quarta-feira, 26 de junho de 2024

UM CONTO DE FLORES

Em uma aldeia na entrada das terras do reino da Vitória Régia havia uma rua muito conhecida pelos viajantes e mercadores. Depois de longas viagens por estradas perigosas e caminhos íngremes, ali encontravam uma aconchegante hospedaria e uma movimentada taberna, onde achavam pousada e alimento. Os homens se aglomeravam alegres e faziam grande algazarra. Quem passava por ali sentia a festiva agitação e o rebuliço constante.
Porém, na medida que se adentrava pela rua, todo aquele clima de festa desaparecia, dando lugar a um ambiente pobre e sombrio. E lá no fundo, encostada no muro de um castelo em ruínas, havia a choupana de um humilde carvoeiro. Aos trinta e cinco anos, já parecia um velho, devido ao seu trabalho. Ele morava com a mulher, a filha de quinze anos e oito filhos mais novos.
A filha do carvoeiro, Hortênsia, desde cedo teve que trabalhar com muita dureza, ajudando sua mãe, a lavadeira Magnólia, nos serviços domésticos da casa. Logo que amanhecia, tinha que acender o fogo, preparar as parcas refeições para a família e cuidar dos irmãos mais novos. Quando não havia o que comer, saia como uma mendicante pelas ruas da aldeia em busca de alimentos. Muitas vezes ia pegar os restos de comida que eram jogados por trás da taberna. Sentia-se envergonhada, mas já tinha ouvido várias vezes o pároco dizer na igreja que a pobreza era a vontade de Deus e a verdadeira riqueza seria encontrada no reino celestial.
Contudo, apesar de toda esta vida de penúria, Hortênsia era uma moça cheia de esperanças. Romântica, vivia sonhando com uma festa de aniversário cheia de doces em um castelo rodeado de flores. Todos os anos era a mesma coisa, a mesma ilusão! E a cada ano seu aniversário passava sem um doce sequer.
De vez em quando, Hortênsia via partir da taberna, carroças carregadas de cestas com doces de diversos sabores. Em outras ocasiões, carruagens bem ornamentadas vinham pegar encomendas enormes. Nestes casos, ela sabia que elas iam para as festas dos nobres nos castelos e até mesmo para o palácio do rei. Lá, os aniversários do rei, da rainha, príncipes e princesas eram comemorados com grandes banquetes e bailes, onde haviam tantos doces que até se estragavam.
Além de desejar muito uma festa repleta de doces, Hortênsia sonhava com as estórias que ouvia pela aldeia. Sempre que havia festas religiosas ou folguedos populares, apareciam companhias de saltimbancos ou grupos de trovadores, que encenavam ou recitavam belas estórias, como as que tinham fadas madrinhas socorrendo suas protegidas. Porém, nessas estórias, sempre as personagens principais eram princesas deslumbrantes que no final se casavam com príncipes maravilhosos e vivam felizes para sempre em lindos castelos. Quando sua mãe a ouvia falar sobre contos de fadas e princesas dizia:
 Acabe com isso. A vida não é um conto de fadas! Os ricos vivem em um mundo de flores, mas para os pobres só restam os espinhos. Olhe para mim. Vivo lavando roupas nos castelos dos ricos e eles sequer me olham. Para os ricos, nós não temos nenhum valor!
Hortênsia já estava prometida em casamento para o filho de Jacinto, um lenhador conhecido do seu pai. Porém, ela não sabia quem era o rapaz e tremia de medo só de pensar em ser entregue a um brutamonte. Já tinha visto outras meninas serem dadas em casamento e levadas à força por seus maridos.
Hortênsia ia fazer dezesseis anos e este seria seu último aniversário com a família. Sua mãe tinha lhe dito que seu casamento já estava arranjado. Mais do que nunca, ela queria comemorar o aniversário com uma festa repleta de doces. Porém, na sua data natalícia, ela viu a dura realidade de sempre.
Naquele dia Hortênsia acordou cedo e acendeu o fogo. Quase não havia víveres em casa. Seu pai comeu um pedaço de pão bolorento, tomou água de um odre velho e saiu para o trabalho. O dia foi passando no mais absoluto marasmo. Hortênsia ajudou a mãe nos afazeres domésticos, cuidou dos irmãos mais novos e saiu para perambular pela aldeia em busca de algo para comer. Quando passou pela taberna viu uma carruagem abarrotada de cestas de doces partindo em direção à cidade. Seus olhos brilharam de desejo e seu estômago revirou de fome. E assim a jovem ia passar mais um aniversário!
Porém, quando a carroça ia contornando uma colina e descendo em direção ao exuberante vale do rio Cravo, parou e retornou em direção à aldeia. Um arauto do rei, que trouxe a ordem do palácio real, aproximou-se gritando:
 Por ordem da princesa Azaleia o carregamento de doces para sua festa de dezesseis anos deve ser devolvido na taberna e entregue a uma aldeã pobre. Ela está fazendo isto em pagamento a uma promessa pela recuperação da senhora sua mãe, a rainha Gardênia. A rainha esteve gravemente enferma, mas hoje, depois de vários meses, conseguiu levantar-se do leito.
Ao ouvir o arauto, um rapaz adiantou-se, dirigiu-se ao cocheiro real e disse:
 Há uma jovem na aldeia fazendo dezesseis anos exatamente hoje. É justo, digníssimo cocheiro real, que ela seja merecedora de tão gostosas guloseimas! Não estou com brincadeiras. Eu mesmo o levarei à casa da mais bela moradora desta aldeia, que serve ao nosso rei com toda lealdade!
Ao ver as cestas de doces devolvidas na taberna, Hortênsia não entendeu o que estava acontecendo. Também ficou completamente envergonhada quando o jovem desconhecido se aproximou dela e falou-lhe:
 Sei que estás fazendo dezesseis anos hoje, pois isto ouvi do teu pai, o carvoeiro Gerânio. E já que a princesa está doando os doces do aniversário dela, é justo que sejam para ti. Convenci o cocheiro e o arauto real a doarem para festejares teu aniversário. Hoje terás uma festa de princesa!
Com todos olhando para ela, Hortênsia ficou envergonhada. Correu para casa e contou sobre as cestas de doces. Avistando o jovem, sua mãe disse-lhe:
 Ele é o jardineiro do castelo do conde Delfino. Chama-se Antúrio e foi com ele que teu pai acertou teu casamento. Não te preocupes, pois ele é muito cortês.
Foi o aniversário mais feliz da vida de Hortênsia! E diferentemente do que temia, o homem para o qual estava prometida não era um brutamonte. Dois meses depois casaram-se e tiveram cinco filhos e quatro filhas: Aliso, Jasmim, Crisântemo, Amaranto, Narciso, Margarida, Pétala, Rosa e Tulipa. Foram muito felizes, pois Antúrio, zeloso e trabalhador, nunca deixou faltar víveres em sua casa, ao lado da qual plantava muitas flores.
E Hortênsia, que sonhava com um conto de fadas, teve um conto de flores e uma vida florida para sempre!


