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sexta-feira, 11 de julho de 2025

 

A BRUXA DA BOM JESUS (Parte III)

Na manhã seguinte, enquanto os gerentes rendiam a equipe da noite, dois adolescentes se esgueiravam lomba acima.
Ao chegarem em frente ao chalé vermelho, um gato preto, veio miando em tom de intensa reprovação. Porém, eles não deram a mínima. Tudo o que eles precisavam era de uma evidência para apresentar ao santo ofício e queimar a pobre mulher em uma fogueira santa.
ressaltando que estamos falando dos anos oitenta. Hoje, a Bonja é uma comunidade extremamente pacífica.
Agora, vem comigo e observe uma figura esguia e mais torta que um pé de goiabeira, vindo até o portão de estaqueta, para atender os especulas.
Ao encostar a verruga peluda sobre a ponta da haste, seus olhos cintilavam de ódio e sua voz denotava que ela não cairia no álibi dos butiás.
 Sumam daqui, seus pestinhas! Não tem gelo, nem butiá, pra vocês. Desapareçam e nunca mais, passem em frente à minha casa.
Não foi preciso repetir. Ao ver sua cabeça toda enfaixada com uma velha meia-calça marrom e uma protuberância bem no meio da testa, o galo da consciência cantou e, em dois palitos, o casal de primos estava chegando em casa, para confirmar as suspeitas de todos.
 A velha é bruxa, a velha é bruxa é a bruxa da Bom Jesus! Disseram em coro, os dois mosqueteiros do Sítio do Pica-pau amarelo.
Ao ouvir tais ilações, Claudionara subiu o morro na força do ódio e foi dar o papo reto para a suspeita, que já estava quase pisando no cadafalso, sem direito a defesa.
Enquanto marchava como uma vaca braba, pensava alto e disparava impropérios para aquecer a língua e destruir verbalmente sua vizinha.
Acho que nem é preciso dizer que ela chegou mais rápido que a conta de luz. Ao avistar um vestido preto cruzar lentamente pela porta do barracão colorado, imediatamente, nossa sargentona bradou em alto e bom som, chamando a misteriosa mulher para a conversa.
 Dona Amália, venha cá! Vamos trocar uma ideia. É o seguinte: na noite passada, uma borboleta gigantesca invadiu nossa casa e repelimos a miserável à vassourada. Porém, da próxima vez, vamos queimar a bruxa no fogão à lenha. A senhora entendeu bem, dona Amália?
— Sim, sim. Entendi perfeitamente. Disse a pobre velha, com muito medo no olhar e um aperto no peito já arqueado pelas inúmeras luas e os perrengues típicos de uma favela.
no apagar das luzes da corrida, Cláudia me contou que, alguns meses depois deste caloroso encontro, dona Amália desencarnou, devido a um tumor no cérebro. Dizem as más línguas que, a causa mortis foi consequência das pancadas recebidas na cabeça, por um piá que só queria defender sua irmãzinha de uma bruxa malvada.
Finalizando, sobre a menina que já estava quase indo de arrasta, Claudia me informou que Joaninha se recuperou, cresceu como um pé de palmito e hoje é adulta, com sete filhas mulheres. Detalhe: a primogênita, mesmo sem entender a metade da missa, teve que batizar a caçula.

 (Continua...)

Natural de Alvorada, RS, Deodato Júnior é motorista de aplicativo e palestrante. Criativo e versátil, o autor costuma criar diferentes pseudônimos para suas obras. São os casos de Salomaucriado para os livros O Lobisomem do LeprosárioProvérbios de Salomau e Teste Vocacional para Motoristas de Aplicativo e; de Crisóstomo, na obra A Bruxa da Bom Jesus: Histórias que até Zeus duvida.
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Conto publicado no livro A Bruxa da Bom Jesus: Histórias que até Zeus duvida (coletânea de contos, Editora Meia-noite, 2025).
*CLIQUE NAS PALAVRAS COLORIDAS (BIOGRAFIA).

 

A BRUXA DA BOM JESUS (Parte II)

