sexta-feira, 18 de julho de 2025

 

UM ESCRITOR DE MUITAS FACETAS
(Anderson Vicente)

Quem de nós, em algum momento, não ficou impressionado com uma história contada por alguém? Tão impressionado que exclamou algo como: “Uau; podia virar um livro!” Já no século XIX, Hans Christian Andersen e os irmãos Grimm, Jacob e Wilhelm, percebiam a importância desse tipo de história. Do mesmo modo, muitos séculos antes, as histórias de As Mil e Uma Noites migravam das histórias orais para a escrita. O cordel, outro grande e antigo representante da tradição popular, nos revela isso. Difícil não ficarmos maravilhados com os versos dos livretos. Mas hoje, neste tempo de mil e um aplicativos, existem histórias orais? Histórias que possam ser transformadas em literatura?
Digo que, para responder a tais questões, é preciso conhecer o autor. São poucos os que sabem o verdadeiro nome dele. Ele é um escritor com muitas facetas. Ou melhor, com diferentes pseudônimos. Nesta obra, em particular, ele adotou Crisóstomo como pseudônimo e personagem. Crisóstomo narra em primeira pessoa. Vive a história de um motorista de aplicativo. E, assim, o personagem vive o dia a dia do próprio autor. Ficção e realidade compõem um elaborado e interessante mosaico. Opa! Não posso entregar o jogo! Crisóstomo jamais me perdoaria. Mesmo que eu não revele, o título é um alcaguete. Nele, está revelado que, aqui, neste livro há uma bruxa.
A Bruxa da Bom Jesus é um texto empolgante. De tirar o fôlego, de ler em um só fôlego (não de modo literal, é claro). Não dá vontade de parar a leitura. Fica difícil não dar spoiler. Preciso ser forte. Bom, não devia, mas... Preciso dizer que, no livro, existem bônus. Crisóstomo é um contador de histórias e tanto. Ali, no livro, de repente, surgem o Boca Braba, o Dexter e o Salomau vindos da cabeça e, de outras obras, do autor. Todos eles são personagens e pseudônimos. Eis um livro fascinante! Cheio de expressões, de gírias, de frases de autoconhecimento, de provérbios. Tem até teste vocacional para motoristas de aplicativo!
A bruxa está à solta nas páginas. Um Lobisomem circula pelos arredores. Há um isolado leprosário. E, ainda, existe um terrível manual que afasta alguém que queremos em sete dias. Sete é um número misterioso. Cheio de significados. Em um mundo repleto de perigos, por que não blindar um Uber? O risco pode vir, de forma inesperada, de uma amizade. Então, julgo que foi uma grande leitura. E, o autor me surpreendeu, mais uma vez. Criatividade, imaginação, enredo. A experiência de quem presencia fatos e sabe escutar. Adora ouvir as pessoas e as histórias dos passageiros. Um escritor que dá um toque único. Que lapida uma tradição oral. A tradição dos contadores de histórias.  

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Anderson Vicente é escritor, gestor ambiental e formando em História. Reside em Alvorada, RS, onde ajudou a fundar o Clube dos Escritores de Alvorada (CEA). Tem diversas participações em coletâneas de contos, crônicas e poemas. É autor dos livros juvenis Às voltas com a caveira Na trilha dos zumbis.

N.E. Um Escritor de Muitas Facetas é o título do prefácio escrito por Anderson Vicente para o livro, do escritor Deodato JúniorA Bruxa da Bom Jesus: Histórias que até Zeus duvida (coletânea de contos, Editora Meia-noite, 2025).

*CLIQUE NAS PALAVRAS COLORIDAS (BIOGRAFIA e NOTA DO EDITOR).

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