SOBRE O AUTOR

Natural de Jaboatão, Pernambuco. Filho de Manoel e Marina Lima, casado com Alcione Lima e pai de Anália Rebeca e Areli Suzana. Formado em Administração, Teologia e História. Professor na Escola Monsenhor Arruda Câmara (EMAC) e pastor da Igreja Batista, em Sítio Novo, Olinda. O escritor Marinaldo Lima conta com diversos prêmios nacionais em concursos literários de contos e poemas.

_________________________________

Conto publicado na coletânea do Concurso de Contos da Editora Philia 2023.  

ALVOROÇO NA PENITÊNCIA

Belos tempos os das penitências. Nesta época de calor o sol escaldante o dia até fica enorme e até se transforma em fogão... Uns dizem: “tem um sol pra cada um”; e outros: ”Este sol dá pra fritar até ovos no asfalto.” E assim vamos suportando a temperatura de acordo com o tempo tem aquele que se ajoelha e: ”O que Deus manda a gente tem suportar.”
no povoado do Capão de Dentro, onde os mais antigos ainda se reúnem neste tempo de calor, ainda se fazem a penitência e os fiéis da Capela de Nossa Senhora do Amparo e o se Padre reúnem e ainda convida os moradores das redondezas, para realizar aquele ato de fé. Molhar o cruzeiro para a chuva cair em abundância.
O Seu Tinôco que é festeiro e Sacristão da Capela e já ordenou:
— Óia gente. Nóis vai sigui o istradão do Riacho Fundo. O Pade Jeremia vai isperá nóis lá. Vamo rezano frevorosamente. Chegano lá, nóis enche as muringa d’água e segue inté o cruzêro.
A Dona Idalina, esposa do Seu Joaquim Birita, este, gostava de uma cachaça e tudo pra ele era motivo para tomar uma. Ela foi logo entrando na conversa:
—  Juaquim, tá iscuitano? Vamo rezá cum fé e nada de bebedêra, quando a gente passá perto da Venda do Seu Zé Catira ocê nem óia.
O Joaquim Birita só sacudiu a cabeça. Já com a moringa na mão, ele seguiu a multidão. Só que o sol estava muito quente, ele virava a moringa no queixo e alguns observando aquilo, lembraram-se da fala do Sacristão e que a água seria apanhada no Riacho Fundo.
O João Pé de Cana, outro marafeiro, vendo aquilo logo sentiu sede repentinamente e:
— Nossa gente, que sede! Ô Juaquim, me dá um gole dessa sua água, senão vou desmaiar?
O Joaquim sem saída lhe entregou a moringa. Quando ele deu aquela golada, era cachaça. E ele para não dedurar o Joaquim e também ficar sem a danada pelo caminho agradeceu:
— Nossa que água gostosa sô! É de vereda, Juaquim?
Pensa no aperto que ficou o Joaquim. E ele:
 É. E peguei ela bem cedim. Tá fresquinha!
Ouvindo aquilo os fiéis alvoroçaram e a seda foi geral e vendo que a coisa não ia ficar bem, os dois caíram no mato numa correria desenfreada.
no pé da Serra do Tamanduá, eles pararam para descansar e tomar mais uma. Lógico. E quem vem lá com a batina toda empoeirada e todo suado? Isso mesmo: o Padre Jeremias. E vendo os dois debaixo da sombra fresca da Aroeira:
—  Joaquim e João. Graças a Deus encontrei vocês. Estou numa sede danada. Passa-me essa moringa pra eu beber um poço dessa água.
E agora?
O Joaquim e o João com a moringa de cachaça e qual a desculpa?
O Padre afoitamente pega a moringa da mão do João e dá aquela golada. Os dois com as mãos nos olhos e com medo. E o Padre:
—  Uai! Eu não sabia que vocês também gostavam de um golinho!
Os dois boquiabertos, falaram ao mesmo instante:
— Pade! O sinhôre tomém bebe?
O Padre já animado:
— Meus filhos! O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem. Vamos pra penitência.
Chegando ao Riacho Fundo, foi aquele alvoroço e a Dona Idalina xingando o Seu Joaquim e o Berranteiro Josué queria esganar o João. E o Padre:
—  Meus irmãos! Ouçam... Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra. ' (Jo 8,7).
Foi um silêncio profundo e o Padre continuou:
—  Vamos encher as moringas, Menos a do Joaquim. Ela tá furada.
Seguiram com as orações nos lábios e ao chegarem ao cruzeiro foi aquela fé gigante.
Voltaram pra casa e dentro de poucos minutos a chuva veio em abundância. O Padre Jeremias chamou o Joaquim e o João para se confessarem e o João:
—  Pade. Me perdoa. Mais eu góstio duma alambicada.
O Padre consentiu com o gesto e o Joaquim logo se apresentou para confessar e:
—  Pade. Pode castigá nóis.
O Padre olhou para um lado e para o outro e disse bem baixinho:
—  Não meu filho! Mas, vê se você leva o tira-gosto da próxima vez!
Tudo terminou bem, o Sacristão ficou feliz, a lavoura em abundância, Dona Idalina perdoou o Seu Joaquim, e o Seu João chegou feliz em casa.
Dizem que o Joaquim e o João são os novos sacristãos da capela.
Será que deixaram de beber? O estoque de vinho do Padre Jeremias é grande.
Agora é aguardar a tão badalada Festa da Lavoura. E dizem que o Raimundo do Bento e a Benedita vão carregar o estandarte de São José. O santo fazedor de chuva.
Estou pensando em ir também. E você?
Coisas do sertão!