Passados cinco minutos após a meia-noite, ouviu-se um rufar de asas, adentrando no velho casebre de pau a pique.
Ao acender o lampião de querosene, densas ondas de medo, vibraram como uma tunda de guanxuma nos moradores daquele cortiço e suas pupilas dilataram de terror ao vislumbrar uma gigantesca borboleta cinzenta, acavalada sobre o couro cabeludo de Joaninha.
Subitamente, todos pularam no charque, na força do ódio, contra a desengonçada borboleta de Itú, que cometeu o descalabro de invadir uma propriedade privada, logo na Bonja. Respeita a vila, caramba! Um abraço, Marcito. Tamu junto! É noix! Vamo dá-lhe!
Foco, Crisóstomo! O cara nem te conhece, seu rasgador de seda inveterado! Pare de puxar o saco dos famosos! Quem é tu na fila do pão? Cai na real, pô! Volta pra pauta. Afinal, tu é repórter ou marqueteiro?
Gente, mil perdões pela digressão, mas, já disse que a culpa é do Machado. Desde que descobri este recurso, não consigo largar a danada.
Bem, vamos parar com o nariz de cera e entregar a reportagem completa sobre a bruxa da Bom Jesus.
Sem mais, vamos aos fatos. Acabou o merchandising, meu partner, meu brabo, meu Rivotril.
Venha comigo e confira a cena. Nesse momento, João, irmão da vítima, pula com um cabo de vassoura sobre a meliante e sai errando vassouraço até que, acerta em cheio a cinzenta, que se debate, cai no assoalho encerado de vermelho e fica pererecando, em vão tentando se esquivar das demais pauladas e chutes de quatro pessoas que haviam saído da casinha e jogado a chave fora.
Quando todos pensavam ter aniquilado a nefasta criatura, em um último lampejo de motricidade bruxesca, o insólito e asqueroso animal, consegue se evadir do recinto, como um ébrio que perde o caminho de casa, após comer com farinha, aquela água que passarinho não bebe.
Agora, vamos focar na dona Amália. Opa, acho que revelei o nome da suspeita. Sim, naquele momento de justa indignação, enquanto tentava processar o que tinha acabado de acontecer bem diante da encardida chama do bom e velho lampião, a tia da vítima disse para João e Cláudia: amanhã, bem cedo, vocês vão até a casa da dona Amália com a desculpa de que querem comprar gelo e butiás e observem como ela vai reagir. Tenho quase certeza de que ela é a responsável por essa patifaria. Se for essa velha retardada, ela me paga. Vou botar ela bem no lugarzinho que ela merece.
Observe que a espada de Dâmocles pairava sobre a cabeça da anciã. Pois, mesmo possuindo grandes poderes de barganha na vila, nem que ela entrasse em uma geladeira, poderia escapar da bomba que os quatro elementos estavam prestes a lançar em sua egrégora.

 (Continua...)

Natural de Alvorada, RS, Deodato Júnior é motorista de aplicativo e palestrante. Criativo e versátil, o autor costuma criar diferentes pseudônimos para suas obras. São os casos de Salomaucriado para os livros O Lobisomem do LeprosárioProvérbios de Salomau e Teste Vocacional para Motoristas de Aplicativo e; de Crisóstomo, na obra A Bruxa da Bom Jesus: Histórias que até Zeus duvida.
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Conto publicado no livro A Bruxa da Bom Jesus: Histórias que até Zeus duvida (coletânea de contos, Editora Meia-noite, 2025).
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sexta-feira, 27 de junho de 2025

 

A BRUXA DA BOM JESUS (Parte I)

Tudo começou em uma corrida que teve início no Carrefour da Bento Gonçalves e terminou na última casa de um beco estreito, sinuoso e esburacado, após eu ter que baixar os vidros e a passageira avisar aos empreendedores que vendiam folhas de bananeira e faziam a segurança do recinto, que era só o Uber. Afinal, era dia de feira e os clientes estavam muito entusiasmados.
Naquela chuvosa e movimentada manhã de sábado, jamais imaginei que estava prestes a registrar uma das mais impressionantes histórias que já ouvi em toda minha trajetória como motorista parceiro da Uber e 99.
Enquanto dirigia rumo à comunidade, dona Cláudia me contou que, quando tinha aproximadamente dez anos de idade, presenciou uma cena de terror, que até hoje lhe causa arrepios na espinha e faz eriçar os cabelos do alto da cabeça até as plantas dos pés.
Naquela época, sua prima Joana tinha apenas dois aninhos e era magérrima, raquítica, desmilinguida.
Sua tia Janete, mãe da Joaninha, empanturrava a filha de comida e todo tipo de chá, levava a criança no pediatra, na benzedeira e tentava de tudo para fazer a menininha vingar, mas, nada dava resultado.
A cada dia, o estado de Joana ia piorando. Além disso, em seu couro cabeludo, havia pequenos espaços sem cabelo e marcas de picadas ou mordidas.
Depois de muitas tentativas conjuntas para salvar a criança, Claudionara, mãe de Cláudia disparou: Janete, essa menina tá embruxada! Tem alguma bruxa sugando as energias da Joaninha. Esse é o motivo pelo qual, ela não se desenvolve. Mas, deixa comigo, que eu já tenho um plano infalível para resolver esta situação. É o seguinte! Hoje à noite, vamos armar pra cima da bruxa e pegar a miserável.
Quanto a mim, Crisóstomo, só posso dizer que, enquanto ouvia essa história verídica, fiquei mais empolgado que o Chaves ao ganhar um sanduíche de presunto.
Inclusive, de tão impressionado com o depoimento da passageira, me distrai e quase quebrei a homocinética em uma cratera lunar.
Ao voltar de Nárnia, dona Cláudia tentava se recompor do bangornaço que quase quebrou seu pescoço, graças ao maravilhoso asfalto de nossas avenidas.
Pelas barbas do profeta! Em pleno século 21, com tudo o que é investido em ciência e tecnologia, com todos os especialistas, que dão pitaco e metem o bedelho em tudo, será que não existe vida inteligente que se preste para inventar uma manta asfáltica de verdade e não esse lixo horroroso, que não resiste nem três dias consecutivos de chuva e já vira um verdadeiro queijo suíço?
É sério? Tem certeza de que isso vem mesmo do petróleo? Tá de sacanagem! Para mim, se parece mais com cocô de cabrito, colado com cuspe de moribundo. Em suma, uma verdadeira hosta! Eu tô mentindo? Eu tô mentindo, caramba? Macacos me mordam!
Retomando, onde eu parei? Tá, lembrei. Estava na parte em que, a tia da vítima bolou um plano infalível para pegar a bruxa.
Naquela quinta-feira, noite de lua cheia, mesmo em suas camas, ninguém dormiu. A família inteira estava de orelha em pé, esperando a possível chegada da persona non grata que estava exaurindo a energia vital da pobre criança.

