, mas são testemunhas presentes nos fatos desde os mais simples até os mais complicados.
Mesmo que as crônicas sejam breves, elas merecem serem escritas.

A escritora Ironi Jaeger é coordenadora do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL). Mora em Alvorada, RS.
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Crônica postada, em 04 de setembro de 2018, pela autora, em sua página no facebook. 

sábado, 21 de setembro de 2024

 

A razão tinha seu motivo. O motivo a sua razão. Quando o casamento acabou, cada qual se achava no direito de estar certo.
A razão não estava errada e nem correta, visto que tinha apenas razão, mas não tinha motivos. O motivo estava correto porém não tinha razão.
Passaram-se séculos, e hoje pela manhã encontrei os dois na praça discutindo quem tinha motivos e quem tinha razão.
Bom... Eu não tinha motivos para escrever este texto, mas vocês irão dar-me razão que ficou um bom texto.


A escritora Ironi Jaeger é coordenadora do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL). Mora em Alvorada, RS.
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Crônica postada, em 03 de setembro de 2018, pela autora, em sua página no facebook. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2024


O dia começou cinza, com as nuvens carregadas anunciando a chegada da chuva. O som das gotas batendo suavemente no telhado trouxe uma sensação de aconchego e tranquilidade. Era como se a natureza estivesse tecendo reclamações que os humanos não estavam dispostos a ouvir. Enquanto as cidades acordavam aos poucos, as ruas eram tomadas por guarda-chuvas coloridos e solitários passantes que caminhavam apressados para escapar da umidade.
Mas alguns, como eu, pararam por um momento para apreciar a dança das gotas caindo, criando padrões hipnóticos nas poças de água. A chuva trouxe uma calmaria diferente, um convite para desacelerar e se permitir contemplar a vida de uma forma mais poética. Nos bares, o cheiro de café recém-passado se mesclava com o aroma da terra molhada, trazendo uma sensação de nostalgia.
À tarde a chuva se intensificou, transformando o ritmo acelerado da cidade em um suave murmúrio de grossas gotas batendo no chão e criando poças intensas. Os carros agora passavam lentamente pelas ruas, criando ondas de água que refletiam as luzes dos postes, em um espetáculo visual digno de contemplação.
Os pássaros sentiram a tensão e cantaram de uma forma diferente, triste, agitados procuraram abrigo nos galhos mais altos das árvores. O canto se misturou ao som da chuva e os humanos não pararam para ouvir a melodia da natureza.
Enquanto isso nas casas e apartamentos, famílias reunidas em torno de uma xícara de chá ou café quente, ouviam incrédulos o que acontecia, cidades inteiras eram inundadas pela mesma chuva que antes proporcionava aconchego e contemplação.
A noite chega silenciosa com a chuva ainda caindo. Os carros permaneceram nas ruas, as casas que eram lares seguros e aconchegantes viraram lagos. Os transeuntes eram agora pessoas que fugiam da fúria da água. Nos bares não havia café recém-passado, mas lama e água. A chuva intensa tomou ruas, avenidas, carros, não fez distinção entre ricos e pobres. Deixando-os em pé de igualdade e sofrimento.
Cidades inteiras alagadas, destruídas, um incalculável prejuízo e muita tristeza. A chuva que começou poética e suave, causou a maior destruição já vista em um estado brasileiro. Mas em tudo isso o povo gaúcho conheceu a solidariedade dos irmãos brasileiros de Norte ao Sul, e até de países estrangeiros.
Levará tempo até que possamos novamente enxergar poesia em um dia de chuva. Aos poucos entendemos que apenas usamos o espaço que é das águas, e quando ela chega para retomar seu espaço por alguns dias, nós humanos devemos sair do caminho, sobreviver, e reconstruir.

A escritora Ironi Jaeger é coordenadora do Festival de Literatura e Artes Literárias (FLAL). Mora em Alvorada, RS.
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Crônica postada, em 24 de junho de 2024, pela autora, em sua página no facebook. 

sábado, 16 de julho de 2022

RAIOS E TROVÕES

Ela chegou junto com a tempestade, olhos grandes, curiosos, profundos, assustados. Cabelos revoltos, soprados pelo vento que trazia o frio outonal. Sua boca pequena, perfeita, lábios delineados, por um batom de uma cor um pouco mais escura que o tom da sua pele. Curiosamente seu cabelo castanho avelã, parecia misturar-se ao cinza da tempestade.

Fiquei ali, parado olhando para ela, feito um babaca. Enquanto a nossa volta o mundo parecia desabar. Pela primeira vez na minha vida fiquei sem reação, o que fazer, que decisão tomar, quem era eu? Parte da minha mente dizia: socorre a moça”. Mas minhas pernas não obedeciam, o cérebro estava fixo naqueles olhos castanhos da cor da tempestade. A natureza sublime em sua perfeição, escolheu aquela hora, aquele lugar, para apresentar-me a minha amada.

Ela, a mãe natureza, em meio a sua fúria, dizia:

Pega. Estou te oferecendo a minha obra perfeita, a minha mais nobre criação. Quem seria ela? Suas roupas simples, porém elegantes. Será que já a vi em algum lugar? Ou ela foi literalmente soprada na minha frente?

Fiquei ali parado, segurando a porta da minha choupana. Uma parte de mim sabia que precisava entrar e abrigar-me, mas a outra metade não conseguia mexer sequer um músculo. Eu estava hipnotizado. A mãe natureza já estava impaciente com minha indecisão, pois soprou com mais força ainda o vento. Mas para mim, não existia tempestade na natureza, apenas aquela que se formou dentro de mim. E como se a mãe natureza dissesse:

Se mexe imbecil!

Um trovão se fez ouvir seguido de um raio que riscou as nuvens e veio parar a poucos metros de onde a moça estava. Nada que lhe oferecesse algum perigo real.

Santa mãe!

Exclamei assustado, enquanto corri para alcançar a moça no exato momento em que ela desequilibrada com o susto, estava prestes a desabar numa poça de água.

agora me dei conta que chovia e que ela estava toda molhada. E de seus lábios saiu um som divino, meloso.

Obrigada por me salvar.

Eeeuu, eeuu.

Para de gaguejar na frente da moça, pensei comigo.

Eu não me lembro quem sou, respondi sem tirar o meu olhar dos olhos cor da tempestade.

No céu um novo clarão, e a luz caiu aos meus pés… Acordei no hospital ouvindo minha mãe dizer:

Tu é doido é! O que tu queria fazer, abraçando a árvore no meio da tempestade?

A autora do conto RAIOS E TROVÕES, Ironi Jaeger, é escritora e coordenadora do Festival deLiteratura e Artes LiteráriasFLAL.
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*Postagem atualizada em 13 de agosto de 2024.