SOBRE O AUTOR

Antônio de Fátima Silva, o Mestre Tinga das Gerais, natural de Corinto-MG, poeta, ator e cantor e na estrada há 35 anos. Participou de vários festivais, sendo premiado com o conto "O Caboclo e o Barranqueiro", atuou no curta-metragem "Um outro Tiradentes" e no longa "A História das Três Marias", da cineasta Zakia Daura.

                                             
                                                   FORMA ANÔNIMA

A noite flerta com o frio receoso,
Chá na caneca com estampa de cinema
Onde busco uma película para te resumir.
Cervantes me lembra que apesar dos dragões
Minha Dulcineia Del Toboso
me espera escutando La Oreja de Van Gogh
Ilustrando canções que febrilmente e de forma anônima
dedico a ti.

Poema FORMA ANÔNIMA, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).

sexta-feira, 24 de maio de 2024

 

A MINHA PASÁRGADA


Vou me embora para Pasárgada,
mas não a Pasárgada do genial escritor
e sim a que habita as cercanias da minha hipocrisia,
da minha desfaçatez e profunda incoerência.
Incoerência essa que permeia minhas relações,
onde a mulher que também quero e a cama que também desejo,
me são direcionadas.
Não porque eu seja amigo da realeza,
Mas sim pelas minhas péssimas atitudes
Tão comuns e marcantes na vida dos “Nobres” ou dos que se julgam ser.


Poema A MINHA PASÁRGADA, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).

 

O SEGUNDO DA FILA
Seu Generoso é um caboclo enraizado, mora lá nas bandas de Alto Belo e batalhador desde criança, na foice e no machado é um desbravador e gosta das coisas certas. E diz sempre:
 Cumigo é anssim: pau é pau e pedra é pedra. Nada de me inrolá.
Com problemas renais, o médico depois de muito labutar com exames e medicação, resolveu fazer a cirurgia e implantar o rim. O falado transplante.
Bom. Dona Elmira, sua esposa já cansada da lida, foi até ao Banco de Órgãos para saber a colocação do Seu Generoso e acelerar o processo da cirurgia.
Chegando ao Banco de Órgãos:
 Talde pessuale! Tudo bão? Eu sô a Elimira muié do Generoso. Cumé que tá a situação da doação do órgo do meu marido? Quale a colocação dele?
A atendente olhou pacientemente o fichário e:
 Boa tarde, Dona Elmira. Tem 235 pessoas na frente dele.
Aquilo deixou Dona Elmira triste e quase em pranto.
E ela:
 Nossa tadim do Generoso! Pode inté morrê. Esse tantão de gente na frente dele! Mais, Deus é generoso!
Ela saiu dali cabisbaixa e foi-se embora. Chegando a casa o Seu Generoso:
 Qualé a boa nutiça?
Ela receosa e triste:
 Óia Generoso. Têm 235 pessoa na sua frente. Agora é isperá e tomá os remédio direitin.
Seu Generoso ficou mais triste e:
 É! Inté chegá a minha vêis, acho que já fui pra cidade de pé junto!
Dona Elmira arrasada foi pra cozinha fazer o pão de queijo e o cafezinho que ele tanto gosta e ele ali na sala ouvindo o radinho de pilha. E no rádio:
Atenção ouvintes de todo o Brasil. Da cidade, da roça, nossa rádio vai longe! E atenção para esta nota: o Milionário e divulgador Valtão acaba de passar por um procedimento cirúrgico e fez o transplante do coração e ele é o segundo da fila. Ele passa bem e está sob cuidados. Mais tarde ele concederá até uma entrevista. Não perca!
Aquilo aguçou o pensamento do Seu Generoso e:
— Uai, muié! Esse tale de Valtão numa tava bão e iguale coco cisdia mermo? Eu inté vi ele na televisão na cidade. Tem um trem errado nisso. Essa fila dele andô dipressa dimais uai!
Ela veio depressa da cozinha com o pão de queijo no prato e o café no bule e:
 Uai, Generoso! É mermo! Aqui no Brasile tem pôca gente cum pobrema de coração. Purisso que a fila andô dipressa. Ô intão temcascaio nisso. Bufunfa, cobre, vô fiscalizá isso.
Dona Elmira resolveu voltar ao Banco de Órgãos pra saber da demora. Só que quando ela havia ido à cidade pra saber da colocação do Seu Generoso ela passou na lotérica e registrou uma cartela da Mega Sena. Quando ela calçou o chinelinho surrado e ajeitou o lenço na cabeça, no rádio:
Atenção senhoras e senhores para o resultado da Mega Sena acumulada. 72 milhões. Que sabe você é um ganhador?
E informou o resultado. Dona Elmira acertou os seis números e ganhou sozinha. Aquilo foi uma alegria e um rebuliço e os filhos alegres, Baltazar o filho mais velho arriou o cavalo e saiu em disparada pra cidade e espalhou o acontecido. Claro que chegou até ao Banco de Órgãos.
Dona Elmira no colo da emoção:
 Generoso! Vamo cumigo pra mode nóis sabê a colocação no Banco de Órgo e tomém cumemorá com o cumpade Onofre e a cumade Zefa!
Ele mais que depressa calçou as botinas, deu uma calibrada no chapéu e foram.
Chegando ao Banco de Órgãos, o médico, enfermeiras, o povo do vilarejo, o Baltazar já havia tomado umas biritas e Dona Elmira:
 Óia pessuale! Eu vim inté aqui pa mode sabê, proquê a fila do órgo coração acelera e a do rim é iguale tartaruga?
A atendente já estava abraçada ao pescoço do Baltazar e:
— Pega um copo com água pra Dona Elmira e um cafezinho para o Seu Generoso. Óia a senhora acredita que o Seu Generoso é o segundo da fila?
Bom. Vou deixar esta pra vocês opinarem.
O que será que aconteceu?
A fila andou depressa!
Eu não disse nada...