 (Continua...)

Natural de Alvorada, RS, Deodato Júnior é motorista de aplicativo e palestrante. Criativo e versátil, o autor costuma criar diferentes pseudônimos para suas obras. São os casos de Salomaucriado para os livros O Lobisomem do LeprosárioProvérbios de Salomau e Teste Vocacional para Motoristas de Aplicativo e; de Crisóstomo, na obra A Bruxa da Bom Jesus: Histórias que até Zeus duvida.
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sexta-feira, 18 de julho de 2025

 

UM ESCRITOR DE MUITAS FACETAS
(Anderson Vicente)

Quem de nós, em algum momento, não ficou impressionado com uma história contada por alguém? Tão impressionado que exclamou algo como: “Uau; podia virar um livro!” Já no século XIX, Hans Christian Andersen e os irmãos Grimm, Jacob e Wilhelm, percebiam a importância desse tipo de história. Do mesmo modo, muitos séculos antes, as histórias de As Mil e Uma Noites migravam das histórias orais para a escrita. O cordel, outro grande e antigo representante da tradição popular, nos revela isso. Difícil não ficarmos maravilhados com os versos dos livretos. Mas hoje, neste tempo de mil e um aplicativos, existem histórias orais? Histórias que possam ser transformadas em literatura?
Digo que, para responder a tais questões, é preciso conhecer o autor. São poucos os que sabem o verdadeiro nome dele. Ele é um escritor com muitas facetas. Ou melhor, com diferentes pseudônimos. Nesta obra, em particular, ele adotou Crisóstomo como pseudônimo e personagem. Crisóstomo narra em primeira pessoa. Vive a história de um motorista de aplicativo. E, assim, o personagem vive o dia a dia do próprio autor. Ficção e realidade compõem um elaborado e interessante mosaico. Opa! Não posso entregar o jogo! Crisóstomo jamais me perdoaria. Mesmo que eu não revele, o título é um alcaguete. Nele, está revelado que, aqui, neste livro há uma bruxa.
A Bruxa da Bom Jesus é um texto empolgante. De tirar o fôlego, de ler em um só fôlego (não de modo literal, é claro). Não dá vontade de parar a leitura. Fica difícil não dar spoiler. Preciso ser forte. Bom, não devia, mas... Preciso dizer que, no livro, existem bônus. Crisóstomo é um contador de histórias e tanto. Ali, no livro, de repente, surgem o Boca Braba, o Dexter e o Salomau vindos da cabeça e, de outras obras, do autor. Todos eles são personagens e pseudônimos. Eis um livro fascinante! Cheio de expressões, de gírias, de frases de autoconhecimento, de provérbios. Tem até teste vocacional para motoristas de aplicativo!
A bruxa está à solta nas páginas. Um Lobisomem circula pelos arredores. Há um isolado leprosário. E, ainda, existe um terrível manual que afasta alguém que queremos em sete dias. Sete é um número misterioso. Cheio de significados. Em um mundo repleto de perigos, por que não blindar um Uber? O risco pode vir, de forma inesperada, de uma amizade. Então, julgo que foi uma grande leitura. E, o autor me surpreendeu, mais uma vez. Criatividade, imaginação, enredo. A experiência de quem presencia fatos e sabe escutar. Adora ouvir as pessoas e as histórias dos passageiros. Um escritor que dá um toque único. Que lapida uma tradição oral. A tradição dos contadores de histórias.  

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Anderson Vicente é escritor, gestor ambiental e formando em História. Reside em Alvorada, RS, onde ajudou a fundar o Clube dos Escritores de Alvorada (CEA). Tem diversas participações em coletâneas de contos, crônicas e poemas. É autor dos livros juvenis Às voltas com a caveira Na trilha dos zumbis.

N.E. Um Escritor de Muitas Facetas é o título do prefácio escrito por Anderson Vicente para o livro, do escritor Deodato JúniorA Bruxa da Bom Jesus: Histórias que até Zeus duvida (coletânea de contos, Editora Meia-noite, 2025).

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