SOBRE O AUTOR

Antônio de Fátima Silva, o Mestre Tinga das Gerais, natural de Corinto-MG, poeta, ator e cantor e na estrada há 35 anos. Participou de vários festivais, sendo premiado com o conto "O Caboclo e o Barranqueiro", atuou no curta-metragem "Um outro Tiradentes" e no longa "A História das Três Marias", da cineasta Zakia Daura.

POEMA DA MATEMÁTICA

A matemática está em nosso cotidiano
Desde o amanhecer até o pôr do sol.
Entra pela noite, até quando dormimos,
Em cada fio de tecido, urdido no lençol.

Quando respiramos os alvéolos funcionam
Produzindo a hematose lá dentro dos pulmões.
Com precisão está renovando o nosso sangue
Matematicamente bombeado pelos nossos corações.

No corte de nossa roupa, no peso do alimento,
Nas horas que trabalhamos a matemática está.
Quando vamos ao mercado e fazemos nossa feira
Vamos somando tudo, pra ver se o dinheiro dá.

Fazemos aniversário quando subtraímos
O ano que está em curso do ano que nascemos.
E colocamos no bolo a quantidade de velinhas
De acordo com os anos que nós já temos.

No futebol contamos os pontos que o time tem
E a cada rodada quantos se acrescentarão.
Com os números na cabeça aumenta a ansiedade
Para ver se o nosso time será o grande campeão.

Contamos os dias, semanas, meses e anos
E o tempo vai passando pra nossa felicidade.
Calculamos o tempo pra nossa aposentadoria,
Quando então nós curtiremos a nossa melhor idade.

A matemática está sempre presente em tudo
Na música que cantamos, pelas notas musicais.
Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si tem uma bela simetria,
Que ecoa lindamente em nossas cordas vocais.

Quando olhamos para a lua e também para as estrelas
Ficamos encantados com a perfeita interação
Que existe entre elas no Universo infinito,
Desafiando a ciência pra grande investigação.

A Matemática é uma ciência que interage com as outras
Formando a linda teia da multidisciplinaridade.
E esta ciência está sempre buscando conhecimentos
Para alcançar o progresso de toda a humanidade.


SOBRE O AUTOR

Natural de Jaboatão, Pernambuco. Filho de Manoel e Marina Lima, casado com Alcione Lima e pai de Anália Rebeca e Areli Suzana. Formado em Administração, Teologia e História. Professor na Escola Monsenhor Arruda Câmara (EMAC) e pastor da Igreja Batista, em Sítio Novo, Olinda. O escritor Marinaldo Lima conta com diversos prêmios nacionais em concursos literários de contos e poemas.

_________________________________

Poema publicado na coletânea do concurso literário A Arte da Palavra 2023.  

segunda-feira, 29 de abril de 2024

ALVORADA: 
UM BELO CENÁRIO PARA UM TRIÂNGULO AMOROSO

Aurora gostava muito de sua data natalícia, por ser um dia muito especial. Um dia antes do seu aniversário de oito anos, nasceram suas irmãs gêmeas, Ana e Alana. Seu pai, Alex e sua mãe, Agnes, programaram o parto para o dia do aniversário da primogênita. Contudo, na véspera a bolsa estourou e saíram correndo para o Hospital de Alvorada. Ao chegarem, Aurora teve uma surpresa: ouviu da Dra. Alcione, médica obstetra da sua mãe, que no dia do seu nascimento outro bebê também nascera no hospital. Surpresa, por que para Aurora, sua data era exclusiva.
Aurora ficou muito feliz com o nascimento das irmãs e prosseguiu seus verdes anos ajudando a mãe no cuidado com as pequenas e dedicando-se aos estudos. Desde cedo desenvolveu o gosto pela leitura, apreciando sobretudo estórias de triângulos amorosos com finais felizes.
O pai de Aurora, professor de Matemática e diretor da Escola Municipal Capitão Gentil Machado de Godoy, queria ver sua filha interessando-se por esta ciência exata. Porém, desde cedo a garota empolgou-se com a ciência na qual sua mãe se formara: História. Dona Agnes, funcionária da Biblioteca Pública Municipal Luis Fernando Veríssimo, percebeu o interesse da filha e propôs ao marido que fizessem visitas aos pontos turísticos de Alvorada. Então, estiveram no Marco Zero, no Chimarródromo, no Clube dos Escritores de Alvorada, no TchêWaves Internacional Park e no Pórtico de Alvorada. Também fizeram passeios pelas diversas praças e igrejas do município.
Os anos passaram e Aurora chegou à adolescência com muita alegria. Porém, tinha um desejo, que às vezes, por ser tão intenso, tornava-se incômodo: queria conhecer o menino nascido no mesmo dia que ela.
Aos catorzes anos, Aurora começou contagem regressiva para sua festa de debutante. Porém, mesmo sabendo que não iria comemorar seus quinze anos exatamente no dia do seu aniversário, resignou-se. Mas, nem deu importância a este detalhe quando o grande dia chegou. Em um sábado, três de março, no clube Sociedade União Esperança, a garota aproveitou bastante sua festa.
Depois, Aurora ficou esperando ansiosamente seus dezesseis anos, quando novamente encontrou sua data de aniversário. E naquela sexta-feira, teve outra surpresa. Quando estava passeando com a família na praça Central de Alvorada, reencontrou a Dra. Alcione, que a chamava com muita intensidade:
— Aurora, Aurora, minha querida, venha cá. Que coincidência enorme! Veja aqui. Estes são Alan, Amanda e Álvaro. E este lindo rapagão, este aqui, o Álvaro, foi o outro bebê que nasceu no hospital no dia do teu nascimento. Hoje vocês dois estão fazendo dezesseis anos e só agora se conheceram. Aliás, vocês se conheceram no berçário, quando nasceram e hoje se reencontraram. Alan e Amanda se mudaram para Brasília depois do nascimento de Álvaro e só retornaram para nossa cidade no início deste ano, quando se aposentaram.
Aurora e Álvaro apenas trocaram olhares tímidos e despediram-se. Porém, na segunda-feira, se reencontraram novamente no colégio. Ele tinha sido matriculado na mesma turma que Aurora. Aos poucos foram se aproximando e começaram a namorar.
Álvaro crescera em Brasília, mas desde que se entendera por gente queria conhecer sua terra natal. Então, junto com a namorada, conheceu todos os pontos turísticos de Alvorada.
No primeiro Dia dos Namorados que passaram juntos, ela disse:
— Amor, eu sempre amei Alvorada. Porém, é muito mais gostoso apreciá-la ao teu lado!
— Querida, eu sempre quis conhecer nossa terra. Seu hino é lindo! Seus primeiros versos emocionam-me: “Alvorada, terra amada / Valorosa e altaneira / És gloriosa e valente / Com orgulho és Brasileira.” E ao conhecer nossa cidade, apaixonei-me por ela. E também te conheci, minha outra grande paixão!
O ano seguinte foi muito especial para os dois, pois estavam concluindo o ensino médio e fazendo planos para entrarem na faculdade. E com muito esforço alcançaram seus objetivos. Aurora ingressou no curso de História da UFRGS e Álvaro foi cursar Administração na UnB. Apenas se viam esporadicamente, quando ele ia passar períodos de férias em Alvorada. E então, ele dizia-lhe:
— Aurora, estando perto ou longe, nosso amor é uma reta. Na história do nosso amor só existem dois pontos: eu e você, você e eu.
Os anos passaram, os dois concluíram seus cursos, entraram no mercado de trabalho e começaram a preparar o casamento. E foi no mesmo local da festa dos quinze anos dela: o clube Sociedade União Esperança. E a data foi muito especial também: 29 de fevereiro, ao completarem vinte e quatro anos. Novamente encontraram juntos a data de aniversário, ao mesmo tempo em que se uniram para sempre.
Depois da romântica lua-de-mel, foram morar em uma casa que adquiriram próximo à Praça Central de Alvorada, local do primeiro encontro. Desta forma, começou a fase mais bonita do triângulo amoroso. Por que, o outro amor de Aurora era também o outro grande amor de Álvaro: a cidade de Alvorada.


SOBRE O AUTOR

Natural de Jaboatão, Pernambuco. Filho de Manoel e Marina Lima, casado com Alcione Lima e pai de Anália Rebeca e Areli Suzana. Formado em Administração, Teologia e História. Professor na Escola Estadual João Matos Guimarães e pastor da Igreja Batista, em Sítio Novo, Olinda. O escritor Marinaldo Lima conta com diversos prêmios nacionais em concursos literários de contos e poemas.

_________________________________

Conto selecionado no concurso literário do Clube dos Escritores de Alvorada (CEA), em 2021, publicado na coletânea Contos de Alvorada: autores alvoradenses e convidados, p. 52-54.

sábado, 27 de abril de 2024

 SIMBIOSE

Anoto receitas que não irei cozinhar,
choro em canções que retratam
amores que não senti.
Encolerizo-me por injustiças
que arbitram o mundo, 
sigo poeta em simbiose com a vida,
bebendo palavras e sangrando poesia.


Poema SIMBIOSE, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).

quarta-feira, 27 de março de 2024



 APRENDENDO A LER A VIDA

Hoje sou mais útil a mim mesmo.
Esforcei-me; fui alfabetizado.
Posso aprender o que quiser.
Hoje não sou mais desinformado.

Aprendi as letras e palavras,
Sei formular frases e orações.
Posso escrever o que eu penso
E em poemas revelar as emoções.

Posso transmitir meus pensamentos
Em textos muito bem elaborados.
Agradeço aos que me ensinaram,
Pois é muito bom ter estudado.

Hoje posso ler nomes de ruas,
Cartazes, revistas e jornais.
Bulas de remédios e embalagens,
Livros, boletins e manuais.

A leitura abriu os horizontes
Para adquirir conhecimentos.
Agora, que aprendi a ler o mundo
Tenho muito mais discernimento.

Aprender a ler e a escrever
Libertou-me de uma escuridão.
Posso refletir sensatamente
Na hora de tomar uma decisão.

Tenho um desafio pela frente:
Estudar e aprender muito mais.
E quero ensinar a quem não sabe
O bem que a educação faz.

Aprendi a ler nas entrelinhas
E a descobrir novas verdades.
Sei interpretar um texto e a vida
E a afirmar minha identidade.


SOBRE O AUTOR

Natural de Jaboatão, Pernambuco. Filho de Manoel e Marina Lima, casado com Alcione Lima e pai de Anália Rebeca e Areli Suzana. Formado em Administração, Teologia e História. Professor na Escola Estadual João Matos Guimarães e pastor da Igreja Batista, em Sítio Novo, Olinda. O escritor Marinaldo Lima conta com diversos prêmios nacionais em concursos literários de contos e poemas.

_________________________________

Poema selecionado no Concurso Literário do SINTEPE (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco) em 2008 e publicado na coletânea do concurso.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Sessão de Autógrafos do livro VOZES ALVORADENSES.
DATA: 09 de março de 2024
HORÁRIO: das 13h às 16h
LOCAL: Câmara de Vereadores - 
Rua Contabilista Vitor Brum, 160 

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024


DEVANEIOS
Renato canta “ao fundo” coisas que trago aqui dentro.
Artista e apreciador se fundem na temporalidade da canção.
Uma espiada em Cervantes,
O Gigante Quintana soprando aos meus ouvidos
que eles passarão...
Penso em recorrer a um “Machado”
que “Assis” me permita derrubar as hastes 
dos moinhos que julguei Dragões no frenesi das minhas batalhas,
afinal Poetas são também “Quixotes” tendo não Sancho por escudeiro, 
mas sim as palavras no afã de sangrar poesia.

Poema DEVANEIOS, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Vinde a Mim
Se existe uma coisa prazerosa, é o dedo de prosa no boteco, aonde chega um e conta um causo, o outro pede uma cachaça e senta num cantinho somente para ouvir e tem aquele que já chega bêbado e vira um falastrão.
Na Venda do Zico não é diferente e numa manhã de sábado chega o Negão embaçado. O Cabra bom de serviço que topa qualquer parada, conseguiu um emprego de guarda na Igreja e gosta tanto duma biritaque se desenhar uma garrafa de cachaça na parede, ele arranha pra ver se é de verdade, e quando bebe... meu Deus! Tem que ter bucho de Ema pra aturar. Ele chegou e foi logo pedindo uma:
 Ô Zico! Bota uma preu. Vô tomá uma pa mode crareá as ideia que hoje de noite vai tê cúlito na Igreja e o pastore me deu inté um terno e uma bíblia.
Aquilo foi um alvoroço porque o Negão embaçado não podia chegar à Igreja bêbado e aquilo os amigos logo foram ao assunto e o mais preocupado foi o Seu Gegê, que foi logo retrucando:
Negão! Num querdito cocê vai intrá na Igreja desse jeitio, tonto iguale um Gambá. Miora premêro e adispois ocê vai, home!
Naquilo o Negão embaçado firmou o queixo e:
 Já li uma passage da Biblia que tá em Mateus 11: 28. Tô aperparado.
Nisso o Shimitão, caboclo que gosta do mocotó cozido com cachaça perguntou:
 Uai, Negão e o que tá iscrito lá?
Ele deu uma golada na alambicada e:
 Vinde a mim como estais! E lá vô eu... 
Todos caíram na risada e chegaram até à porta do boteco para ver o o Negão embaçado cambaleando até virar a esquina. 
Agora é lá com o Pastor. Tomara que ele não perca o emprego.
Mais um causo de boteco nas Minas Gerais... 
Inté!


SOBRE O AUTOR

Antônio de Fátima Silva, o Mestre Tinga das Gerais, natural de Corinto-MG, poeta, ator e cantor e na estrada há 35 anos. Participou de vários festivais, sendo premiado com o conto "O Caboclo e o Barranqueiro", atuou no curta-metragem "Um outro Tiradentes" e no longa "A História das Três Marias", da cineasta Zakia Daura.


terça-feira, 30 de janeiro de 2024

 A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA

Vindo do ventre da terra,
Milagre da natureza,
Brotando timidamente,
Vem a água, berço da vida,
Fecundando o nosso solo,
E logo corre fluente.

Entre grotas e penhascos,
Cada vez mais volumosa,
Corre, corre cristalina.
Água boa, em abundância,
Corre solta na planície,
Ou do alto da colina.

Alargando o seu caminho,
Faz-se riacho e rio
No seu leito, a dominar.
Recebendo afluentes,
É mais água e mais água
Até no mar desaguar.

E cai a água da chuva
Fecundando a boa terra
E enchendo mais o rio.
Temos água lá dos céus,
Água brotando da terra,
No seu permanente cio.

Esta água é represada,
Na barragem acumulada,
E depois é depurada.
É desta água bendita
Que recebemos em casa
Bem limpinha e tratada.

Como devemos zelar
Pela água abençoada
Que nos permite viver!
Mais que o ouro precioso,
De incalculável valor,
Esta água deve ser!

Agradeçamos a Deus
Pela água que nós temos
No rio ou em nossa pia
Cuidemos da natureza,
A única fonte que temos
Da água nossa de cada dia.


SOBRE O AUTOR

Natural de Jaboatão, Pernambuco. Filho de Manoel e Marina Lima, casado com Alcione Lima e pai de Anália Rebeca e Areli Suzana. Formado em Administração, Teologia e História. Professor na Escola Estadual João Matos Guimarães e pastor da Igreja Batista, em Sítio Novo, Olinda. O escritor Marinaldo Lima conta com diversos prêmios nacionais em concursos literários de contos e poemas.

_________________________________

Poema com menção honrosa no 4º Concurso Nacional Permanente de Poesias do Semiárido do Nordeste Brasileiro, realizado em Campina Grande/PB em 2009 e integrante da Antologia Professores não só ensinam, eles também escrevem! Da Big Time Editora de 2013.


EITA! CACIANA ARRETADA!

Engenheiro Pires de Albuquerque, atual distrito de Alto Belo, pertencente ao município de Boacaiúva, tem cada causo que deixa a gente a viajar pelas linhas do Trem de Ferro, que deixou muita saudade pelas curvas do sertão e nos vilarejos por onde as famílias deliravam com os acenos das janelas e pelo apitar, que invadia a alma.
Lugar de gente pacata e cheia de histórias, o dia ganha alegria e o viver em sintonia com a natureza, faz da saga um berço de sentimentos.
O Seu Sílvio, da Dona Maria, negro ferroviário dava manutenção nas linhas que serpenteavam os vales e serras das gerais. Um pai de três filhos, muito correto e que gostava de uma dança, levava sua vida com muitos sorrisos na face ao lado da família.
Dona Caciana, sua mãe, era uma negra sisuda, mulher de muita garra, na enxada ela tirava seu eito e topava parada com qualquer homem. Diziam na região, que ela era filha negro de fazendas coloniais, na época da escravidão. E aquele que se metia a besta com ela, levava uma resposta daquelas e até saía nas pauladas. Ou foice.
A criação andava solta pelas ruas como em muitos vilarejos e ali: galinhas, porcos, cachorros e era normal para aquele povo que gostava de ter um animal para criar.
Os porcos da Dona Caciana ficavam soltos pelas ruas do vilarejo por ali também por entre aos de outros. Certo dia, o Seu Adelino, caboclo que também era daquele lugar aprazível ao ver alguns porcos pelas ruas, irritou-se e resolveu atiçar seus cachorros aos pobres porcos. Os cachorros feriram os porcos. Adivinha de quem eram os porcos?
Isso mesmo. Da Dona Caciana. Os cachorros morderam os porcos e o sangue jorrava pelas ruas de Pires. Ao ouvir aquela confusão, a Dona Caciana correu até a janela pra ver o que estava acontecendo. Nisso ela viu o Seu Adelino correndo e entrando em sua casa. Não deu outra. Dona Caciana ajeitou o lenço surrado na cabeça e foi até à casa da Seu Adelino e:
— Seu Adelino! O sinhôre atiçô seus cachorro nos meu porco e saiu correno? Sai aqui fora! Seu covarde lazarento!
Seu Adelino chegou até á Janela e:
— Óia Dona Caciana. Ninguém ó obrigado a vê esses porco da sinhora nas rua. Se a sinhora qué criá, cria preso no seu quintale.
Pensa numa mulher que saiu do salto e:
— Óia Seu dislavado. Os porco é meu e eu crio adonde eu quisé. Sai aqui fora queu vô parti sua cara, seu covarde! Vô te mostrá cum quantos graveto se fais a fêjuada.
O Seu Adelino irado foi logo retrucando:
— Óia Dona Caciana. Se a sinhora bestá, vô pegá minha cartuchêra eu dá um tiro no peitio da sinhora, pa mode mostrá a minha corage..
Por essa ele não esperava. A Dona Caciana abriu o vestido e mostrando aqueles seios caídos pelo tempo e que amamentou aos filhos e:
 Atira intão seu valentão! Se Ocê num atirá eu vô quebrá ocê no pau e mostrá ocê cumo é que fais covardia cum meus porco. Ocê num sabe adonde infiá a cuié. Cumigo não!
Ao ouvir aquela discussão a Dona Joaninha, esposa do Seu Adelino chegou com a calmaria do inseto Joaninha e:
 Ô Delino! Fais isso não! Dêxa de sê inguinorante home! Ocê sabe cumo é a Dona Caciana! Dêxa de valintia. Martratá a criação e ainda da Dona Caciana? Ocê sabe quéla tem corage!
O Seu Adelino deu uma acalmada e saiu da janela enquanto a Dona Joaninha pedia desculpas.
A Dona Caciana foi para a sua casa até tremendo de raiva e foi tratar das feridas dos animais.
Dizem que o Seu Adelino quando chega à Venda do vilarejo, sempre tem um que diz:
 Eu vi uns porco bunito na rua hoje...
Ele só olha atravessado e vai embora.
Dona Caciana levou anos para esquecer-se do Seu Adelino e ele prendeu os seus cachorros. Coitados.
Mais um causo do pacato e adorado Alto Belo, antigo Engenheiro Pires de Albuquerque.
Quer ouvir mais histórias de lá?
Pergunte à Sônia, filha do Seu Sílvio e a Dona Maria, ela é neta da Negona arretada, Dona Caciana. Ela me contou este causo...quem sabe ela lhe conte um!
Inté a outro causo da Sônia lá dos Montes...claros!


SOBRE O AUTOR

Antônio de Fátima Silva, o Mestre Tinga das Gerais, natural de Corinto-MG, poeta, ator e cantor e na estrada há 35 anos. Participou de vários festivais, sendo premiado com o conto "O Caboclo e o Barranqueiro", atuou no curta-metragem "Um outro Tiradentes" e no longa "A História das Três Marias", da cineasta Zakia Daura.

 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024


CONEXÕES


O ator e amigo no palco.
O poeta e a afilhada amiga para o resto da vida,
Os amigos do tempo que o poeta também estava nos palcos,
A música que dá gatilhos para rever meus pais,
A lua enfeitando lindamente o céu,
E a arte abençoando todas essas conexões.



Poema CONEXÕES, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).

VALSA AO SABOR DO VENTO


Passos em sintonia, giro vibrante,

Na noite serena, a lua dança,

N’um céu de sonhos, a noite avança,

Poema suave, d’um amor constante.


A melodia em tom pulsante

No palco do coração enfeitado,

Olhares cúmplices, apaixonados,

Vestido armado, elegante.


Dois corações em sintonia,

No valsar de metáforas cantadas

Em coreografias improvisadas,

No deslizar da harmonia.


Oh, cantiga eterna, cheia de emoção,

Ritmo alinhado, além do tempo,

Na valsa ao sabor do vento,

Ligando almas, formando canção.


Movimento no um-dois,

Assim, sob o céu estrelado,

Coreografia do destino narrado,

Do bailado de nós dois.



Poema VALSA AO SABOR DO VENTO do escritor Cristian Canto.

Contato: cristian.canto83@outlook.com

Encontre outros poemas do autor em:

https://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/7984321

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023


PARA SEMPRE

Eu era um adolescente
quando você entrelaçou suas mãos com as minhas
pela primeira vez.
A ti confessei meus sonhos,
em teu seio debrucei minhas angústias
explicitei as desilusões pretéritas.
Na perda dos meus pais, de amigos, familiares
Busquei consolo em ti.
Na realidade acho que não mais nos separaremos,
pois por mais que eu dialogue com outras formas de arte,
foi em ti POESIA que fragmentei minha alma,
meu jeito de ser, pensar
e acima de tudo ESCREVER.


Poema PARA SEMPRE, do escritor Daniel Machado (Geógrafo da Alma!).

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

 

HORAS MORTAS

Fim de tarde, o sol querendo descansar, a revoada sagrada da passarada, o ensaio da noite para entrar em cena, as estrelas bailando no firmamento e a prosa solta na Venda do Seu Zezé.
estavam ali há horas e de tudo ou quase tudo já haviam falado. Do plantio que estava uma maravilha e até do caudaloso Córrego da Saracura que estava dando muito peixe e era a caixa d’água da região.
O Zé Teixeira com a viola no peito, ponteando baixinho para escutar e o Buda Borges tirado a raizeiro, falando das plantas do cerrado e também dos peixes que pegava e do tamanho, dá pra entender que ele exagerava, pois, era o vantageiro da região - como falavam na corruptela. O Mandruvachá num cantinho assuntando a prosa, pois, já havia vendido os seus queijos e estava ali para um breve descanso. Sem falar no Silvalino que contava da criação de frangos, gansos e galos índios, que ele cria com muito amor.
De repente o Silvalino:
— Óia gente. Eu vô imbora. Tá iscuriceno e a nôte tá iscura e eu moro longe.
O Buda que ouvira aquilo foi logo retrucando:
— Ta cum medo Silvalino? Dêxa de froxura home! Medo de quê?
O Silvalino já de pé:
— Das zora morta sô! Num abusa não!
E saiu sertão afora num pangaré que havia comprado do Pedrosinha e este estava velho e cansado e que o Pedrosa o vendeu à noite ao Silvalino pra não perceber os dentes do coitado do cavalo; que só tinha um.
Logo o Zé Teixeira silenciou a viola e entrou na conversa e:
— Eu num tenho medo de nada. Sô um cabra do sertão e do pé rachado e ando quarqué hora do dia ô da nôte. Medo pra mim é lixo.
O Vendeiro Seu Zezé debruçado no balcão logo entrou no assunto:
— Ocê, Texêra? Medroso e dos maióre, fala isso pa mode contá vantage.
O Mandruvachá lá no cantinho caladinho, só de ouvidos na prosa, logo diz:
— Eu num abuso. Nas zoras morta tem sombração e coisa dôto mundo em todos os lugá.
O seu Zezé que gosta de uma aposta foi logo desafiando o Zé Teixeira:
— Ô papudo! Já cocê é corajoso, vamo apostá 500 rialo? Aqui tá o meu cascaio. Bota o seu aí e porva que num tem medo.
O Zé Teixeira tirou um pacote de notas do bolso e botou em cima das notas do seu Zezé e:
— Tá aí seu rato do sertão. Vô te mostrá a minha corage. Vô trazer uma cruz do cimetéro e num vô demorá. Vamo vê essa tale de horas morta.
O Mandruvachá ouvindo aquilo despediu do pessoal e falou baixinho:
— Quero vê se esse parrudão num tem medo num tem medo das zora morta. Vô iscondê atrais duma sepurtura.
O Mandruvachá montou em na mula Trifôia, que comia três folhas de capim por dia e saiu em disparada rumo ao cemitério.
E chega o Zé Teixeira ao cemitério. Já tinha tomado umas três lambadas de cachaça e adentra no Campo Santo e vai em direção a uma cruz. Quando ele pega numa, uma voz:
— Esta é minha!
Apavorado ele vai até a outra e novamente a voz:
— Essa é minha, moço!
No desespero ele pegou uma das cruzes e saiu em disparada feito um catingueiro rumo ao boteco.
Ao chegar ao boteco ele suado e cansado de tanto correr, joga a cruz em cima do balcão e :
 Taí a Cruiz e o dono dela vem aí atrais! Tô cascano fora!
Os que estavam no boteco saíram em disparada seguindo o seu Zezé que gritava:
— Me perdoa! Meu Deus! Nunca mais eu brinco com as zoras morta!
O Mandruvachá que vinha atrás e em risadas pegou o dinheiro e sumiu sertão adentro. Dizem que o Seu Zezé voltou e ao sentir a falta do dinheiro:
 É! Dexô a cruis e levô nosso cobre. Deve sê pa mode comprá ôta cruis nova.
Segundo os moradores da corruptela, o Seu Zezé ficou muitos dias sem ver os seus ilustres fregueses.
Coisas do sertão!
Inté!


SOBRE O AUTOR

Antônio de Fátima Silva, o Mestre Tinga das Gerais, natural de Corinto-MG, poeta, ator e cantor e na estrada há 35 anos. Participou de vários festivais, sendo premiado com o conto "O Caboclo e o Barranqueiro", atuou no curta-metragem "Um outro Tiradentes" e no longa "A História das Três Marias", da cineasta Zakia Daura.

sábado, 9 de dezembro de 2023

 

DICA DE LEITURA:

VOZES ALVORADENSES é uma bela antologia, organizada pela escritora Cristina Ribeiro. Com diferentes gêneros textuais, o livro reúne treze escritores do município de Alvorada, RS. Arte, cultura popular e literatura em uma única obra!

CLIQUE AQUI!